Com o imponente paredão do Itaimbezinho como tela de fundo, foi lançado nesta quarta-feira (14), em Cambará do Sul, o edital de concessão dos parques nacionais à iniciativa privada. O documento foi assinado por volta do meio-dia, no Mirante da Trilha do Cotovelo, no Parque Aparados da Serra, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. E, de cara, Salles tratou de afastar a possibilidade de serem utilizadas rotas alternativas para o turista chegar aos parques, esvaziando a economia :
- A chegada será pela cidade. A ideia de concessão é beneficiar a população. Nada mais natural que seja o município que preste os serviços de hotelaria, comércio e que atenda aos turistas.
O maior temor da população - e que segue gerando controvérsia - era que, com a concessão, Cambará se transformasse em uma cidade fantasma pelo fato de não mais ser utilizado o atual acesso aos parques, que movimenta a economia do município.
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O prefeito de Cambará, Schamberlaen José Silvestre, voltou a lembrar que a concessão dos parques à iniciativa privada é primeiro passo de uma luta antiga do município:
- É um momento histórico. Estamos devolvendo para a sociedade a alegria de poder se apossar desse parque, preservando e gerando empregos e renda. Só tenho uma palavra: gratidão.
- Entramos no roteiro turístico internacional. É uma nova era para a nossa região. Esse patrimônio atrás de nós era um gigante adormecido que, agora, trará desenvolvimento e renda para o nosso povo - complementou o prefeito de Praia Grande, Henrique Maciel.
Quem também vibrou com a formalização da concessão foi o vice-governador do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Jr., destacando que, se agora a região dos cânions já é conhecida, irá se tornar um dos roteiros mais procurados do país.
- Teremos integração turística regional. Vamos integrar a Serra, os Campos de Cima da Serra e os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Trará desenvolvimento - frisou.
Mesma linha seguiu a vice-governadora do estado vizinho, Daniela Reinerh:
- A região entra em ascensão e o céu é o limite. É a realização de um sonho que trará desenvolvimento.
O edital será publicado nesta quinta-feira (15). No documento, constarão detalhes sobre o que poderá ser feito por quem detiver a concessão. A licitação valerá por 30 anos, sendo que o edital prevê que em no mínimo quatro anos sejam feitos os primeiros investimentos. Segundo Ricardo Salles, os concessionários poderão sugerir investimentos que respeitem o meio ambiente, mas pensando na prosperidade dos municípios.
A previsão é que, em dezembro, seja conhecido o vencedor do processo e que, no mês seguinte, será possível iniciarem os investimentos. No total, R$ 60 milhões serão destinados à infraestrutura dos parques nos três primeiros anos. Em três décadas, está previsto o incremento de R$ 200 milhões.
PRIMEIRO PASSO
O Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles lembrou que o projeto teve início com uma visita aos parques nacionais Aparados da Serra e Serra Geral, no ano passado. Ele destacou que o grande desafio será aliar o avanço e o progresso, garantindo a preservação das belezas naturais.
- Tivemos um roteiro na região e ouvimos da comunidade esse anseio pela concessão. Nosso desafio é gerar desenvolvimento e, ao mesmo tempo, garantir a preservação ambiental. Temos aqui uma beleza exuberante, que faz parte desses dois estados e que será preservada.
Salles também disse que o edital dos parques nacionais é o marco para a abertura de outras concessões no futuro.
- Em breve estaremos celebrando concessões dos parques de Canela e de São Francisco de Paula. Sabemos que essa alternativa aumenta o interesse turístico na região. Já viajei para muitos lugares e, aqui, temos uma vista incomparável. Poucos lugares tem essa beleza que há nos cânions.
EXPECTATIVA PELA PUBLICAÇÃO
A expectativa de parte da comunidade e do setor turístico de Cambará do Sul fica, agora, pela publicação do edital para ter acesso ao conteúdo. A reportagem do Pioneiro solicitou uma cópia do documento, mas foi informada que o acesso será somente nesta quinta-feira (15), quando ele for publicado no Diário Oficial da União.
- Se o centro da cidade sair da rota dos cânions, Cambará pode se tornar uma cidade fantasma - disse um comerciante, que prefere não se identificar.
O empresário João Renosto tem o mesmo pensamento. Ele lembra que, em 1995, a comunidade solicitou ao antigo Ibama, hoje ICMBio, o fechamento do portão interno de comunicação em uma dessas estradas alternativas que estão contempladas no projeto atual. Na ocasião, o pedido ocorreu exatamente porque os turistas não passavam pela cidade.
- Se a concessão contemplar as outras estradas previstas no projeto para a ligação entre os parques, a região vai sorrir por 30 anos e a cidade de Cambará vai chorar pelos mesmos 30 anos em razão do fluxo turístico não passar pelo centro da cidade. Para piorar, há a possibilidade de ligar os parques por outra estrada alternativa, isolando novamente a nossa cidade - ressalta.
O empresário Eduardo Bernardino também aguarda pelo edital para saber se realmente não serão utilizados acessos secundários:
- Sabemos que vão passar pela cidade, mas com acessos alternativos o fluxo de turistas seria menor. Não sabemos o que consta no edital, apenas que está anexo um estudo de viabilidade, que mostra a potência do caminho que seria por fora de Cambará do Sul.
Hoje, esses acessos são proibidos pelo atual plano de manejo do ICMBio até pela entrada de carros em trilhas e por áreas de preservação ambiental.
- Sem ver o edital, seguem a preocupação e as dúvidas - finaliza Bernardino.