Alunos e professores da rede municipal de educação de Caxias do Sul começaram a semana com transtornos nos setores de merenda e limpeza. Das 83 instituições da cidade, apenas cinco estão com o quadro completo, de acordo com a representante das equipes diretivas das escolas municipais, Angela Honorato. Em algumas escolas, para garantir o lanche das crianças, professores e diretores passaram a manhã na cozinha dos colégios.
A situação desta segunda-feira (11) tem, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Asseio, Conservação, Limpeza Urbana, Ambiental e Áreas Verdes de Caxias do Sul (Sindilimp), Henrique Silva, ligação com o contrato envolvendo a Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca). No mês passado foi divulgado que a autarquia será a responsável pela contratação de trabalhadores para a realização da merenda e da limpeza em todas as escolas municipais. Esses profissionais começariam a trabalhar nessa segunda-feira, mas isso não aconteceu. Contatada nesta manhã, a assessoria da Codeca informou que quem repassaria as informações sobre o problema envolvendo as escolas seria a prefeitura. A secretaria da Educação, também por meio da assessoria de imprensa, disse estar verificando. A reportagem não recebeu retorno até o final da manhã desta segunda-feira.
Angela, representante das equipes diretivas das escolas municipais, ressalta que os próximos dias podem ser ainda mais complicados:
— Mesmo as escolas que dizem estar completas nessa segunda, colocam que isso pode mudar a qualquer momento, já que algumas profissionais relataram que amanhã (terça-feira) não irão para o trabalho.
A situação também é monitorada pelo Sindilimp, sindicato que representa a categoria e acompanha a contratação dos 432 novos profissionais empregados pela Codeca.
— Estamos exigindo que os profissionais contratados pela Codeca comecem hoje (segunda-feira) — afirma Silva, presidente do Sindilimp.
Profissionais sem contrato, escolas sem profissionais
Rosemeri de Macedo Maciel, 38 anos, trabalhava como higienizadora na EMEF Angelina Sassi Comandulli há mais de 11 anos. A escola atende a 720 estudantes, no bairro Santa Fé. A profissional afirma que teve o contrato encerrado ainda na semana passada, mas seguiu trabalhando sob a garantia de que os dias seriam remunerados, e com a expectativa de que esta semana começaria com a mesma função, porém, em contrato firmado com a Codeca:
— Mesmo com a baixa na carteira, na semana passada, nós da limpeza viemos trabalhar para não deixar as crianças sem alimentação — afirmou.
Esta semana começou sem as duas merendeiras e também sem as quatro funcionárias responsáveis pela higienização. Rosemeri conta que ela e as colegas preencheram a ficha cadastral solicitada, mas não obtiveram pontuação para assumir a vaga que já ocupavam, ficando em lista de espera e, consequentemente, desempregadas.
A direção da escola, juntamente das profissionais, estão tentando reverter a situação com a Codeca e Smed, tendo em vista que os alunos da escola estão abalados com a saída das funcionárias, incluindo Rosemeri, com quem convivem desde que ingressaram no Ensino Fundamental.
— Não dizem o porquê de não me chamarem, e agora está bem triste porque moro aqui na frente e não posso vir trabalhar. A gente cria um vínculo muito grande — relatou a ex-funcionária.
Os estudantes da rede municipal têm férias de inverno previstas a partir desta sexta-feira (15), com retorno para 1º de agosto. Além de ficar sem perspectiva de realização da faxina geral, que costumava ocorrer durante o período de afastamento dos estudantes, a direção também está lidando com o quadro incompleto durante os últimos dias letivos do primeiro semestre.
Um e-mail repassado pelo Setor de Alimentação Escolar da Smed na sexta-feira (8) orientou que as escolas que não tivessem merendeira ao longo desta semana informassem ajustes no cardápio da semana, sinalizando o fornecimento de frutas e bolo, e suspendendo a entrega de ovos que estava prevista. A orientação é de que, ao longo da semana, as escolas ofereçam itens que estiverem disponíveis nos estoques e também pede que itens perecíveis sejam higienizados, picados e congelados para consumo depois das férias.
— Estamos conseguindo dar com o que a gente tem e o que consegue fazer. Hoje (segunda-feira) estamos servindo cachorro quente com o molho que sobrou da festa junina do final de semana e, para amanhã, provavelmente serviremos um pão com chimia, que também temos aqui — afirma a diretora da escola, Michelle Crosa.
— Temos crianças bastante carentes, que vêm à escola em busca desta refeição diária. Tive que desviar a função de alguns professores e eu também tive que deixar a parte administrativa da escola para poder garantir a refeição a eles. Também estamos pedindo a colaboração dos alunos para que mantenham as salas limpas para receber os estudantes da tarde — completou.
Na escola do bairro Santa Fé, duas professoras de séries iniciais, além de um funcionário do setor administrativo e uma cuidadora preparavam, na manhã desta segunda-feira, a merenda que foi servida para os estudantes da manhã e que seguiria sendo cardápio aos alunos da tarde.
— A gente está aqui trabalhando firme, mas esperando que venha (as merendeiras) porque a escola precisa continuar funcionando. O pessoal que emprega essas funcionárias não está aqui para perceber a falta que faz, o movimento todo que precisa acontecer na escola para que as crianças sejam atendidas — relatou Arleia Pereira da Fonseca, 50, uma das professoras remanejadas.