A pandemia do novo coronavírus afeta o modo de viver e de se relacionar. Isto fica evidente a cada dia. Enquanto o isolamento social for a alternativa para evitar o contágio e a disseminação da covid-19, a sociedade lida com novos cenários e situações no dia a dia. A necessidade de ficar em casa é um desafio para quem luta contra outras doenças, como o alcoolismo e a dependência em drogas, e precisa de grupos de apoio para manter a sobriedade.
Em meio às adversidades, surgem alternativas para garantir ajuda, mesmo à distância: o uso da tecnologia. Grupos de apoio que já atuam há décadas na cidade têm de se adaptar a encontros virtuais. Esse é o caso da Irmandade Alcoólicos Anônimos. Em Caxias do Sul, existem cinco grupos de A.A. em funcionamento. As reuniões presenciais são consideradas as principais aliadas no acolhimento para quem sofre com alcoolismo, e também para os familiares de pessoas que lutam contra a doença.
Com as restrições de circulação e aglomerações de pessoas, os encontros precisaram ser cancelados. O grupo criou alternativas para manter o atendimento. Entre elas, reuniões virtuais e conferências para os integrantes da irmandade e também para quem sentiu a necessidade de buscar ajuda pela primeira vez. Basta ligar para o número (54) 99193-9596 para conversar com um dos integrantes:
- Tivemos uma situação de uma pessoa que entrou em contato pela linha de ajuda, e foi colocado no grupo de aplicativo de conversas onde estão moradores da região da Serra para que possamos conversar e prestar apoio, mesmo sem o encontro presencial. O contato é diário para prestar o atendimento à distância e a ajuda que precisam naquele momento e no dia a dia - explica um dos integrantes do A.A.
O anonimato segue garantido, já que quem participa da reunião não tem obrigação de abrir a câmera ou revelar o nome para participar das conversas. As reuniões de serviço para os voluntários também seguem por videoconferência para manter o funcionamento e a organização dos grupos. Com base nas conversas dos organizadores, um dos grupos decidiu retomar o atendimento presencial. Desde o dia 06 de abril, um dos grupos, o Altruísta de A.A, que fica na Rua Alfredo Chaves, 915, fundos, no Centro, voltou a realizar os encontros nas segundas e quintas.
- Muitos dos integrantes precisam de atendimento presencial para se manter em abstinência. Um dos cinco grupos retomou o funcionamento com todos os cuidados necessários para evitar o contágio da doença. Nos demais grupos, seguimos as reuniões online nos mesmos dias que ocorreriam as presenciais - afirma o integrante.
CONVERSAS ONLINE PARA EVITAR RECAÍDAS
Frequentador do A.A há 35 anos, um integrante que prefere não se identificar garante que as reuniões virtuais são essenciais para manter os passos ensinados no grupo:
- Tem muita validade essa questão de nos mantermos unidos e em contato uns com os outros para que reforce e nos lembre sempre da nossa necessidade de mantermos o nosso programa do A.A. É essencial para evitar o primeiro gole de 24 em 24 horas - aponta.
Participante de um dos grupos de apoio, um jovem de 24 anos, que tem a identidade preservada, conta que as conversas por aplicativo são uma alternativa para manter a abstinência:
- Admito que tive momentos de fissura, em que quase cai na tentação, mas nas conversas em grupo e atendimento online consegui me manter firme e seguir os passos. Tem que manter a fé, a espiritualidade e seguir firme, ainda mais em meio a tanta incerteza e medo - desabafa.
A coordenação de um um grupo destinado para familiares e amigos de alcoólicos, o chamado Al-Anon, também destaca a importância de seguir com os encontros virtuais. Pessoalmente, os membros compartilham experiências semelhantes. A troca e a busca de força para resolver problemas comuns seguem virtualmente.
- Estamos nos falando por telefone em grupos de conversa. Como esse grupo já existia, os integrantes são os mesmos e algumas pessoas que procuram auxílio através do número do A.A. e são familiares, eu atendo no meu número privado - afirma a coordenadora, que também prefere não se identificar.
Ela completa:
- Procuro ligar para as pessoas que estão afastadas e passo algumas mensagens e informações, pois nem todos têm smartphone. Esses "encontros virtuais" têm sido fundamentais.
Caso precise de ajuda, basta entrar em contato pelo telefone (54) 99917-2222.
Patna mantém atendimento virtual
A Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora (Patna) também adotou atendimentos virtuais. A entidade usa recursos tecnológicos para realizar reuniões online ou por videoconferência. A voluntária Maria de Lurdes Fontana Grison, a Lurdinha, explica que os atendimentos aos 39 residentes na comunidade terapêutica precisam seguir, mas com todos os cuidados para evitar o contágio pelo coronavírus:
- Os que saíram para começar a reinserção social com a família têm de seguir o isolamento social em casa. Quando eles voltam para a internação, também tomamos cuidados para separar eles dos demais e manter o isolamento desses pacientes por 14 dias, para combater o risco de contágio.
Ela ressalta que novos acolhimentos estão suspensos.
- A procura é sempre na sede, então, os acolhimentos para tratamento, infelizmente, não estão sendo encaminhados. Mantemos apenas o atendimento aos que já estão na comunidade. Até porque optamos por adiar o período de retorno de alguns deles ao convívio familiar e não teríamos como atender outros enquanto eles seguirem na casa terapêutica - ressalta.
Como as visitas também estão suspensas, a orientação é que os familiares entrem em contato com quem está em tratamento por carta ou telefonemas. Já os que estão em casa são acompanhados pela equipe com atendimento online e via telefone.
- Temos também um número de telefone para onde os familiares ligam e por onde acompanhamos como os que estão em casa respondem ao tratamento. Eles têm sido bem criativos e esse contato telefônico tem resultado. Nos encaminham fotos e vídeos e conversam com a equipe por chamadas de vídeo - explica Lurdinha.
Os atendimentos em grupo para os familiares seguem por telefone e são feitos pela assistente social. O Patna em Louvor, que é voltando a espiritualidade, também segue virtual:
- Quem está na comunidade terapêutica também participa e mostra sua igreja doméstica. Oramos e mantemos viva a espiritualidade. Ficamos conectados e unidos na fé e oração. É um momento especial.
Como a sede está fechada desde o dia 16 de março e os eventos, como o bazar beneficente, foram cancelados, a entidade precisa ainda mais de ajuda para se manter:
- Precisamos de alterativas para manter a comunidade terapêutica em funcionamento _ ressalta a voluntária.
AJUDE
Para doar qualquer valor, faça depósito em conta no Banrisul, agência 0606, conta 06.001303.3-7 e coloque como favorecido o CNPJ 00065945/0001-91. É possível fazer doação por meio do site da Patna.
Contatos da Patna:
Comunidade terapêutica : (54) 98111-9046
Assistente Social familiares: (54) 99113-8785