A previsão dos especialistas da área da saúde é de que a situação se mantenha com alto número de casos e alta taxa de ocupação de leitos por pacientes de covid-19 em função de Natal e Ano Novo. Com isso, os hospitais de Caxias do Sul manterão capacidade plena de atendimento. A maior preocupação das instituições é com o aumento de casos da doença e o cansaço das equipes.
A recomendação do governo do Estado é para que os hospitais mantenham 100% de pessoal mesmo nesse período de final de ano, quando tradicionalmente, há alternância entre as equipes e férias de servidores. O Pioneiro conversou com profissionais da área da saúde que atuam diretamente no atendimento a pacientes com covid-19 de cinco, dos seis hospitais do município. Eles foram unânimes em dizer que este é o pior momento desde o início da pandemia. Alguns já deixaram de receber pacientes por falta de vaga.
O Hospital Pompéia está fazendo treinamento constante entre profissionais de outros setores, que não covid, para poder realocar servidores em caso de necessidade e, assim, manter pleno atendimento da demanda.
– Se for necessário, essas pessoas serão colocadas (no setor covid) no intuito de atender as demandas da população. Isso já vínhamos pensando, mas desde o início da pandemia – pondera Thiago Passarin, diretor técnico do Pompéia.
Na semana passada, o hospital atingiu a capacidade máxima na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e estava com a enfermaria praticamente lotada de pacientes da doença. Na última quarta-feira, a ocupação dos leitos na UTI era de 80%.
– Não se tem expectativa do que vai acontecer, só vemos essa curva em ascendência de novo – lamentou o médico, se referindo às aglomerações, que levam cada vez mais pessoas aos hospitais.
O médico intensivista e coordenador da UTI do Hospital Virvi Ramos, Roger Weingartner, diz que a instituição está organizada e preparada para seguir para além do final do ano.
– Independente do cansaço, estamos todos atendendo. Ninguém vai abandonar o barco. Mas tem o limite da estrutura que cada hospital monta. Ninguém esperava que durasse tanto tempo, nós também não. Estão todos muito cansados – disse Weingartner.
A UTI do Virvi Ramos estava com 81% de ocupação na tarde da última quarta-feira.
O intensivista faz um pedido voltado aos jovens, já que esse é o público que mais desrespeita as regras do distanciamento. Eles acabam transmitindo o vírus aos parentes com mais idade, que têm evolução pior da doença e vão parar nas UTIs. O perfil de paciente em UTI é homem, idoso, com comorbidades, como diabetes, hipertensão e obesidade, que exigem longa permanência no hospital.
– Provavelmente, todos nós conhecemos alguém assim. São essas pessoas que tem ficado em estado grave e internando na UTI. E não são eles que estão nas festas, nas aglomerações que vemos acontecendo. Então, isso revolta muito, porque as pessoas não conseguem ter empatia, se colocar no lugar do outro – ponderou Weingartner.
Município não prevê abertura de novos leitos agora
De abril para novembro, Caxias passou de 100 para 158 leitos em UTI, considerando os que atendem pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os particulares. De lá para cá, a taxa média de ocupação só cresceu. Era de 63,67% em abril e chegou ao mais alto índice nesta quinta-feira, com 91%, conforme dados divulgados em boletim pela prefeitura. A situação é pior na rede privada, onde o índice, era de 99%. Já na pública, o percentual de 83% é considerado semelhante ao dos últimos meses pelo secretário de Saúde, Jorge Olavo Hahn Castro:
– Agora, no momento, não estamos pensando em abrir mais leitos. Essa alta taxa de ocupação é no privado, que não temos ingerência.
Questionado sobre a probabilidade de, diante do esgotamento de vagas particulares, os pacientes migrarem para o sistema público, o secretário falou que o município estará "preparado para dar assistência".
– Vamos acompanhar a evolução. Esperamos que, com a bandeira vermelha e restrição de movimentação, isso repercuta em diminuição do contágio. É com isso que estamos contando. Daqui a um tempo vamos saber se diminuiu o contágio, as internações e os óbitos. Se for necessário, poderemos aumentar o número de leitos – declarou o gestor municipal.
O secretário também considera que a partir da segunda quinzena de janeiro haja um agravamento do cenário em função das festas de final de ano.
Sobre o hospital de campanha, que se destina a atender pacientes de enfermaria, o número de leitos foi ampliado em nove vagas no mês passado, conforme Castro, que considera a situação administrada.
Situação é crítica e preocupante, diz diretor de hospital
O diretor do Hospital da Unimed, Vinícius Lain, diz que ocorreu um aumento de casos de covid-19 a partir da segunda quinzena de novembro e chegou a um pico de ocupação hospitalar no final do mês. Com isso, o hospital se reorganizou e ampliou o plano de contingência para os pacientes de covid-19. A instituição chegou a fechar o centro cirúrgico para eletivas no dia 24 de novembro e reabriu em 1º de dezembro, quando se percebia queda de casos. Porém, nos últimos dias houve novo aumento de casos. Nesta quinta, a UTI estava com 100% de lotação.
Segundo Lain, ainda existem leitos de enfermaria, mas ele caracterizou a situação como "crítica" e "muito preocupante". O índice de casos positivos está em 40%. Ou seja, de cada 10 pessoas que fazem o exame RT-PCR no hospital, quatro estão infectadas. Nos últimos 15 dias, foram 1.010 positivos, cerca de 67 por dia. Na avaliação do médico, é "a maior ocupação de UTI covid desde o início da pandemia".
– Não parece ser uma segunda onda, parece ser um pico, que veio do relaxamento social, muito às custas de um feriado seguido de outro. Projetamos que, em janeiro, depois de Natal e Ano Novo, seja pior do que agora – projeta Lain.
O hospital tem 35 leitos de UTI e está contratando mais funcionários para expandir. Além disso, voltou a suspender as cirurgias eletivas que demandam UTI ou está transferindo para hospitais que possam realizá-las. Conforme o diretor, a situação é avaliada dia a dia.
Hospitais vivem pior momento desde início da pandemia
Todos os profissionais da saúde consultados externaram a exaustão das equipes. Se por um lado, os colaboradores atingiram elevado grau de treinamento e têm os protocolos estabelecidos já incorporados à rotina, os pacientes em terapia intensiva requerem uma série de cuidados que são muito desgastantes. Com o aumento desse tipo de paciente nas últimas duas semanas, consequentemente aumentou também o trabalho e o cansaço.
Segundo a infectologista Viviane Buffon, do Hospital Geral (HG), a instituição está mantendo uma alta taxa de ocupação e elevado número de casos, o que impacta na necessidade de ampliação de leitos para atendimentos de pacientes com manifestações moderadas e graves.
– Se prospecta a manutenção ou aumento de casos em dezembro. Obviamente, a saúde dos profissionais deve ser considerada, com maneiras de aliviar a carga de trabalho. As equipes estão mais preparadas para o atendimento desses pacientes após mais de nove meses de pandemia. No entanto, essa mudança de rotina provoca cansaço físico e desgaste psicológico – avalia a médica.
O HG tem, atualmente, três UTIs para pacientes covid e isolamento respiratório, num total de 26 leitos para adultos. Na última quarta-feira, dois estavam ocupados com pessoas com tuberculose e havia quatro vagas em aberto.
O Hospital do Círculo também estava com taxa de 80% de ocupação na última quarta, segundo a diretora Isabel Bertuol:
– Já tivemos ocupação maior na UTI. Está muito variável. Mas ocupação geral (covid), considerando o todo, é o pior momento.
No Hospital Saúde, na quarta, a ocupação estava em 100% dos leitos clínicos para covid e 50% na UTI.