Uma semana depois da liberação para reabrirem as portas, as escolas de Educação Infantil de Caxias do Sul vivem novamente momentos de apreensão. Até o final da manhã desta segunda-feira (14), 110 escolinhas haviam sido autorizadas a recomeçar as atividades. Um levantamento preliminar do Sindicato das Instituições Pré-Escolares Particulares de Caxias do Sul (Sinpré) aponta que cerca de 900 a 1000 crianças retornaram às escolas, sendo que 200 voltaram nesta segunda-feira (14). Outros alunos voltaram ainda na quinta-feira (10), quando 44 escolas obtiveram a liberação depois de quase seis meses fechadas. Como o governo do Estado anuncia à tarde a manutenção ou troca de bandeira no Modelo de Distanciamento Controlado, pais e professores retornaram com expectativa de seguir reabertos caso a região siga na laranja. Se a classificação mudar para vermelha, os estabelecimentos têm que fechar por 15 dias.
Na Escola Infantil Doce Aconchego, no Centro, 52 crianças retomam as atividades de maneira gradual a partir desta segunda. Durante a manhã eram esperados 16 alunos. Na porta, as diretoras aguardavam logo cedo, por volta das 7h15min, a chegada dos pequenos. De máscara, avental e com o termômetro em mãos, uma das proprietárias, Vivian Paim, não escondia a ansiedade:
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- Estamos preparadas para que as crianças aceitem e entendam esse novo normal. A primeira criança que chegou foi instruída a sentar onde está o X. Assim que outro coleguinha chegou ela disse a ele, antes da profe: "tem que sentar no X". Falam que as crianças não vão seguir as regras, que é difícil, mas elas aprendem pelo exemplo e colocam em prática e nos ajudam com as demais crianças.
A sócia Sandra Lusa também estava feliz e ansiosa para reencontrar os alunos. A faixa em frente à escola mostrava aos pais e alunos esse sentimento: "Estávamos ansiosos por nosso reencontro".
- Trabalhamos por amor e com amor, queremos e precisamos trabalhar, com todo o cuidado e segurança. Temos que trabalhar novamente a adaptação e torcer pela manutenção da bandeira laranja - afirma Sandra.
"Nem me deu tchau", conta mãe, sobre a despedida da filha
Assim que desceu do carro, Daphne Garcia, quatro anos, abanou para as diretoras da escola Doce Aconchego. Com os olhinhos brilhando, a menina subiu as escadas feliz por rever amigos e professores.
- Não pode mexer em alguns lugares porque tem bichinho - disse a menina, logo depois de higienizar as mãos com álcool gel.
A mãe dela, Dienifer Rodrigues Garcia, 32, garante que se sente segura:
- Sei que ela estará bem cuidada. Ela estava ansiosa para voltar e, assim que acordei, ela pulou da cama porque sabia que vinha para a escola. Olha como ela está feliz, nem me deu tchau - conta, rindo.
O pequeno Benjamim Mondadori, cinco, também cumpriu o protocolo à risca. Usava máscara, limpou a sola do sapato no tapete, passou álcool gel e se dirigiu até a sala de espera, onde sentou no X marcado no chão, que garante o distanciamento necessário entre as crianças.
"A incerteza sobre a bandeira deixa todos apreensivos", afirma diretora
Na Escola Aconchego dos Pequenos, no bairro Desvio Rizzo, o clima também era de ansiedade e uma certa apreensão com a classificação do distanciamento social.
- Retornamos na quinta-feira, mas tem essa incerteza sobre a bandeira que deixa todos apreensivos. Estamos nessa expectativa para que se mantenha a laranja e sabemos que muitos pais sentem o mesmo - ressalta a diretora Marli Volpato.
Na escola, de 104 crianças matriculadas, 22 retornam nesta segunda, sendo que, pelo plano de contingência, a escola pode receber 50 crianças. Os pequenos são recebidos no portão, onde limpam os pés, passam álcool gel e têm a temperatura medida e anotada em planilhas. Nas mochilas também é borrifado álcool. A rotina é nova, mas, de certa maneira, é bem aceita até pelos mais pequenos. Esse foi o caso de Laura Giaboeski, de um ano e quatro meses. No colo do pai, ela esticou a mãozinha para a professora passar álcool gel. Na hora de medir a temperatura se assustou, mas porque pensou que fosse injeção:
- Estamos tranquilos com o retorno dela e temos contato direto com a direção. Eu e minha esposa conversamos e optamos por ela vir e começar a readaptação novamente. Torço para que a bandeira permaneça laranja porque as escolas, os pais e, principalmente as crianças, precisam disso. A escola é o lugar ideal para que aprendam - destaca o pai de Laura, Jonathan Giaboeski, 30 anos.
Alessandro Figueredo, 42, também confia que o retorno seja positivo para o filho Alessandro Júnior, seis.
- Estou seguro e é bom para ele porque se sentia preso em casa. Aqui, ele convive com os amigos e aprende. E é bom também para mim porque estou concluindo o Ensino Superior e, assim, tenho mais tempo para estudar. Ficamos atentos e todas as medidas estão em cumprimento, por isso fico tranquilo em trazer meu filho.
FISCALIZAÇÃO
A inspeção segue um roteiro com mais de 70 itens. São vistoriados por dois fiscais, um da Vigilância Sanitária e um do Meio Ambiente, desde o projeto arquitetônico e alvará de licença para localização, até o controle das cadernetas de vacina e a administração de medicamentos, que passou a ser apenas com receita médica.
- Vistoriamos todas as medidas para conter a disseminação do coronavírus, desde o uso do álcool gel até se a roupa de cama é individualizada e está identificada. Não basta ter o plano aprovado, é necessário cumpri-lo. Aproveitamos também para verificar a legislação sanitária que regulamenta o funcionamento da instituição - aponta o diretor técnico da Vigilância Sanitária, Rodrigo Zardo.
A ideia é que sejam vistoriadas seis escolas por dia, três em cada turno, para analisar todos os requisitos determinados nos planos, como o uso de máscaras por professores, direção e crianças acima de dois anos, a checagem de temperatura ao chegar na escola, o distanciamento de 1,5 a 2 metros entre as crianças ou uso de divisórias de acrílico em mesas coletivas nas salas e no refeitório.
Também são vistoriados o material pedagógico, que tem que ser individual, e os brinquedos, que não podem ser de tecido ou pelúcia. Os ambientes têm que ser ventilados e os pisos e espaços coletivos demarcados para manter a distância. Tem que ter álcool gel 70% para limpeza de superfícies e brinquedos, uso de propés ou calçado específico para uso interno para professores e crianças nas salas de até três anos, entre outros.
Na Serra
Em Bento Gonçalves, 27 escolas de Educação Infantil particulares retomaram as atividades desde 8 de setembro. São cerca de 340 alunos que voltaram às salas de aula. Nesta segunda-feira, 21 escolinhas municipais também reabriram, mas a prefeitura ainda não tem o levantamento do número de alunos.
- O COEe municipal (Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação) está realizando as visitas semanais. Se tiver alguma situação, as escolas fazem contato e as equipes vão até o local, mas está correndo tudo tranquilo até agora - avalia a secretária de Educação de Bento Gonçalves, Iraci Luchese Vasques.
Em Flores da Cunha, das 10 escolas infantis, nove reabriram nesta segunda-feira. A fiscalização sanitária vistoriou todas as escolinhas. Segundo a assessoria de imprensa, as instituições estão respeitando os protocolos encaminhados e aprovados pelo COE. Os alvarás de saúde também foram renovados.