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Protetores independentes e ONGs de Caxias do Sul foram convidadas em duas ocasiões para conhecer o projeto do Parque Municipal da Proteção Animal. Os encontros ocorreram no dia 13 pela manhã e na última terça-feira (19) à noite. Representantes tiveram acesso a informações sobre a proposta da prefeitura em prol dos 550 cães que hoje vivem no Canil Municipal em São Virgílio da 6ª Légua. O projeto em si é aprovado pela maioria dos protetores, mas há questionamentos referentes a proposta e a escolha da área divide opiniões.
Mesmo que ainda não tenha a confirmação do espaço que irá receber o projeto, o secretário do Meio Ambiente, João Osório Martins, admitiu à reportagem que das seis áreas avaliadas, um terreno de 26 hectares em São Virgílio da 2ª Légua, na região de Forqueta, é a que melhor se enquadra na proposta. Contudo, para alguns protetores esse não é o melhor espaço para receber os animais abrigados e os demais que vão precisar ser acolhidos. É justamente essa questão do local que também provoca polêmica entre os moradores da região da 2ª Légua que reclamam, inclusive, de não terem sido ouvidos pelo município. Eles temem desmatamento, poluição e abandono de animais na região e acreditam que irá prejudicar a intenção de fortalecer as comunidades, como rotas turísticas de Caxias.
O coordenador do Departamento de Proteção Animal da Semma, o veterinário Paulo Vinícius Bastiani, esclarece que até o momento a apresentação é focada no projeto:
— Temos uma proposta diferente, voltada para a causa animal, em um espaço adequado. No Parque dos Animais, os cães vão ficar soltos, nenhum cachorro mais ficará preso em casinha com correntes. Eles vão ter canis e vão ficar soltos em baias individuais ou coletivas, de tamanhos variáveis, para abrigar cada um da melhor forma — garante ele.
Entre os 550 cães acolhidos, a maioria são adultos e idosos, de porte médio a grande.
— Hoje, os animais que estão lá estão bem cuidados, mas a estrutura não é adequada para eles. Tem cuidados veterinários e alimentação, mas precisam de um novo espaço. A intenção dos encontros é mostrar que teremos um local mais adequado, menos estresse para os cães e queremos a parceria com as ONGs para que seja bom para os animais, tendo estes uma melhor qualidade de vida.
O projeto conta com um parque aberto para a visitação do público e irá sediar o Departamento de Proteção Animal e um centro clínico ambulatorial para cuidados com os animais. Também terá a área de alojamentos e a parte de preservação ambiental, bem como um memorial, onde a comunidade pode colocar uma placa, que será padronizada por uma empresa que será licitada para o serviço.
ONGs questionam possível área
Representantes da PAC e da Soama aprovam o projeto, mas acreditam que a área não é a mais adequada para receber os animais. Natasha Oselame Valenti lembra que essa é uma promessa que os protetores escutam há mais de 20 anos, e nunca saiu do papel. Ela defende que o canil fique no local em que ele está porque a comunidade já conhece, é de fácil acesso e os moradores do entorno aceitam os animais.
— Esse local precisa ser bem pensado para dar uma estrutura melhor para os animais. Se fala em correntes, mas canil minúsculo também é maus tratos, e é triste, sendo que muitos desses animais vão viver por anos lá. Esse esboço não contempla nem que eles tenham acesso à grama, eles vão viver num canil minúsculo de cimento. Os animais vão ficar escondidos lá no fundo. Alguém avaliou a estrutura para os idosos e para os deficientes? Pensaram se a população irá tão longe para adotar? Ou nos gastos para levar eles para atendimento? — questiona ela.
A presidente da PAC, Cátia Giesch também questiona a escolha do local.
— É um barranco, muito íngreme e com muita mata nativa, e a parte que eles querem colocar os animais é um cantão, bem isolado, e onde eles vão ver só os tratadores. Acredito ainda que uma boa parte do dia não vai pegar sol.
Ela também questiona a questão do abandono:
— Eles querem fazer um projeto turístico para as pessoas. Fora o abandono, porque terá câmeras no parque, mas e o entorno? O que me preocupa são as estradas, eles vão ficar desprovidos de água e alimentação e tem muito trânsito de caminhões e de carros. Tem que avaliar muitas coisas para essa mudança de área. Queremos que eles mudem as condições, mas precisa ser bem pensado — aponta Cátia.
Já Anelise Branchi, que integra o Brechó ChiCão, ressalta que ainda é cedo para avaliar a área ou o projeto.
— É precoce dar opinião sem sentarmos e analisar melhor o assunto e o projeto em si. A apresentação foi o primeiro passo. Entendemos que existe urgência em melhorar as condições precárias e insalubres onde estão os animais hoje. Essas melhorias devem ser não somente em espaço físico, mas com intensificação de ações preventivas para controle de novas crias e posse responsável. As ONGs representam a sociedade e os interesses dos animais devendo fazer parte deste processo de construção.
Protetoras aprovam projeto
Já demais protetoras aprovam não apenas a proposta, mas o terreno na região de Forqueta. A presidente da Vida Tatiana Furlan acredita que se for colocado em prática como prevê o projeto os animais vão ter melhor qualidade de vida.
— Ganhamos um lugar melhor para os cães e gatos, além de que poderão serem soltos os animais silvestres e terá área para animais de grande porte que não tem no local atual. De quebra o município ganha uma área de preservação permanente além de um parque pare levarmos nossos pets.
Outra protetora independente que prefere não se identificar avalia que o terreno é mais adequado porque fica perto da cidade e a estrada é afastada.
— A comunidade lá vê com outros olhos, mas imagino que depois de pronto será melhor para a região. Eles estão imaginando que os dejetos serão largados na terra, rios e vertentes, e isso é proibido. Existe lei. Terá uma estrutura boa para lavar cada baia, e os dejetos vão ser recolhidos, os sólidos para o aterro e os líquidos para estação de tratamento.
Para ela, na nova área eles vão ter mais chance de ser adotados:
— Vai ser mais fácil deles conseguirem ser adotados porque o pessoal irá visitar e vão poder ver esses animais. Outra coisa muito importante que sempre pedimos: nenhum vai estar em correntes, vão estar em baias, e os brabos vão ficar sozinhos. A estrutura será boa, e terá pessoas 24 horas por dia, com veterinários.
Já Lisandra Vebber, que é voluntária da ONG Engenharia Solidária, avalia a questão como protetora:
— O projeto apresentado do Parque de Proteção Animal é muito bom, priorizando o bem estar dos animais, em um local amplo e seguro. Se a execução e implementação desse projeto ocorrer conforme apresentado, juntamente com campanhas de adoção e castração de animais abandonados, Caxias do Sul estará dando um passo muito grande com relação à proteção animal.