Fotos que passaram a circular nas redes sociais e na imprensa de Nova Prata no fim de semana chamaram a atenção ao mostrar escoras de madeira posicionadas junto a dois pilares da ponte sobre o Rio das Antas, na BR-470, entre Bento Gonçalves e Veranópolis. A imagem gerou dúvidas e comentários a respeito da segurança da estrutura, inaugurada em 31 de agosto de 1952.
A repercussão surpreendeu o autor das fotos, o eletricista Samuel Bavaresco, 44 anos. No último domingo (16), ele viajava a Caxias do Sul e resolveu parar para contemplar a paisagem no entorno da ponte. Ao caminhar pela margem, reparou as escoras junto a um dos pilares, junto à cabeceira do lado de Veranópolis. Intrigado, resolveu registrar a situação.
— Como tombou um caminhão recentemente e abriu uma passagem, resolvi descer para olhar o leito do rio e me deparei com as escoras. Parecem postes usados, o que mostra que já estão há um bom tempo ali. Causa indignação porque tenho amigos caminhoneiros que relatam a limitação dessa ponte — revela Bavaresco, que notou que o lado de Bento Gonçalves não possui as estacas.
Por pouco mais de 67 anos a estrutura esteve sob a responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), que também administrou até março de 2015, toda a extensão da BR-470 no Estado. A partir daí houve a federalização e a rodovia passou a ser responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit).
O trecho entre Bento Gonçalves e Nova Prata, contudo, continuou sob a administração do Estado porque estava em vigor o Contrato de Restauração e Manutenção de Rodovias (Crema). A modalidade prevê a contratação de uma empresa para recuperar a pavimentação asfáltica e realizar a manutenção por cinco anos. Com o término do contrato, em dezembro de 2019, o trecho que contempla a ponte também foi assumido pelo Dnit.
De acordo com Adalberto Jurach, engenheiro da unidade do Dnit de Passo Fundo e responsável pela BR-470, as escoras foram posicionadas em 2016, após técnicos do Daer constatarem problemas na estrutura da ponte. Na época, a capacidade de peso dos veículos também foi limitada em 45 toneladas, o que impede a passagem de bitrens, por exemplo.
Segundo Jurach, as escoras foram posicionadas embaixo de elementos conhecidos na linguagem de engenharia como dentes gerber. As estruturas servem para transferir a carga entre um viga e outra e não apresentam risco de colapso. Contudo, os técnicos do Daer optaram na época em implantar as estacas para reforçar a estrutura como medida de precaução em caso de maior desgaste.
Após a mudança de responsabilidade no fim do ano passado, técnicos do Dnit do Rio Grande do Sul e de Brasília inspecionaram a ponte e decidiram encaminhar os reparos. Os projetos estão em elaboração na sede do órgão na capital federal e ainda não há previsão para as obras. Apesar disso, Jurach garante que a ponte é segura e que os reparos não serão emergenciais.
— São problemas que precisam ser corrigidos. Não são graves porque senão haveria risco de ruptura, o que não é o caso. A reabilitação vai permitir que se classifique a ponte como classe 45, adotada hoje no Brasil, e se libere a passagem de todos os veículos — explica o engenheiro.
O Daer disse que "em 2016, foram colocadas escoras e foi providenciada uma vistoria especial, cujo relatório foi entregue ao Dnit para dar continuidade aos projetos de recuperação. Quanto à intervenção na cabeceira de Veranópolis, ela ocorreu naquele local devido às necessidades técnicas da estrutura".
A ponte tem 277 metros de extensão e é considerada um cartão postal de Veranópolis e Bento Gonçalves por ter sido, na época da inauguração, a terceira do mundo em arcos isolados e a primeira com arcos paralelos. Além disso, é o principal acesso a Veranópolis e Nova Prata, entre outros municípios da região.