Você acredita em destino? Em acaso? Foi assim que eles se conheceram. Ao digitar um número errado, a farroupilhense Stela Maris Lovatto Ter Sarkissoff, 57 anos, e o americano Jacques François Ter Sarkissoff, 70 anos, conversaram pela primeira vez. No final de tarde do dia 29 de abril de 2002, Stela acabara de terminar um relacionamento. Enquanto apreciava o anoitecer, ela recebeu uma ligação que mudou o seu futuro.
— Sentei no sofá e olhei pela janela. A tarde estava caindo, era uma segunda-feira, e eu vi uma estrela brilhando perto do horizonte. Então, eu falei assim "Puxa, por que não é um cara legal, que combina comigo?". Eu estava a fim de conhecer uma pessoa, um companheiro. O celular, que estava em cima da mesa, começou a tocar. Eu resolvi atender e começou a falar o Jake. Ele falava "é você que está vendendo um sítio em Farroupilha?". Era um final de tarde e eu estava em casa sem fazer nada. Se eu tivesse atendido em outro momento, teria dito "foi engano" e acabou. Mas eu acabei dando conversa — relembra Stela.
Foram mais de duas horas na linha, conversando sobre todos os assuntos. Jacques estava em busca de um terreno em Farroupilha e acabou encontrando o amor de sua vida.
— Não pensei que iria rolar alguma coisa com a Stela, mas eu agradeci bastante porque ela conhecia a pessoa que estava vendendo o terreno e ia procurar e me passar o contato. Fiquei devendo um favor para ela, porque muita gente não faria isso. Durante a conversa, percebemos que nossos gostos e desgostos de vida eram os mesmos — conta Jacques.
Stela recorda de cada detalhe daquela ligação. Ela conta que, na hora da despedida, vislumbrou um romance com Jacques.
— Achei ele o máximo, com as características que eu estava pensando enquanto olhava para a estrela. Quando eu desliguei o telefone, eu pensei "um homem assim que eu queria para mim". Logo caí na real "Stela, de um telefonema não vai dar nada". Mas, no dia seguinte, ele me ligou para ver se eu tinha conseguido o telefone dessa pessoa. Fomos conversando, ele pediu se podia me ligar no dia seguinte e nunca mais deixamos de falar, todos os dias — recorda-se.
O primeiro encontro ocorreu no dia 20 de setembro de 2002, cerca de quatro meses depois da primeira conversa, no Aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre. Jacques veio de Los Angeles para conhecer Stela. E, a partir daquele momento, a relação se fortaleceu.
— Eu me lembro de pegar as malas na rotatória do aeroporto. Quando eu saí pela alfândega, corri com as malas e fiquei olhando para todos os lados, até avistá-la. Cruzamos olhares e foi uma coisa muito especial. Ela tinha um olhar de medo, porque já tínhamos nos falado muito, mas nunca tínhamos olhado olho no olho, nunca ouvimos a voz do outro ao vivo. Quando nos encontramos, foi uma coisa muito especial — conta Jacques.
Stela diz que esse encontro ocorreu numa sexta-feira. No dia seguinte, Jacques já foi apresentado à família dela e, depois de se conhecerem, o elo se construiu. No domingo, ele retornou a Los Angeles. Mas, de dois em dois meses, voltava à Serra gaúcha.
— Eu pegava um voo na sexta-feira, em Los Angeles, pousava lá sábado de manhã, ficava com eles e voltava no domingo. Chegava no trabalho segunda-feira cedo — recorda.
Cerca de um ano depois do primeiro encontro, no 31 de agosto de 2003, eles se casaram, no Hotel Casacurta, em Garibaldi. Eles contam que a cerimônia foi pequena, apenas para os amigos mais próximos e familiares. Desde então, já são quase 17 anos de matrimônio.
— Estávamos numa sintonia que temos até hoje. Ele conta que quando me viu no aeroporto pensou "quero casar com essa mulher". Decidimos nos casar e nos mudar para Los Angeles. Vivemos 10 anos lá. Depois, retornamos para Farroupilha, construímos a nossa casa, como sonhamos e agora podemos ficar um tempo lá e um tempo aqui — conta Stela.
Neste ano, eles passarão o dia dos namorados distantes. São mais de nove mil quilômetros que os separam, mas, eles já provaram que a distância é apenas um detalhe.
— Ele foi no domingo para lá e eu irei nos próximos meses. O Jake recebeu uma proposta de trabalho, vai alugar apartamento, começar o trabalho e depois eu vou. Não temos filho. Então, podemos fazer assim, ficar um tempo aqui e um tempo lá — fala Stela.
Por fim, Jacques conta que o amor é cultivado há anos e também dá um conselho aos jovens:
— Nos amamos muitos antes de nos encontrar, antes de tocar um dedo no outro. Se eu pudesse dar um conselho, seria a conversa. Conversar é ouro. Sentar e conversar sobre tudo. Isso tira muitas dúvidas sobre a vida.