As negociações para que o Parque Estadual do Caracol seja concedido à iniciativa privada avançam em Canela. O modelo da proposta a ser colocada em prática ainda é estudado, mas é considerado avançado segundo o secretário de Turismo do município, Ângelo Sanches. Na última semana, uma comitiva representando o governo do Estado visitou o local. Reuniões no gabinete do prefeito Constantino Orsolin (MDB) sobre o assunto têm ocorrido de forma mais frequente. Conforme a prefeitura, o modelo prevê investimentos mínimos de R$ 74 milhões nos seis primeiros anos de gestão da empresa que vencer a licitação. A tendência é de que o período de concessão seja pelo prazo de 25 anos.
Os representantes do governo do Estado já repassaram ao município uma projeção de retorno anual médio, baseada no Imposto Sobre Serviços (ISS) que ficaria em Canela — os valores recolhidos a título de ISS sempre são destinados aos cofres públicos municipais. O montante subiria de R$ 152.104,25 para R$ 459.172,40, o que representa um aumento de cerca de 200%. O esboço prevê ainda 2.030 empregos indiretos e 62 vagas de trabalho diretas com a administração da iniciativa privada, além de apoio ao visitante e novos empreendimentos na linha do ecoturismo.
— O processo está adiantado e a próxima etapa será a audiência pública, antes do edital de concessão. O Estado é quem irá marcar os encontros. A prefeitura é coadjuvante nisto, apesar de eles (governo do Estado) serem transparentes. Pelo andar da carruagem, será concluído até o final deste ano — diz Sanches.
A concessão do Parque do Caracol é um sinalizador que ocorre há pelo menos dois anos. Conforme Sanches, desde que o Estado passou a ser o administrador do principal atrativo turístico de Canela, a prefeitura ficou impedida de promover melhorias. O Estado tomou a iniciativa depois que foi constatada uma dívida milionária no município. A situação foi apurada em 2015. Por conta disso, melhorias propostas pela prefeitura não avançaram.
— Em 2017 houve um pedido de reforma dos banheiros, mas foi aprovado no final do ano passado, quando já não podíamos mais fazer licitação por causa da covid-19. Agora não faremos mais a reforma, já que irão conceder à iniciativa privada. Seria jogar dinheiro público fora. Manteremos organizado, limpo e funcional, mas não faremos obra alguma. A iniciativa privada deve fazer, não iremos queimar dinheiro público — afirma.
Sanches destaca que a ideia de concessão não foi aceita inicialmente, mas a necessidade de estruturar o parque falou mais alto.
— Em princípio, fomos contrários porque se tivessem nos dado a liberdade para administrar, talvez hoje não precisasse ser concedido. Como é uma decisão do governador, não podemos interferir. Teremos que ser a favor porque queremos que o parque evolua. Outros em volta estão se profissionalizando e pertencem à iniciativa privada. Sabemos que o Caracol está ficando ultrapassado — ressalta.
Além dos banheiros, há a escadaria que acessa a Cascata do Caracol, ponto alto dos passeios do visitante, que está interditada desde 2016. A estrutura nunca passou por reformas. De acordo com Sanches, a prefeitura gastou uma fortuna para contratar projetos e orçamentos, mas nada foi aprovado pelo Estado. O município já chegou a sugerir a construção de um elevador panorâmico.
Preços dos ingressos deverão mais que dobrar
Um das consequências após a iniciativa privada assumir será o valor pago pelo público para usufruir do parque. Os ingressos, que atualmente custam R$ 20, deverão subir para R$ 50, de acordo com Sanches. Mesmo assim, a gratuidade de acesso para moradores de Canela terá que ser mantida.
— Uma coisa é certa: somos firmes em relação à identidade do canelense, que não poderá deixar de ter a prioridade em entrar no parque (hoje, o morador não paga ingresso). Também deixamos claro que as características naturais não poderão se perder — conclui.
Em Canela, a Floresta Nacional também passa por trâmites para concessão, que será por 30 anos e investimento de R$ 93 milhões.