Mesmo sem casos confirmados de coronavírus, Nova Pádua amanheceu com o comércio e serviços não essenciais fechados nesta segunda-feira (15). A medida obedece a mudança da Serra gaúcha para a bandeira vermelha, no último sábado (13), a partir da definição do sistema de distanciamento social controlado. Nas ruas, a determinação do governador Eduardo Leite (PSDB) foi bem aceita pelos moradores ouvidos pela reportagem. Por volta das 10h, o movimento era ainda mais tranquilo do que o rotineiro.
- São medidas necessárias. Tem que fechar tudo para manter a cidade sem casos. Sou favorável ao decreto porque são essas ações que mantêm Nova Pádua segura - defende o agricultor Marino Baggio, 61 anos, que só sai de casa, no interior da cidade, quando é necessário.
A técnica de enfermagem Alessandra da Silva também acredita que é preciso cumprir o decreto:
- Neste feriado, o pessoal da região exagerou. Basta acessar as redes sociais para perceber que saem de casa, viajam e não levam a sério a pandemia. Aqui em Nova Pádua até sinto orgulho porque todos saem de máscara e respeitam as medidas de combate ao vírus. E tem que ser assim, porque é uma questão de saúde.
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Em uma loja na área central, a maior preocupação é com os turistas.
- Quem mora aqui se cuida e cuida dos outros, mas os turistas vêm para Nova Pádua e não nos respeitam. Por isso, as medidas são necessárias. Se determinaram que feche o comércio, tem que fechar as portas - ressalta uma comerciante, que preferiu não se identificar.
Em uma padaria, a maioria das clientes também teme pela maior circulação de pessoas de outros locais.
- O comércio respeita as regras, tem álcool gel, tapete para higienizar os pés, e usam máscaras. Tem lugares que só entra um cliente por vez, mas os turistas, ainda mais os que vêm de moto ou bicicleta, não respeitam regra alguma de distanciamento. Queremos a cidade sem casos de coronavírus - disse a aposentada, que também preferiu ter a identidade preservada.
Próximo à igreja, em um mercado, a situação era parecida.
- Tem que fechar tudo para que aprendam que é preciso se cuidar. Às vezes, a sensação é que ninguém leva a sério o que estamos vivendo. Não tem conscientização e muitos dizem: "ah, mas não precisa usar máscara". As restrições são necessárias para que todos se cuidem. Eu concordo com as medidas do governo - destaca a balconista Elena Tonello, 57.
De Flores a Nova Pádua para evitar filas
O professor aposentado Gilson Tiago Deboni, 74, chegava a Nova Pádua, por volta das 10h10min. Acompanhado da neta, Júlia, 14, ele saiu de Flores da Cunha para ir até o município vizinho pagar contas em uma lotérica:
- Eu prefiro vir até Nova Pádua para pagar as contas e não enfrentar filas e aglomeração em Flores da Cunha. Tenho que me cuidar, porque sou diabético, luto contra o câncer, já fiz 12 cirurgias, e sei que essas medidas são necessárias. Se a situação está complicada e a determinação é fechar, concordo, porque se fecha, ficam em casa. Saio o mínimo possível. A saúde vale muito mais que todo o resto.
A neta concorda com o avô:
- Minhas amigas moram em Nova Pádua e eu saia bastante, mas agora fico mais em casa porque é um momento em que temos que nos cuidar.
O QUE DIZ O MUNICÍPIO
Nova Pádua encarou com seriedade as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde. Os protocolos foram colocados em prática logo que surgiram os primeiros casos no Brasil. Nas portas de alguns estabelecimentos comerciais e farmácias, está afixado o decreto municipal que determina que as pessoas só podem entrar usando máscara para cobrir parte do rosto.
O comércio não é atividade principal da cidade onde vivem cerca de 2.500 habitantes, mas, mesmo assim, todos as portas estavam fechadas nesta segunda-feira. O prefeito Ronaldo Boniatti (PSDB) ressalta que com a bandeira laranja, a situação era tranquila na cidade.
- A população respeitava, colaborava e fizemos um trabalho específico dentro da nossa realidade. Por exemplo, com os agricultores que se deslocam às cidades de Caxias do Sul e Porto Alegre para ir até à Ceasa. Também estamos fazendo um trabalho para orientar quem vem de fora, para trabalhar com o plantio de alho e cebola, para incentivar os cuidados de higienização. Até então foi tranquilo, os atendimentos de saúde, restaurantes, comércio e serviços estavam trabalhando de maneira segura.
Ele ressalta que a atividade comercial não é intensa no município e há colaboração dos comerciantes:
- As pessoas estão colaborando, não se importam de estar fechados, mas temos a questão do turismo. Os estabelecimentos tomaram todas as medidas de higienização, mas alguns pontos decidiram fechar antes da mudança na bandeira e só reabrir quando a situação estiver mais segura. A cidade irá seguir o que o Estado vem determinado, mas vou participar de uma reunião da Amesne com o governador para mostrar porque a região pode ficar na bandeira laranja. Mesmo assim, vamos tomar as medidas para respeitar o decreto até uma nova avaliação do governador - garante ele.
O secretário de administração e fazenda, Pedro Quintanilha, lembra que mesmo que Nova Pádua não tenha casos, as cidades vizinhas já registraram pacientes infectados. A cidade ficaa menos de 40 km de Caxias do Sul, e fica próxima a Flores da Cunha, Antônio Prado e Nova Roma do Sul, onde há pacientes infectados pelo coronavírus.
- Tomamos todos os cuidados, já reduzimos o número de funcionários na prefeitura, mas vamos reduzir ainda mais e avaliar quem pode trabalhar de casa para manter o município sem casos. Na questão do turismo, temos o Belvedere Sonda, que é procurado, principalmente, aos finais de semana. Temos uma equipe terceirizada para higienizar o local e orientar os turistas sobre o uso obrigatório de máscaras, a importância da higienização e limpeza e para monitorar os visitantes. Há um kit com máscaras para quem chega até o local sem usar a proteção - esclarece.
CIDADE MAIS BOLSONARISTA DO BRASIL
Nova Pádua é a cidade mais bolsonarista do país. O município ganhou notoriedade nas últimas eleições porque 92,96% dos votos válidos, no segundo turno, foram destinado ao então candidato e hoje presidente Jair Bolsonaro, à época no PSL. No primeiro turno, foram 82,75% dos eleitores escolhendo o 17 na urna eletrônica. Mesmo assim, o município seguiu à risca os critérios para combater o risco, mantendo escolas, comércio e igrejas fechadas, mesmo depois dos pronunciamentos do presidente, em abril.
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