Pelo menos duas ações marcam, em Caxias do Sul, o Dia Mundial Sem Carro, comemorado nesta quarta-feira (22). A data, criada em 1997 por ativistas franceses busca incentivar o uso de meios de transporte alternativos e, com isso, reduzir problemas como o aumento da poluição, o gasto com matérias-primas e o trânsito irracional.
No Brasil, a data começou a ser lembrada em 2001 e envolveu 11 cidades, sendo três delas do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Caxias, e Pelotas. O objetivo é demonstrar que é possível deslocar pela cidade sem um carro e mostrar que existem alternativas de transporte menos danosas ao meio ambiente como andar a pé, de bicicleta ou usando o transporte coletivo.
Como uma das pioneiras do movimento no país, Caxias ainda realiza ações para marcar o dia. Durante essa quarta, os alunos do Colégio São José, orientados pela professora Lorita de Souza, realizam uma campanha de conscientização em frente à escola. O grupo de alunos Amor em Movimento, juntamente com a docente, entregam folhetos com dicas de trânsito e alertas aos motoristas.
Na semana passada, os alunos também participaram de uma palestra com a Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade e aprenderam mais sobre a convivência no trânsito. Lorita reforça a importância de ações de conscientização e se emociona ao lembrar de Lucas Pelissari Jordani, jovem de 16 anos que também participava do grupo e que foi vítima de um acidente no dia 25 de junho.
— Queremos espalhar civilidade e dar dicas de como conviver melhor no trânsito. Foi num piscar de olhos que perdemos o Lucas. Ainda estamos muito tristes e queremos que todos tenham consciência dos cuidados que devem ter — emociona-se a professora.
O estudante do 1º ano do Ensino Médio, Vinicius Pinheiro, 16 anos, aponta que embora muitos não deem atenção a ações como essas, militar pela conscientização é importante:
— Esse tipo de atitude, por mais que poucas pessoas se importem, é muito importante para a sociedade como um todo. É um trabalho difícil e complicado, mas é essencial. É pelas pessoas que se importam e pela segurança de todos, então vale a pena.
Além disso, Vinicius comenta que se todas as cidades implantassem ações como essas, o trânsito seria diferente. O estudante aponta que não é difícil encontrar motoristas irresponsáveis que colocam a vida de outras em perigo. Outra estudante que participa da ação, Helena Bastos, de 15 anos, avalia a recepção dos motoristas ao projeto:
— Foi bem legal conversar com as pessoas porque a maioria foi compreensiva. Algumas não aceitaram, por outro lado, algumas, depois de ouvirem nosso discurso, acabaram aceitando — aponta Helena.
Para a professora, o fato de os alunos terem participado da ação de forma voluntária e com muita disposição mostra que os jovens estão dispostos a tornar a sociedade um lugar melhor.
— Quando eles abraçam uma causa, eles abraçam de verdade, eles levam a sério. Eles vestem a camisa. Por isso, temos que envolver os jovens e dar mais confiança para eles acreditarem em um mundo melhor — comenta Lorita.
Também nesta quarta-feira, outro grupo se mobiliza para marcar o Dia Mundial sem Carro. A União dos Ciclistas Caxienses promove um passeio urbano pelas ruas centrais de Caxias, às 19h30min. A participação no evento é livre e a saída será em frente à prefeitura.
O grupo vai percorrer cerca de sete quilômetros e é obrigatório o uso de máscara durante o percurso. De acordo com o cicloativista André Busnello Andreoli, o objetivo é estimular uma reflexão sobre o uso do automóvel.
— Incentivar para que, pelo menos por um dia, as pessoas deixem o carro em casa e façam um trajeto dentro da cidade de bicicleta. Usar a bicicleta sempre são poucas pessoas que fazem, mas qualquer um pode incluir um trajeto pequeno no seu dia a dia – reforça ele.
Para Andreolli, a bicicleta já faz parte do trânsito em Caxias. Existe uma demanda grande que poderia ser maior se houvesse uma infraestrutura pública adequada como as ciclovias e estacionamentos. O cicloativista aponta que é o dilema no qual uma demanda leva a outra: sem infraestrutura adequada, os ciclistas são desestimulados e, sem muitos ciclistas a administração não investe apropriadamente na infraestrutura.
Esse cenário pode mudar depois da pandemia, segundo dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), o ano de 2020 trouxe 50% de aumento nas vendas em comparação ao ano anterior. No primeiro semestre de 2021, não foi diferente. O Brasil teve expansão média de 34,17% nas vendas de bicicletas em relação ao mesmo período de 2020. Para Andreolli, além da paixão pelo esporte, o uso de bicicletas tem sido incentivado por motivos financeiros.
— É visual isso, quem anda de bicicleta percebe o aumento. Hoje em dia, para comprar um carro é muito caro, para abastecer, então... Isso vai incentivar que as pessoas entrem na causa — analisa Andreolli.
Outra mudança destacada pelo cicloativista está relacionada ao comportamento dos motoristas. Ele aponta que o respeito pelos ciclistas tem melhorado.
— Em termos de educação no trânsito, estamos em evolução. Antigamente era bem mais complexo a convivência no trânsito. Mas, infelizmente, nós ainda somos o elo fraco. Mesmo em pequenos acidentes, quem sai mais macucado são os ciclistas —comenta Andreolli.