Desde segunda-feira, quando idosos acima de 65 anos voltaram a ter direito ao passe livre no transporte coletivo urbano de Caxias do Sul, até quarta-feira, a Visate registrou 13.184 passagens desse público. Foram 3.463 no primeiro dia de liberação, 4.371 no segundo e 5.350 no terceiro, sendo que um passageiro pode realizar mais de um embarque por dia. Os números foram informados pela prefeitura e remetem a uma preocupante exposição de homens e mulheres ao contágio da covid-19. O decreto municipal que suspendia as gratuidades foi revogado porque o benefício para pessoas com mais de 65 anos é previsto em Lei Federal.
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Embora não seja possível afirmar que houve aumento no número de idosos circulando de ônibus, já que desde o dia 21 de março o passe livre estava suspenso e, portanto, não havia controle formal da presença desses passageiros nos coletivos, a maior movimentação nesta semana é visível, segundo o diretor-geral da Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Jorge Catusso.
— Nos preocupa porque são pessoas do grupo de risco. Quando fosse liberado, tínhamos certeza de que iriam para a rua. Não que tenham causado lotação nos ônibus, porque eles não se movimentam em horário de pico. Mas é uma preocupação sanitária, são milhares de pessoas se movimentando — diz Catusso, acrescentando que a Visate informou que praticamente dobrou o pagamento em espécie no período de bloqueio das gratuidades.
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Presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Caxias do Sul, Abrelino Dal Bosco, reconhece que a revogação do decreto, permitindo que idosos com mais de 65 anos voltem a usar de graça o transporte, pode ter influenciado no alto número de embarques. Mas ele lembra que a semana é de pagamento, o que provoca muitos deslocamentos:
— O movimento se dá porque o pessoal precisa receber o salário e comprar remédio.
Na própria sede da entidade, a circulação aumenta neste período, conta Dal Bosco. Ele diz que a associação atende a uma média diária de 70 pessoas nos primeiros dias do mês. São pessoas que procuram a associação para pagar, principalmente, o plano funeral — a mensalidade de abril foi isentada justamente para colaborar com o isolamento. Depois, o movimento acalma. Muitos alegam que não têm a quem recorrer e precisam sair de casa para pagar as contas.
— Uns 80% dos idosos não têm manejo da internet e não têm quem mandar fazer as coisas, por isso saem — lamenta.
CAMPANHA
Por conta do alto número de idosos usando o transporte coletivo, a prefeitura irá intensificar a campanha de conscientização #fiqueemcasa, focando nos idosos. O secretário de Trânsito, Alfonso Willenbring Júnior, ressalta que não se questiona o uso da gratuidade, mas a necessidade do idoso sair de casa:
— Sabemos que muitos moram sozinhos e não têm quem faça as coisas para eles. Tem que receber a aposentadoria, ir no supermercado, farmácia. Mas precisamos orientá-los de fazer isso o mínimo possível, tentar fazer num único dia, quem sabe. Temos que cuidar da saúde agora acima de tudo.
Apesar do número de 13.184 passagens parecer alto, não há um comparativo para medir o quanto isso representa em relação ao total de passageiros transportados atualmente pela Visate, que opera com restrições. No ano passado, segundo dados da própria companhia, a média diária entre pagantes e gratuitades era de cerca de 123 mil passageiros diários. Numa conta simples, o registro de três dias de passagens de idosos de 65 anos equivaleria a cerca de 11% daquele total diário.
Gratuidades excepcionais
O decreto de março havia suspendido todas as gratuidades do transporte coletivo. Porém, alguns passes livres foram concedidos a casos específicos. Conforme o diretor-geral da Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Jorge Catusso, alguns pacientes de hemodiálise e oncologia além de pessoas com deficiência (CDBs) com justificativa médica receberam o benefício.
— Foi feito um novo cartão para pessoas que nós entendíamos que havia risco. Entendemos que era uma questão de humanidade — explica.
Eles não deixam de sair
Lorena Duarte Pedroso, 67 anos, evita ao máximo sair de casa. Só vai para a rua para o essencial. Também evita usar o transporte coletivo, mas mas ontem precisou para fazer alguns exames. Segundo ela, a linha do Pedancino estava lotada por volta das 11h, o que a deixou um pouco aflita.
— A gente sai sempre com medo, né? Bem protegido, com máscara e garrafinha de álcool gel — diz.
Já Nelson Maria da Silva, 66, não tem receio algum. Usa o ônibus diariamente para trabalhar, pagar contas e ir ao mercado. O idoso, que utiliza a linha do Vila Ipê, conta que os ônibus estão com número de passageiros acima do normal nesta semana. Mesmo com a lotação, ele se diz tranquilo:
— Eu não tenho (medo). Estou acostumado já. Mas sempre uso máscara e álcool gel.