Pelo menos 91.369 caxienses estão no público-alvo da vacinação da covid-19. O número é do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Data SUS), sistema do Ministério da Saúde que reúne dados de controle vacinal em todo o país. Com base nas informações repassadas pelo município sobre a campanha contra a gripe, em 2020, constam no Data SUS, como população a ser imunizada, 12.185 profissionais da saúde, 48.154 idosos acima de 60 anos (não há no sistema outra divisão entre as faixas etárias), 26.991 pessoas com comorbidades, 3.451 professores do ensino básico ao superior, 299 funcionários do sistema prisional e 289 policiais civis, militares, bombeiros e membros ativos das Forças Armadas. Nenhum indígena foi contabilizado na cidade.
Esses foram os públicos prioritários anunciados pelo Plano Nacional de Vacinação da Covid-19 do governo federal. Pelos dados, se tem uma ideia da quantidade mínima de pessoas que devem ser imunizadas em Caxias em um primeiro momento, cerca de 18% da população, que gira em torno de 517 mil habitantes. É preciso ressaltar que o total de vacinados em alguns dos públicos no ano passado foi maior do que o projetado na cidade. Alguns grupos excederam a meta, o que pode elevar também o montante nessa campanha, prevista para iniciar ainda em janeiro.
Acostumada a imunizar os outros durante o decorrer do ano, a técnica de enfermagem Sônia Cristóvão, agora, aguarda a vez dela de se vacinar. Em meados de março, ela relatou à reportagem o receio em se contaminar e transmitir o vírus à família. Disse que o marido, hipertenso, e os dois filhos disparavam um olhar quando ela chegava em casa como ela fosse o próprio coronavírus entrando pela porta.
Passados quase 10 meses em uma atividade considerada das mais arriscadas quanto ao contágio, ela vive em meio a uma grande expectativa. Os profissionais da saúde, que estiveram na linha de frente no cuidado aos pacientes, serão o primeiro grupo a receber as doses da vacina contra o coronavírus.
– Como os meus filhos tiveram aulas online todo ano, não se expuseram ao vírus. E eu, como saio para trabalhar na área da saúde, sempre acabo tendo medo de trazer o vírus com maior facilidade. No entanto, graças aos cuidados e precauções, ninguém aqui em casa se contaminou. Por isso, claro, não vejo a hora da vacina. Não quero correr o risco de pegar. Sei e tenho medo das sequelas deixadas pela covid-19. Mesmo que muitas pessoas sintam pouco os sintomas, ainda sabe-se muito pouco deste vírus –ponderou Sônia.
Além de se proteger e, de certa forma, a família, ela diz que ficará mais tranquila para trabalhar:
– As pessoas têm que acreditar na vacina. Não vamos poder deixar de fazer as coisas, mas vamos ter cautela e acreditar que tudo vai passar!
Idosos têm consequências mais graves
Os idosos são o público mais afetado pelas consequências graves da doença. Dos 341 óbitos decorrentes da covid-19 em Caxias até a tarde de ontem, 291 (70,6%) estavam na faixa acima dos 60 anos. Por isso, eles estarão ao lado dos profissionais de saúde no primeiro grupo prioritário.
– Que vou fazer, vou. É a única saída. Se não melhorar, mata de uma vez – disse, em tom de brincadeira, o aposentado Setembrino dos Santos, 68 anos.
Ele conta que receio tem de contrair o vírus:
– Eu já não me misturo muito. Amontoação não dá. Fui para a praia, lá ninguém usava máscara, não sabem o dia de amanhã – alertou o idoso.
Antônio Cezar Andrade, 67, também afirmou que vai se vacinar. Ele trabalha em pomares de maçã e pêssego e disse que, até agora, não teve nenhum sintoma da doença e nem quer ter.
– Do jeito que as pessoas estão morrendo, se é para melhorar, acho que é uma boa – resumiu Andrade.
As pessoas que têm doenças crônicas, de tratamento continuado, quando contaminadas, também apresentam quadro mais grave da doença. Por isso, elas estão no terceiro grupo de prioridade na vacinação. João Jair da Silva, 49, tem câncer de pulmão e faz tratamento há quatro anos. Ele espera ansioso pela vacina.
– A que vir vou aceitar. Tranquilidade não vou sentir, só pretendo viver mais – disse, sorrindo com os olhos, já que a máscara encobria a maior parte do rosto.
Professores e agentes de segurança estão no quarto grupo
Os professores, do nível básico ao superior, estão no quarto grupo previsto para receber a imunização no país. A professora da rede municipal Sabrina Alano Martini, acredita na necessidade de vacinação desse público pelo contato diário que terão com as crianças e entre os profissionais da escola. Ela dá aula de matemática para alunos do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental da Escola Ilda Barazetti, no bairro Santa Fé.
– Um professor doente, daqui a pouco, contamina outros e, aí, essa falta de pessoal inviabiliza o funcionamento da escola. Então, é bem importante sim. Quanto à vacinação, estou bem tranquila. Acredito na vacina. Acredito na ciência. É imprescindível para a volta às aulas essa vacinação dos professores. E assim que tiver a minha, vou fazer para trabalhar mais tranquila – disse a docente.
No mesmo grupo de vacinação dos professores estão os agentes da segurança pública. O sargento Maicon Luis Segala, do 4º Batalhão de Polícia de Choque de Caxias, atua na linha de frente em ações de repressão ao tráfico e outras operações contra o crime, em contato com muitas pessoas. Ele e os colegas da Brigada Militar, assim como policiais civis, rodoviários estaduais e federais, guardas municipais, bombeiros e agentes penitenciários, estarão entre os que terão preferência na imunização.
– Acredito que a vacina, se aprovada pelos órgãos competentes, trará um alívio mundial. Estamos todos ansiosos e eu, particularmente, aceito ser vacinado, já que não escolho onde, quando e com quem irei trabalhar no dia a dia – declarou o sargento.
Os grupos
De acordo com o Plano Nacional de Vacinação, a imunização seguirá a seguinte ordem:
:: Grupo 1: trabalhadores da saúde, pessoas a partir de 75 anos e indígenas com idade acima de 18 anos.
:: Grupo 2: pessoas de 60 a 74 anos.
:: Grupo 3: pessoas acima dos 18 anos que tenham as seguintes comorbidades: hipertensão de difícil controle, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, cardiovascular e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave.
:: Grupo 4: professores do nível básico ao superior, forças de segurança e salvamento e funcionários do sistema prisional.
:: Outros grupos foram classificados como prioritários, mas ainda não foi definido em que fase de vacinação entrarão, já que isso depende da aprovação e disponibilidade de vacinas. São eles: povos e comunidades tradicionais ribeirinhas e quilombolas, pessoas com deficiência permanente severa e população acima de 18 anos privada de liberdade.