Com o encontro antecipado para estar terça-feira (7) entre professores grevistas e representantes do governo do Estado, é grande a expectativa em torno da retomada das aulas para milhares de alunos.
Somente em Caxias do Sul, seriam cerca de 7 mil estudantes que ainda não concluíram o ano letivo. As turmas aguardam uma definição que pode sair da reunião da categoria de docentes com o secretário estadual da Educação, Faisal Karam. O encontro é um pedido do próprio sindicato e ocorreria na sexta-feira, dia 10, mas foi antecipado pelo governador Eduardo Leite. Os professores são contra mudanças no plano de carreira da categoria propostas pelo governo. Em Caxias, doze escolas ainda não encerraram as atividades dentro de um universo de 51 estabelecimentos e 30,3 mil alunos.
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O número de alunos afetados em algum momento pela greve corresponde a 23% do total de matriculados na rede. Desses, cerca de 5 mil são integrantes de oito colégios paralisados parcial ou totalmente. Nesta lista estão Imigrante, Olga Maria Kayser, João Triches, Maria Araci Trindade Rojas, Alexandre Zattera, Evaristo de Antoni, Galópolis e José Otão. Em parte dessas escolas, há algumas turmas sem aula. Há outras instituições totalmente sem atividades. Um único professor pode ser responsável por várias turmas.
No momento, quatro colégios estão com aulas no período que deveria ser de férias de verão e seguirão atendendo até a terceira semana deste mês. As escolas são Ivanyr Euclínia Marchioro, Presidente Vargas, José Venzon Eberle e Clauri Alves Flores, o que abrange 1,5 mil alunos _a escola Maguary encerrou a recuperação no dia 3, segundo a 4ª Coordenadoria Regional da Educação (4ª CRE).
A Secretaria Estadual da Educação (Seduc) sugeriu que a recuperação das aulas ocorresse entre os dias 21 de dezembro e 23 de janeiro. Os docentes sairiam de férias após esse período, no caso, entre 24 de janeiro e 22 de fevereiro. A Seduc informa que todas as Coordenadorias Regionais de Educação receberam orientações sobre a elaboração do calendário de reposição de conteúdo. A lei exige 200 dias de aula por ano letivo.
A principal dúvida dos estudantes é a questão do acesso ao Ensino Superior ou troca do Fundamental pelo Médio. Na segunda-feira (6), o governador determinou a publicação de um decreto que garanta a emissão de certidões provisórias para alunos do 9° ano do Ensino Fundamental e do 3° ano do Ensino Médio para que não tenham prejuízo em matrículas em cursos técnicos ou superiores.
— Tem colegas de mais de 10 escolas em greve, algumas com mais professores, outras com menos. Esperamos que tenha o acordo — diz o diretor-geral do 1º Núcleo do Cpers em Caxias, David Orsi Carnizella.
Professores com salário cortado
Com 392 alunos matriculados, a Escola José Venzon Eberle, no Bela Vista, concluirá a recuperação das aulas na próxima terça-feira, dia 14. A maioria dos 24 professores havia aderido à paralisação em novembro e a instituição não teve atividades durante 17 dias. No dia 19 de dezembro, uma das líderes do movimento na escola optou por retomar ao trabalho e os demais docentes decidiram suspender a greve — apenas um professor ainda está de braços cruzados. A direção esclarece que os 17 dias perdidos estão sendo recuperados plenamente e haverá tempo para que os professores e alunos tirem férias. Com isso, o reinício do ano letivo na José Venzon coincidirá com o calendário das demais instituições, previsto para o dia 19 de fevereiro.
— A comunidade nos deu o apoio para a paralisação, mas claro que havia preocupação dos pais com o término do ano, em saber se o aluno foi aprovado — detalha a coordenadora pedagógica do turno da tarde, Aline Cristina Turella.
A programação, porém, pode sofrer alterações em toda a rede uma vez que a votação dos projetos de reforma do funcionalismo estadual está prevista para o final deste mês, o que pode incendiar novamente a mobilização nas escolas e adiar o reinício do ano letivo.
Para piorar os ânimos, os professores dizem que estão sem receber salários devido ao corte do ponto dos grevistas.
— A greve aconteceu em função do pacote. Como não foi votado, voltamos ao trabalho em consideração aos pais e alunos. Acreditávamos que receberíamos o pagamento, o que não aconteceu. Estamos trabalhando de graça — aponta a professora Rosemeri Trindade, com 30 anos de magistério.
A apreensão de Rosemeri é a mesma de outros colegas de profissão. No Presidente Vargas, as aulas foram retomadas no dia 23 de dezembro e seguem até o dia 22 de janeiro. A decisão de interromper a greve teve o mesmo embasamento da José Venzon, no caso, foi motivada pelo adiamento da votação do pacote. Os 850 alunos e 49 professores e funcionários estão trabalhando normalmente, mas a direção admite que a escola certamente será incluída em outro calendário. Ou seja, as aulas devem começar após o dia 19 de fevereiro, segundo o diretor Carlos Alberto Machado. Os professores estão indignados com o corte de salários.
— Teve colega que recebeu R$ 300 no mês. O que você faz com isso? De qualquer forma, ainda acredito na educação — afirma Viviane Canali, coordenadora pedagógica do turno da tarde do Presidente Vargas.