Passageiros do ônibus de turismo que se envolveu em um acidente com duas mortes na Rota do Sol em Caxias do Sul na noite de domingo (16), relatam terem vivido momentos momentos de terror. Do grupo de 34 pessoas, 14 ficaram feridas no acidente que ocorreu no km 163 da RS-453.
Na colisão frontal, morreu o motorista de um Kadett vermelho, com placas de Caxias do Sul, identificado como Luis Joanito Pereira, 46 anos, e o passageiro Zairo Lopes da Silva, 48. Eles eram naturais de Bom Jesus. Os dois bateram com a cabeça no vidro do carro, o que indica que poderiam estar sem cinto de segurança, mas apenas o inquérito irá comprovar se realmente não usavam o dispositivo.
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No ônibus, 16 passageiros foram socorridos, sendo 14 atendidos em unidades de saúde e dois hospitais da cidade. Entre os feridos, duas crianças fora encaminhadas para a UPA Central. Todos já foram liberados. O ônibus da empresa Souza Turismo retornava a Caxias do Sul depois uma excursão para Capão da Canoa.
O delegado Adriano Linhares, que responde pela Delegacia de Trânsito não revela detalhes da investigação, mas afirma que o inquérito deverá ser concluído até o início da próxima semana.
A auxiliar de escritório, Larissa Rodrigues Soares, 19, quebrou o pulso e precisou de 20 pontos no pé. Ela conta que o motorista estava em alta velocidade. Chegou a mandar uma mensagem à mãe relatando que estava assustada porque o ônibus balançava de um lado para o outro, e que a situação piorou porque havia começado a chover. Ela conta que, mesmo antes do acidente, viveram momentos de tensão:
— O motorista estava em alta velocidade, ultrapassava os carros e teve momentos em que pensamos que o ônibus ia capotar porque balançava demais. Foi desesperador. Quando chegamos próximo a Caxias, tinha congestionamento, e ele reduziu, mas quando diminuiu o movimento, voltou a andar em alta velocidade novamente. Foi nesse momento que o carro veio, bateu no ônibus. O motorista tentou tirar ou ele já estava se perdendo desde que viu o carro vindo, caiu no barranco e ônibus capotou duas vezes. Foi horrível — relata.
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A passageira Marilene Kusther, 35, conta que estava sentada nas últimas poltronas com a filha de 10 anos. Afirma que foi graças ao banheiro que se salvaram.
— O ônibus ficou balançando e virou. Eu via as pessoas caindo, girando, a minha filha me chamando, as crianças choravam, os pais gritavam os nomes delas. Todos ficaram desesperados, e aí veio o silêncio. Depois gritamos novamente porque não sabíamos se o ônibus podia cair mais. Saí pela saída de emergência e quando vi que estávamos seguros, sem chances de cair mais, desci do ônibus e corri até a estrada para buscar ajuda e voltei para ir tirando as crianças. Sobrevivemos, mas se houve imprudência, esse motorista não pode mais dirigir — desabafa.
Ela também afirma que o motorista estava em alta velocidade, realizando "cortes" e ultrapassagens desde Capão da Canoa. Dia ainda que a ida para o litoral foi tranquila, mas na volta o ônibus parecia que ia tombar a cada instante.
— Não sei ele teve culpa ou não, mas estava em alta velocidade e o ônibus estava balançando com muita força.
"Quando o ônibus capotou foi desesperador"
O casal Fernando Borges Tenutis, 21 e Gabriele Rasteli Policiana, 18, também estava na excursão. A jovem estava ouvindo música, com fones de ouvido, enquanto o namorado dormia.
— O ônibus estava em alta velocidade. De repente eu ouvi um baque mas foi tudo rápido. Quando o ônibus capotou foi desesperador. Eu berrei quando começamos a cair e depois que o ônibus parou, a preocupação era a gente estar num barranco maior, então ficamos quietos para o veículo não mexer mais — lembra.
Gabriele estava sentada próxima à janela. Quando o ônibus capotou, derrubou uma árvore e o vidro quebrado pelos galhos acabou provocando ferimentos na nádega dela. Ela precisou levar pontos e também machucou o ombro. Fernando teve um corte atrás da orelha, nos pulsos e machucou as costas.
— Eu estava dormindo. Acordei assustado com o impacto, mas só me dei conta de que era um acidente quando o ônibus parou, depois de tombar — diz.
Outros ocupantes negam alta velocidade
Enquanto uns ocupantes do ônibus relatam alta velocidade no momento do acidente, outros garante que não. O organizador da excursão Fernando Irigaray, 28, estava ao lado do motorista quando aconteceu o acidente. Ele nega que Douglas Yuri de Souza dirigia em alta velocidade:
— A viagem tranquila. Os passageiros que estavam ocupando as poltronas da frente viram o que aconteceu. O carro invadiu a pista contrária, e o motorista evitou uma tragédia ainda maior porque o motorista foi ágil e desviou dos pinheiros. O ônibus não estava em alta velocidade.
O motorista reafirma:
— Não vou dizer que não ultrapassei veículos onde podia, mas não estava correndo. Se estivesse, eles (passageiros) teriam pedido para reduzir. Não teve nenhum pedido sobre isso — garante o motorista.
Passageiros que estavam em poltronas do meio pra frente dizem não ter sentido que o motorista estivesse em alta velocidade. A promotora de vendas caxiense, Fernanda Moreira dos Santos, 37, viajava com dois irmãos e uma cunhada e relata que o impacto ocorreu cerca de dez minutos após ela ter acordado.
— Foi muito rápido, mas não vi nenhum tipo de imprudência do motorista, estávamos bem na frente, nas primeiras poltronas. O carro entrou por baixo do ônibus e fez ele tombar. Nos seguramos como deu. O vidro da frente quebrou então saímos por lá, uns foram apoiando os outros e depois aguardamos o socorro chegar — comenta.
A moradora de Bagé, Aline Nunes, 33, compartilha da mesma posição. Ela reforça que o motorista trafegava devagar em função do congestionamento.
— Se ele estivesse em alta velocidade, o acidente poderia ter sido pior, não conseguiria parar onde parou — conta.