A Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves, completa nove décadas de vindima neste domingo (14). Em uma trajetória que se mistura à tradição do cultivo de uva e da vinificação na Serra - herança da Imigração Italiana - a marca celebra seus 90 anos de atividade em plena forma: em 2020 registrou crescimento de 26% e faturamento histórico de R$ 701 milhões na venda de 81 milhões de litros de vinhos, espumantes, sucos e coolers, com rótulos que têm sido destaque no mercado nacional e internacional.
O sucesso do negócio, que é baseado na agricultura familiar, começa nas propriedades das 1,1 mil famílias associadas, de 11 municípios da região. Uma delas é a família De Toni, de Pinto Bandeira, cooperada há quatro gerações.
A expectativa é de que a safra 2021 destine mais de 70 milhões de quilos de uva às cantinas da Aurora, algo que representa 10% a 15% da estimativa estadual. Deste total, cerca de 800 mil quilos deverão ser colhidos na propriedade De Toni, que há mais de uma década tem sido responsável pela maior produção da cooperativa. As 11 variedades fornecidas pela família são produzidas em 24 hectares na Linha Brasil, localidade onde Pedro De Toni fixou residência quando chegou da Itália.
O cultivo de uva, associado a outras atividades agrícolas, assim como a vinificação, eram atividades comuns às famílias estabelecidas na região no final do século 19, dando origem a cooperativas como a Aurora, fundada em 1931 por 16 famílias de produtores. Levando adiante a atividade familiar, Giglio Estevão e Natal De Toni, filho e neto de Pedro, respectivamente, tornaram-se associados, na década de 1970. Seu Natal completa 80 anos em dezembro de 2021 e continua trabalhando no campo.
— Eu tinha uns 30 anos quando a gente se associou. Antes, a gente entregava para uma vinícola pequena daqui, mas ela começou a ir mal, então decidimos entrar na Aurora — lembra o morador, que tinha cerca de 30 anos e seguiu um movimento que incluiu, também, vizinhos de Pinto Bandeira, comunidade que, à época, pertencia a Bento Gonçalves - emancipando-se somente em 2013.
Nos anos 1990, a propriedade foi expandida por iniciativa de Ivo De Toni, 51, filho de seu Natal, neto de Giglio Estevão.
— Houve um período de crise em que muitos acabaram deixando a cooperativa, mas nós decidimos permanecer e investir ainda mais na produção. Agora está indo cada vez melhor, com uma maior safra todos os anos — observa Ivo.
Aos 23 anos de idade - e também cooperado desde os 16 - o filho, Evandro, está prestes a se formar engenheiro civil, mas diz que hoje enxerga o trabalho no campo, em forma de cooperativa, como um caminho promissor a ser trilhado. Ele cita a importância de toda a assistência técnica intermediada pela Aurora, que também mantém um relacionamento de transparência com os associados, investindo os lucros em melhorias.
— É muito satisfatório seguir a atividade da família, ver que os frutos retirados com tanto amor aqui da propriedade geram oportunidades de trabalho e viram produtos consumidos por pessoas de vários lugares do mundo. Orgulho é a palavra que define — conclui Evandro.
As mulheres da família De Toni também são associadas à Vinícola Aurora. Teresinha, mulher de Natal; Diva, mulher de Ivo; e Daiane, irmã de Evandro; trabalham na colheita da uva e preparam as refeições para os funcionários fixos, assim como para a equipe de temporários contratada para a safra.
Do cultivo à mesa do consumidor
A elaboração dos produtos Aurora é feita a partir de 60 variedades de uva produzidas em um total de 2,8 mil hectares, localizados em um raio de até 50 quilômetros de sua unidade industrial. Durante a vindima, as três unidades da empresa chegam a receber 2,5 a 3 milhões de quilos da fruta por dia, provenientes de Bento Gonçalves, Cotiporã, Farroupilha, Garibaldi, Guaporé, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, Santa Tereza, São Valentim do Sul, Veranópolis e Vila Flores.
Além de se destacar no mercado brasileiro, com 40% do total de vinhos finos comercializados em 2020, a marca exportou 868,2 mil litros de vinhos, espumantes, sucos de uva e coolers, o que significa uma alta de 47,6% em relação a 2019. As bebidas foram vendidas para 18 países. A China foi o principal destino, seguida por Holanda, Paraguai, Haiti, Estados Unidos e Japão.
— Nos anos 2000 a empresa começou uma reconstrução em todos os setores, com investimentos desde a produção, nas propriedades, passando pelas cantinas, e também pelo canal de venda, algo que domina muito bem atualmente. São produtos para todos os bolsos, de R$ 5 a R$ 120. Nosso objetivo é sempre entregar o melhor e isso depende de boa matéria prima, infraestrutura e de capital humano — comenta Flavio Zilio, 57, enólogo que atua há 27 anos na Aurora.
Com uma equipe de 500 funcionários e uma média de cinco lançamentos por ano, a Aurora totaliza hoje 731 medalhas em concursos nacionais e internacionais chancelados pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), sendo atualmente a vinícola mais premiada do Brasil.
Vinho comemorativo e celebração online
Ainda em fevereiro, a Vinícola Aurora pretende lançar um vinho comemorativo aos seus 90 anos de trajetória. De acordo com Zilio, trata-se de um assemblage vinificado com quatro variedades de uvas: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Tannat.
Em função da pandemia, o evento de aniversário, que em edições anteriores costumava reunir todos os associados em uma grande festa, foi substituído por uma celebração religiosa que ocorre no domingo, dia da inauguração da Aurora, na Igreja Santo Antônio, de Bento Gonçalves.
A cerimônia terá participação presencial restrita a convidados, mas contará com transmissão online ao vivo, a partir das 10h, pela página da Aurora no Facebook, assim como pelo Instagram, Facebook e YouTube da Paróquia Santo Antônio.