Maria Luisa Grandi de Aguiar, cinco anos, é descrita pela direção da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Irmã Carmelita, em Veranópolis, como uma menina doce e amada por todos. A menina não resistiu aos ferimentos provocados por uma acidente de trânsito no dia 14, em Bento Gonçalves, em que morreram os pais dela e a irmã, de dez meses. A família voltava para casa, em Veranópolis, depois passear em São Leopoldo. A criança passou 14 dias no Hospital Tacchini e morreu no final da noite desse domingo (28).
— Ela frequentava a escola desde bebê. Uma criança muito tranquila. Era uma menina muito especial e que gostava bastante de dormir. A última imagem que tenho dela é de quando acordei ela depois da hora da soneca por volta da 13h30min na sexta-feira antes do acidente. Ela era a nossa dorminhocazinha. Estamos de coração partido —lamenta a diretora da escola, Neri Maria Rigon Kasmirscki, 55.
Ela lembra que foi verificar depois que a profe da menina interfonou para avisar que ela ainda não tinha subido para a sala naquela sexta-feira:
— A profe subiu com os outros e ela não subia. Aí, a profe interfonou para uma de nós ir até a sala ver onde ela estava. A moça da limpeza estava recolhendo os colchõezinhos e ela estava lá, e lembro dela me olhar meio assustadinha afinal era diretora. Eu disse: "calma Maria Luisa", para tranquilizar ela. A Maria Luisa era um doce de criança — conta a diretora lembrando com carinho e emoção da última vez que viu a pequena.
Neri conta que os coleguinhas do Jardim A2, que estudavam com Maria Luisa, ainda não sabem que a coleguinha não resistiu:
— A turma dela sabe do acidente. Eles faziam orações para mandar para a Maria Luisa. Agora, vamos fazer acompanhamento com a psicóloga. Talvez, os pais contem em casa, quando saírem da escola hoje (segunda), mas vamos fazer acompanhamento com profissional para trabalhar essa perda com eles.
Ela lembra ainda que o pai da menina, Natan Fernandes de Aguiar, 29, também foi aluno de outra escola onde ela lecionou:
—Tenho uma ligação de muito tempo com eles. Uma família unida e muito participativa. A mãe dela era muito tranquila e reservada. Participavam de todas as atividades que mandávamos para casa nesse tempo de pandemia. Tem muitos vídeos deles fazendo atividades com elas.
A diretora desabafa:
— É a primeira criança que perdemos. Acho que Deus pensou em levar ela para um lugar melhor do que talvez estar aqui sem os pais, mas é muito doído para quem fica. Não estamos tão evoluídos espiritualmente para entender as situações dessa forma.
Prefeitura emite nota de pesar
O município de Veranópolis emitiu uma nota de pesar:
"A Prefeitura de Veranópolis, por meio da Secretaria Municipal de Educação, Esportes, Lazer e Juventude, em conjunto com a Escola de Educação Infantil Irmã Carmelita, lamentam profundamente o falecimento da aluna Maria Luisa Grandi de Aguiar (5 anos). Diante desta triste notícia e irreparável perda, o Poder Público se solidariza aos familiares, ao grupo escolar e a comunidade do bairro Santo Antônio, prestando condolências neste momento de dor."
Inquérito seguirá para o Judiciário sem indiciamento
O acidente ocorreu no km 206 da BR-470, por volta das 20h, de 14 de novembro, perto do distrito de Tuiuty. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), um Jeep Renegade, com placas de Belo Horizonte (MG), bateu frontalmente contra o Celta, com placas de Veranópolis, onde estava a família da menina. Ainda segundo avaliação da PRF no local, o Renegade transitava no sentido Veranópolis-Bento Gonçalves, quando invadiu a contramão e atingiu o Celta. No ponto, é proibido ultrapassar em ambos os sentidos.
No dia do acidente, morreram o pai da menina, Natan Fernandes de Aguiar, 29 anos, a mãe, Ana Paula Grandi, 31, e a irmã Cecília Grandi de Aguiar, 10 meses. A tia dela, de 25 anos, irmã de Natan, também estava no Celta. Ela segue hospitalizada e já deixou a UTI. Já Aliones Salvador, 45, que dirigia o Renegade estava sozinho no veículo e morreu durante atendimento médico. Ele era natural de Dois Lajeados e havia locado o veículo.
O delegado da 1ª DP de Bento Gonçalves, Renato Nobre Dias, explica que tudo indica que Salvador foi o responsável pelo acidente. No entanto, nesse caso, como ele também perdeu a vida na colisão, o inquérito é encaminhado ao Judiciário sem indiciamento:
— Ele não é indiciado pela culpa, mesmo se comprovada a culpa dele porque com a morte está extinta a punibilidade. Então, a gente encaminha ao Poder Judiciário sem indiciamento, mas lá é feito o arquivamento.