A dúvida sobre estar contaminado ou não e, mais do que isso, de que forma proceder para saber, virou rotina em meio à pandemia. Ainda mais no período de final de ano, quando o aumento da procura por exames que detectam a covid-19 chegou a 70% em um laboratório de Caxias do Sul. Desde novembro, o chamado teste antígeno começou a surgir de forma mais intensa. Até então, os testes rápidos - por meio de coleta de sangue, e o PCR eram os mais utilizados. Agora, o PCR ganhou um aliado: o antígeno, uma certa novidade que tomou conta do mercado.
Tanto um quanto o outro utilizam os conhecidos "cotonetes", que entram pelas narinas, mas o antígeno acessa a proteína do vírus enquanto o PCR busca material genético, caracterizando-o como padrão ouro. Por conta disso, é unânime entre os especialistas da área a superioridade que o PCR apresenta para detectar o vírus. Mesmo assim, o antígeno é indicado para casos em que o paciente já possui algum sintoma. Segundo a médica infectologista Giorgia Torresini, ele é muito utilizado nesses casos.
— O antígeno tem uma sensibilidade inferior, mas é de maior facilidade. É um exame que pode ser levado a vários locais, não precisa de algo muito específico. É um exame que tem seu valor para quando o paciente está sintomático. Quando há uma baixa carga viral, o antígeno perde a sensibilidade — explica.
O médico patologista Guilherme Portela Coelho entende que o formato antígeno pode e deve ser acessado por pacientes que precisam pagar cerca de R$ 50 a menos ou que vivem em locais com menor estrutura de saúde. A facilidade do método faz com que empresas tenham até lançado testes no formato drive-thru.
— Para se ter uma ideia, tendo poucas partículas virais já há um resultado positivo (o PCR), diferente dos que são baseados na proteína (antígeno), que precisam de maior quantidade para detectar. Do ponto de vista de saúde pública, o PCR ainda é solução — afirma.
Questionado sobre a intensificação com que a oferta de antígeno surgiu nos últimos meses, Coelho considera:
— Acho que é basicamente uma questão comercial. Já existia, mas houve uma oportunidade de se gerar em escala maior e também de suprir regiões que são mais distantes ou sem recursos financeiros. Para milhares de testes, é possível que o custo faça a diferença — completa.
Os testes rápidos, que eram feitos em farmácias no início da pandemia, tendem a ser abandonados gradativamente e não devem ser confundidos com os exames de sangue que concluem se o paciente já foi contagiado por conta do anticorpo relacionado, segundo a médica infectologista do controle de infecção municipal em Caxias, Anelise Kirsch.
— O teste rápido que víamos lá no início é ruim, tem sensibilidade e especificidade baixas. Servia para termos uma ideia. Hoje, o teste de sangue é o que tem uma especificidade maior para identificar anticorpos, mas serve para inquérito epidemiológico e não diagnóstico — diz.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, os testes sorológicos - por coleta de sangue -, tanto de farmácia quanto de laboratório, não são recomendados para diagnóstico precoce da doença e, sim, para estudos epidemiológicos. A Sociedade orienta, ainda, o antígeno para a primeira semana de sintomas e afirma que para pacientes assintomáticos o teste negativo deste tipo não exclui o diagnóstico. Conforme Anelise, o teste antígeno pode, então, ser utilizado junto ao PCR já que um pode dar o resultado mais provável rapidamente enquanto o outro tratará de confirmar, ou não, a informação.
Testes não são motivo para liberação de confraternizações, opina médica
No mês de dezembro, um laboratório da cidade apresentou alta de 71% na procura por exames de coronavírus refletindo o cenário de alta da demanda o fim do ano. A intenção da maioria das pessoas seria se certificar que estava imune para poder participar de eventos sociais no Natal e no Ano-Novo.
— Não é um método seguro. Se a pessoa tiver uma carga viral baixa e assintomática, o resultado não é 100% porque a pessoa pode ainda estar iniciando um processo que o PCR ainda não pegou. Usar testes para poder sair não é correto. Em 24 ou 48 horas, as coisas mudam — diz Giorgia Torresini.