Após um mês sob a gestão da Universidade de Caxias do Sul (UCS), a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte tem pacientes satisfeitos, leitos de observação vagos e pouca espera por atendimento. A UCS assumiu a UPA no dia 1º de julho, após o encerramento do contrato da prefeitura com o Instituto de Gestão e Humanização (IGH). A entidade, que gerenciou o posto desde a inauguração, em 2017, enfrentou problemas que chegaram a investigações do Ministério Público Federal. As queixas giravam em torno de demora no atendimento e suspeita de negligência.
Assim como ocorria com o IGH, a UCS também vai passar por uma avaliação de metas trimestral, que inclui tempo máximo de espera, garantia de atendimento para 100% dos pacientes que procurarem o serviço e índice de satisfação dos usuários. Os dados ainda não foram compilados porque a implantação dos sistemas não foi concluída. Mas, segundo a coordenadora de enfermagem, Vilma Maria Ceron, os resultados almejados devem ser obtidos.
A UPA adota um protocolo de classificação de risco e tempo de espera, que varia de emergência, com atendimento imediato, a não urgente, com espera de até quatro horas. A triagem, que estabelece a classificação, tem acontecido em menos tempo que os 10 minutos previstos, e os pacientes considerados menos urgentes, que ficariam até quatro horas aguardando, não chegam a metade desse tempo. Além disso, por exemplo, no início da tarde da última sexta-feira, menos da metade da sala de espera estava ocupada.
Embora a pandemia reflita no atendimento, já que a procura, em geral, tem sido mais baixa, a chefe de enfermagem afirma que os casos de maior espera aconteciam quando a unidade da Zona Norte concentrava todos os atendimentos de urgência e emergência da cidade, enquanto a UPA Central passava por reforma. De 12 mil pacientes atendidos por mês até o fim de 2019, o número passou à média de 5 mil desde janeiro. A unidade não é referência para covid-19, mas conta com uma tenda externa onde os pacientes com síndromes gripais são atendidos e, em caso de sintomas compatíveis, encaminhados após a realização do teste RT-PCR.
Lideranças comunitárias relatam que não receberam reclamações da UPA no último mês. O presidente da Associação de Moradores do Belo Horizonte, Valdir Vieira da Silva, 56 anos, inclusive fez uso da estrutura no último dia 28. Com uma crise de pressão alta e dores no peito, procurou o posto e saiu satisfeito
— Fiquei seis horas lá dentro, mas foi porque minha pressão estava em 22 por 14 e não baixava. Fizeram medicamento, exame e foram muito atenciosos desde a triagem — elogia.
Conselho Municipal de Saúde pede atendimento de ortopedia e psiquiatria
Representantes do Conselho Municipal de Saúde afirmam que é cedo para avaliar os atendimentos sob a gestão da UCS, mas reclamam da falta de duas especialidades na UPA: ortopedia e psiquiatria. Além disso, lamentam não ter acompanhado o processo de contratação da UCS.
— Soubemos que diminuíram o valor do contrato, mas se foi a custo de diminuição de serviço, não faz sentido — aponta José Roberto Silveira, representante dos movimentos sociais no conselho.
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A representante do Conselho Regional de Psicologia, Jocélia da Cruz de Almeida, reforça que entende ser necessário ter um serviço de psiquiatria permanente para urgências e emergências.
— Neste momento de pandemia, onde as comorbidades psíquicas têm tido agravos consideráveis, seria muito importante. Não tem como prever o surto de um usuário — defende.
O valor do contrato antigo era de R$ 2 milhões, mas passou para R$ 1,8 milhão a partir da gestão da UCS. Segundo o secretário municipal de Saúde, Jorge Olavo Hahn Castro, a prefeitura oferecia o atendimento com ortopedista na UPA e mantinha um convênio com a clínica S.O.S, o que gerava duplicidade de pagamento.
— Todos os médicos estão capacitados para o primeiro atendimento na UPA, seja de ortopedia, seja de saúde mental, ou qualquer outra especialidade. Os casos mais graves são encaminhados por eles aos serviços de referência — garante o secretário.
Estagiários da UCS reforçam atendimento
A UCS absorveu o quadro de funcionários do IGH e, além deles, implantou a atuação de estagiários de oito cursos da área da saúde: nutrição, farmácia, medicina, psicologia, enfermagem, fisioterapia, odontologia e radiologia. Além de representar um reforço na atenção aos pacientes, a presença também garante uma melhor formação para os estudantes.
— É uma experiência muito mais rica do que se estivéssemos na UBS, por exemplo, pela variedade de pacientes e de patologias que temos contato num mesmo dia. Além disso, é muito mais "vida real" do que um consultório — avalia Nicole Mussi, aluna do 8º semestre de Nutrição.
Depois de desmaiar em uma farmácia após sair do trabalho, a auxiliar de limpeza Idelci Mohr Hoffmann, 52 anos, foi levada pelo Samu até a UPA no fim da manhã de sexta-feira. Duas horas depois, aguardava o fim da medicação enquanto recebia recomendações das estagiárias de Nutrição para evitar novos episódios do problema.
— O bom é não precisar, mas deu tudo muito certo — conclui a moradora do Desvio Rizzo.