Um pouco mais de um mês após a demarcação de espaços para ambulantes em Caxias do Sul, muitos dos 90 vendedores cadastrados seguem nas áreas disponibilizadas, o que não gerou nenhuma apreensão no período. Por outro lado, os vendedores seguem lidando com alguns desafios. Após iniciarem no novo formato no dia 25 de maio, muitos relatam que as vendas diminuíram nos novos locais, tanto na Rua Dr. Montaury, quanto na Marechal Floriano, e que há dificuldade em trabalhar nos dias de chuva. Ao mesmo tempo, ambulantes podem ter abandonado as áreas durante este período.
A reportagem do Pioneiro verificou nesta segunda-feira (27) as duas ruas em que os ambulantes estão posicionados em Caxias do Sul. Nelas, havia espaços vazios. Vendedores relataram que alguns colegas desistiram pela dificuldade nas vendas, enquanto outros deixaram a cidade ou até mesmo, o país.
De acordo com a Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU), ainda não há um levantamento sobre possíveis desistências. A pasta, porém, soube que uma liderança dos ambulantes senegaleses retornou para o país de origem com outros conterrâneos. Esse mesmo líder repassou para a SMU que imigrantes também deixaram Caxias para ir para a França ou para os Estados Unidos.
Dos ambulantes que continuam no Centro, Juarez Soares, 45, relata a dificuldade para vender. Na Marechal Floriano, o comerciante conta que até nos sábados não há uma grande movimentação. Após a mudança, as vendas teriam caído em cerca de 50%.
— O movimento caiu bastante. O maior movimento é ali na Avenida Júlio de Castilhos. Mas, como não temos outra alternativa, temos que aceitar. Não temos outra saída — afirma o vendedor.
Medida será tomada para os dias de chuva
Outra situação relatada pelos ambulantes é a dificuldade de trabalhar nos dias de chuva. Além de não terem proteção suficiente, os vendedores comentam que as tendas são frágeis, não resistindo a um vento um pouco mais forte. Por conta disso, em dias de instabilidade, alguns vendedores decidem não trabalhar, enquanto outros tentam se abrigar embaixo de marquises.
Abib Diallo,36, que está há seis anos trabalhando como ambulante em Caxias, lembra que os vendedores podem perder muitos dias por causa do clima. A reportagem percebeu que muitos trabalhadores não usam mais a banca removível cedida pela prefeitura, optando por material próprio ou até mesmo deixando os produtos em um tapete dentro do local demarcado.
— Semana passada, choveu a semana inteira, ninguém estava aqui. A barraca é muito pequena. Só se eu só colocar as coisas, mas eu vou me molhar. E aí, pensa, quem vai parar para comprar? Ninguém. Quando chove, é dia perdido — lamenta Diallo.
O diretor de Fiscalização da Secretaria do Urbanismo, Rodrigo Lazarotto, afirma que os dias de chuva são uma das preocupações da pasta. Nesta terça (28), uma reunião será realizada para discutir soluções, contando com uma das lideranças dos ambulantes. Atualmente, um grupo de cerca de 12 pessoas solicitou para ficar em marquises, que estão juntas das áreas demarcadas, como na quadra do Hospital Pompéia, na Rua Marechal Floriano, o que foi autorizado. Em outros locais do Centro, não existe esta autorização.
— O correto seria que eles não trabalhassem em dias de chuva, mas este ano está muito complicado. Tem a questão da vulnerabilidade social, se eles não trabalharem uma semana inteira, duas semanas, eles ficam sem sustento. É um problema difícil de resolver, não estamos de olhos fechados. Os comerciantes, que pagam o imposto, têm todo o direito de reclamar. Mas é um problema mundial, difícil de resolver — explica Lazarotto.
Primeiro mês sem apreensões
A expectativa é que a boa relação entre a prefeitura e os ambulantes siga na reunião sobre uma solução para os dias de chuva. No primeiro mês com os espaços demarcados, a SMU não precisou realizar nenhuma apreensão. A fiscalização fez cerca de 30 advertências de vendedores que não estavam no local indicado — algumas delas, inclusive, denunciadas pelos próprios ambulantes.
Um lojista, que preferiu não ser identificado, comentou que ambulantes continuariam a usar espaços não demarcados, se movimentando entre as ruas do Centro — no lugar de ficar em um ponto fixo.
— Nos dias de chuva, talvez isso aconteça. Mas, hoje, não. Hoje percebemos a ocupação dos espaços de forma correta. Não tem ninguém fora. Inclusive, eles mesmos nos fizeram denúncias — responde Lazarotto.