Os resultados do Coalizão I — primeira etapa de estudo que envolve diversos hospitais do país — apontam que a hidroxicloroquina não é eficaz no tratamento da covid-19. A pesquisa, que conta com participação de hospitais da Serra gaúcha, foi divulgada nesta quinta-feira (23), no New England Journal of Medicine, uma das mais relevantes publicações científicas do mundo. O estudo brasileiro indica, ainda, que o medicamento amplamente defendido pelo Governo Federal pode aumentar o risco de arritmia cardíaca e lesão hepática.
Os resultados integram a primeira etapa de uma série de pesquisas que visam avaliar a eficácia e a segurança de medicamentos para pacientes com infecção pelo novo coronavírus. O projeto Coalizão Covid Brasil é liderado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), junto com o Ministério da Saúde.
No Coalizão I foram analisados 665 pacientes em 55 centros de saúde de todo o país. Integram a lista unidades da Serra, como o Hospital Geral, de Caxias do Sul (que consta na lista divulgada pelo projeto), e o Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves.
Com 18 casos incluídos, o Tacchini ficou entre as 12 instituições que mais contribuíram para o estudo. Ainda no mês de maio, as primeiras análises em relação à pesquisa já demonstravam que a medicação não tinha influência na recuperação de pessoas infectadas.
O Coalizão Covid Brasil ainda propõe um estudo com pacientes mais graves, no chamado Coalizão II. Nesta etapa, todos os pacientes recebem o medicamento hidroxicloroquina, com o objetivo de verificar se a azitromicina tem efeito benéfico adicional, com potencial de melhorar os problemas respiratórios causados pelo novo coronavírus.
Uma última etapa, Coalizão III, pretende avaliar a efetividade da dexametasona, uma medicação com ação anti-inflamatória, para pacientes com insuficiência respiratória grave, que necessitam de suporte de aparelhos (ventilador mecânico) para respirar.
Como o Coalizão I foi realizado
Os pacientes foram divididos em três grupos: 217 receberam uma combinação de hidroxicloroquina e azitromicina; 221 apenas hidroxicloroquina e outros 227 permaneceram com o suporte clínico padrão. Após 15 dias, não foi constatada qualquer melhora no estado clínico dos pacientes que receberam o medicamento em comparação aos do grupo de controle, que receberam tratamento padrão.
Os pacientes incluídos no estudo tinham idade em torno de 50 anos e 58% era do sexo masculino. Os participantes eram pacientes recém-admitidos ao hospital (até 48 horas) que tivessem sintomas iniciados, no máximo, até sete dias antes. Além disso, também foram registradas outras comorbidades relacionadas aos casos: 40% eram hipertensos, 21% eram diabéticos; 17% eram obesos.
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