Caxias do Sul contabiliza 5.212 casos positivos de coronavírus até a tarde desta quinta-feira (26). Duas faixas etárias são responsáveis por 45% dos casos: jovens de 19 a 29 anos e os adultos de 30 a 39 a nos. São 1.309 infectados dos 29 aos 39, o que equivale a 25% do total, e 1.028 dos 19 aos 29, ou 20% do número total de casos.
Dos jovens, 471 são homens e 557 mulheres. Na faixa etária dos adultos, são 624 homens e 685 mulheres. Desde junho, mesmo que os índices reduzam, as pessoas desta idade configuram entre os que lideram a lista de contaminados. O levantamento está disponível no painel covid-19 da prefeitura.
A análise dos dados demonstra como as faixas etárias foram se contaminando com o coronavírus ao longo do tempo no municípios. Inicialmente, 100% dos contaminados eram da faixa etária de 30 a 39 anos:
- Podemos ver que esta faixa etária foi a responsável pela transmissão em todas as outras faixas etárias que vemos ali (no gráfico). Hoje, temos uma divisão de contaminados entre todas as faixas etárias, com ênfase nas de 19 a 29 e 30 a 39, que consistem, juntas, em 45% dos casos. O maior aumento que tivemos foi na faixa etária de 19 a 29 anos, que a partir de junho teve um grande aumento em relação ao início da epidemia na cidade. Esse aumento se correlaciona com as datas aonde começamos a ter as aglomerações - analisa Isaac Schrarstzhaupt, consultor para projetos de risco e que tem se dedicado a fazer análises sobre os números da pandemia.
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A percepção é a mesma da diretora das Vigilâncias em Saúde de Caxias do Sul, Juliana Argenta Calloni:
- Ao observar os números, fica claro o que analisamos diariamente: os jovens são os que se movimentam mais, os que se reúnem mais e também os mais difíceis de fazer atender os protocolos de saúde. Basta analisar o perfil dos frequentadores de festas clandestinas flagradas no município: são jovens. Essa faixa etária também é de mão de obra e esses jovens saem para trabalhar.
A fiscalização do município tem flagrado frequentes aglomerações em festas clandestinas, encontros em postos de combustíveis, restaurantes, parques, praças e em jogos de futebol. Os grupos também frequentam restaurantes com mesas ao ar livre com os clientes sem máscaras e bem próximos.
- É só esse público que dá problema. Se analisar a questão dos idosos, encaramos problemas nas lotéricas nas datas de pagamento quando há filas e também nas feiras que registram movimento - garante o diretor de Fiscalização da Secretaria de Urbanismo (SMU) de Caxias do Sul, Rodrigo Lazzarotto.
Segundo Lazzarotto, a faixa etária dos 40 aos 60 parece mais consciente e tem se mantido mais em casa.
- O problema são os jovens nas festas clandestinas e o público um pouco mais velho nos postos de combustíveis - aponta.
Esse público é o que mais se contamina, mas como dificilmente são internados, parece existir a crença de que o vírus está sobre controle.
- O problema é que é essa faixa etária se torna responsável pela transmissão do vírus para os grupos de risco, que são pessoas que geralmente têm o quadro agravado, são internados e nem sempre resistem à doença. Eles infectam os pais, os avós, porque geralmente é o familiar que contamina o idoso - aponta Juliana.
Ela orienta a manter o distanciamento e a prevenção para evitar a disseminação:
- As pessoas não precisam se isolar, mas o distanciamento físico ainda é necessário. Tem que usar máscara, evitar aglomerações, sim, higienizar as mãos, e em alguns casos sair apenas se for necessário. Todos nós somos responsáveis por barrar o vírus.
Já Lazzarotto reitera que é necessário conscientização.
- É bem nítido a presença dessas faixas etárias em aglomerações. Flagramos esse tipo de público a cada ação que realizamos na cidade. Reitero que o município faz campanhas, notifica e multa, mas existe esse comportamento.
DEMAIS FAIXAS ETÁRIAS
Em terceiro lugar, está a faixa etária dos 40 aos 49 anos, com 1.018 casos. Já dos 50 aos 59 anos, há 737 pessoas contaminadas pelo vírus na cidade. Na quinta posição, está o grupo dos 60 aos 79 anos, com 636 casos. Vale ressaltar que essa faixa etária concentra o maior número de mortes (Leia mais abaixo). Em sexto no ranking, estão crianças de dois a 12 anos, com 206 casos. Adolescentes dos 13 aos 18 anos aparecem na sétima posição, com 132 contaminados. Em oitavo, figuram os idosos de 80 anos ou mais, com 111 casos. Por último e em nono lugar, surgem os bebês com menos de dois anos, que contabilizam 35 casos.
RISCO DE CONTÁGIO
A maioria das pessoas acredita que os sintomas de coronavírus são graves, quando na verdade esses sintomas podem ser leves e moderados, o que preocupa especialistas:
- Os pacientes jovens, àqueles que não têm comorbidades, vão passar pela doença de uma forma boa, ou seja, com sintomas leves e moderados. Esses não vão precisar de assistência da saúde e, muitas vezes, vão passar sem registro, como uma pessoa que está com o nariz escorrendo e acredita que seja a renite dele e associou um pouco de dor de cabeça porque dormiu mal, então sempre terá uma justificativa para não ser covid-19 - alerta a infectologista Giorgia Torresini.
Como a testagem é limitada, o número de infectados nessa faixa pode ser ainda maior. O município avalia apenas os pacientes internados com sintomas graves e integrantes dos grupos prioritários, que indicam a possibilidade de infecção por coronavírus.
- As pessoas podem estar com a covid-19 sem saber porque atribuem o que sentem a sintomas habituais do organismo, porque estamos no inverno e pegou um pouco mais de frio. São pessoas que não vão se testar e se tornam riscos potenciais para as suas famílias quando os familiares são idosos ou jovens com comorbidades. Pessoas jovens hipertensas, diabéticas ou obesas. E quando falo jovens, vemos uma faixa etária comprometida em torno dos 50 anos que tem comorbidades e podem ter o caso complicado, evoluindo para uma pneumonia viral - detalha Giorgia.
A médica frisa que como as pessoas dessa faixa etária geralmente não têm sintomas aparentes, aumenta o risco de contágio.
- Esses grupos são os possíveis vetores para outras pessoas que têm no seu núcleo familiar pessoas de risco. Tem que ter muito cuidado e temos que conscientizar os jovens: se tu mora com os teus pais, com a mãe ou com o pai, com o tio ou a tia, evita sair, evita entrar em contato com aglomerações - afirma.
Ela alerta:
- Tu pode ser um possível vetor para os teus parentes queridos. Tem que ter essa conscientização porque 90% desse público evoluirá bem e achando que esses sintomas, que talvez esteja sentindo, são de uma temporada de inverno. Não vão considerar que estão contaminados, não vão se testar e vão levar o vírus para casa e vão contaminar os familiares.
AS MORTES
Outro ponto que pode ser considerado como justificativa para que os jovens continuem saindo e não respeitem os protocolos para barrar o vírus é que não há mortes registradas na faixa etária dos 19 aos 29 anos em Caxias do Sul. O mesmo não ocorre no grupo dos 30 aos 39. Nessa faixa etária, foram confirmadas quatros vítimas: três mulheres e um homem. É o grupo com menos mortes, o que comprova a baixa letalidade, apesar do maior número de infectados.
A maior taxa de mortes é dos 60 aos 79 anos. São 40 óbitos, sendo 25 homens e 15 mulheres. Esse grupo ocupa a primeira posição entre os óbitos, mas está na quinta posição quando se considera o total de infectados.
Em seguida, com 32 óbitos, está o grupo de 80 anos ou mais. Nessa faixa etária, são 15 homens e 16 mulheres.
O terceiro grupo com o maior número de mortes é dos 50 aos 59 anos: são 11 mortes, sendo sete homens e quatro mulheres.
Em quarto, estão pessoas dos 40 aos 49 anos. São cinco óbitos, de três mulheres e dois homens. Desta maneira, são 20 mortes de zero a 59 anos com 4.465 contaminados, e 71 mortes de 60 anos para cima, com 747 contaminados.