A chuva que trouxe transtornos, destruição e até mortes para a Serra já ficou para trás, mas deixou pelo caminho um velho problema que os moradores da região precisam enfrentar todos os anos: os buracos nas rodovias. Desde que o ciclone-bomba atingiu o Sul do país, há cerca de 15 dias, relatos de más condições em trechos da RS-453 e da RS-122 se tornaram cada vez mais frequentes.
Na manhã desta terça-feira (14), a reportagem percorreu a RS-453 e a RS-122, entre Caxias do Sul e Garibaldi. A maior parte dos buracos se concentra na RS-453, entre a localidade de Burati, em Farroupilha, e o entroncamento com a BR-470, em Garibaldi. Nesse trecho, de quase 10 quilômetros, o motorista precisa enfrentar, nos dois sentidos, pavimento irregular e crateras, que ficam principalmente na terceira faixa, onde ela existe. O tamanho e a posição dos buracos varia, mas a maior parte deles são profundos, o que potencializa o risco de acidentes ou danos nos veículos.
Um dos pontos que merece atenção especial é o km 110, junto aos controladores de velocidade na localidade de Burati. Nesse ponto, um buraco de grande porte, no sentido Farroupilha-Garibaldi, pode pegar os motoristas de surpresa, já que fica próximo a uma curva.
Do Burati até o entroncamento com a RS-122, na saída de Farroupilha para Porto Alegre, as condições de tráfego melhoram. Ainda assim, há pavimento irregular e buracos esporádicos que exigem atenção dos motoristas.
Outro ponto que exige atenção redobrada é o km 69 da RS-122, na saída de Farroupilha para Porto Alegre. Um enorme buraco fica próximo ao acesso à rua lateral para os motoristas que trafegam de Caxias do Sul e desejam seguir para a Capital. Na manhã desta terça, um cone estava caído ao lado da cratera, o que ajudava os motoristas a desviar pelo acostamento. A localidade de Linha Julieta era outro ponto que exigia cuidado devido ao tamanho dos buracos, embora eles sejam mais esporádicos.
Já no acesso a Forqueta pela RS-122, em Caxias do Sul, um ponto onde tradicionalmente há problemas no asfalto, é possível perceber que a maior parte dos buracos foram fechados. Um deles, contudo, seguia aberto na pista da direita, no sentido Caxias-Farroupilha. A maior parte dos problemas da RS-122, no entanto, está no chamado trecho urbano da Rota do Sol, entre o viaduto torto e a saída para Flores da Cunha. No trecho de 11 quilômetros, as crateras e as irregularidades se espalham praticamente de modo uniforme sobre a pista dos dois sentidos. Pontos como o bairro Cidade Industrial e o entorno do viaduto de saída para Flores da Cunha, além da ponte sobre o Arroio Tega, estão entre os que mais oferecem riscos.
Em entrevista ao Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra, na manhã desta terça, o secretário de Logística e Transportes, Juvir Costella, disse que um tapa-buracos emergencial é realizado desde a segunda-feira (13) em rodovias da região. O trabalho deve seguir nos próximos dias e contemplar a RS-453 e a RS-122, entre outras estradas.
Nunca esteve tão ruim
Embora os buracos causados pela infiltração da chuva em um asfalto com o prazo de validade há muito tempo vencido não seja novidade, pessoas que moram próximo à estrada afirmam nunca terem visto uma situação tão precária na RS-453. É o caso do aposentado Lauri Somacal, 60 anos, que sempre viveu na localidade de Tamandaré, em Garibaldi.
— Piorou bastante. Esse trecho da BR-470 até Farroupilha, meu Pai do céu. Pior do que agora acho que nunca foi — relata.
A alguns quilômetros dali, o cobrador Marcelo Machado, 57, que há 22 anos mora próximo ao trevo de acesso a Bento Gonçalves pela localidade de Barracão, reclama não só da qualidade do asfalto, mas das condições de segurança do entroncamento, onde tantas pessoas já perderam a vida.
— O buraco já existe. Só colocam o asfalto dentro e, quando passa um caminhão, abre de novo. Tinha que colocar asfalto novo. Agora está pior. Gastaram dinheiro para colocar redutores de velocidade que não adiantaram nada — protesta.
E quem mora longe, mas depende da estrada também precisa enfrentar a falta de manutenção. O caminhoneiro Paulo Baldi, 57 anos, mora em Anta Gorda e duas vezes por semana circula pela rodovia indo e voltando de São Paulo, para onde transporta vinho. Na manhã desta terça, a viagem foi interrompida devido a um pneu furado, prejuízo que ele calcula chegar a R$ 2,4 mil.
— Não tem mais estrada. Me cortou o pneu, estourou o para-lamas e entortou a roda. Aqui nunca esteve do jeito que está agora — relata.
Demanda aumenta nas borracharias
Se os prejuízos para os motoristas aumentam, quem acaba beneficiado nesses períodos são as borracharias. Em um estabelecimento às margens da RS-453, em Farroupilha, o movimento aumentou logo após o início do período chuvoso e a grande procura seguia nesta terça. Somente de clientes que deixaram o pneu para conserto, havia ao menos 15. Os demais são atendidos na hora ou com a unidade móvel, para socorrer quem está distante.
— Todo ano, nessa faixa de inverno, a procura aumenta de 30% a 40%. Tem dias que chega a 20 pneus, mas a média é cerca de 10. No verão, quando não chove, às vezes é um ou dois por dia — relata o encarregado da oficina, que se identifica como Maninho, 30.