A carcaça de concreto que restou de uma antiga fábrica, no bairro São Pelegrino, virou reduto para consumo de drogas, circulação de pessoas não identificadas e acúmulo de lixo, segundo vizinhos. O problema teria se agravado nos últimos meses. Apesar de notificações e multas do município, a solução parece distante.
As ruínas do velho pavilhão na Rua Vinte de Setembro, quadra entre a La Salle e a Ministro Toledo, próximo ao Cemitério Público Municipal, já foram endereço da antiga Acordeons Universal e, posteriormente, da Universal Preletri. A construção é ampla e faz limite com a Rua Ernesto Alves, ponto por onde os invasores entram. Nos fundos do pavilhão, as barreiras físicas parecem insuficientes. Quando a reportagem esteve no local há pouco mais de uma semana, encontrou uma porta lateral aberta e, do acesso, era possível ver lixo e dezenas de pneus velhos espalhados.
— Os pneus acumulam água, ratos. O que nos deixa com medo é que não sabemos quem está ali. Não temos segurança. É um entra e sai de pessoas, tem cachorros que passam sede, fome. Tem também muito consumo de drogas. Tudo isso nos deixa inseguros — reclama uma vizinha que pede o anonimato.
Um homem estava no pavilhão e relatou ser morador de rua. Disse que estava ali para cuidar do espaço.
— Estou limpando aos poucos, tinha muita bagunça. Foi um senhor que me pediu para ficar aqui — contou o homem, sem identificar quem seria essa pessoa.
Um vizinho afirma que há junção de cães trazidos pelos invasores, gritos e confusões à noite.
— Não sabemos quem é o dono. Faz anos que está assim, mas agora está pior — desabafa.
Notificações e multas
A reportagem apurou que as ruínas em São Pelegrino estão relacionadas a uma pendência judicial. A área da antiga fábrica tem vários donos e será leiloada judicialmente neste mês para quitar débito com credores, segundo consta em processo.
A Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU) vistoriou a construção há cerca de 10 dias e não constatou irregularidades. Segundo a pasta, o terreno já é cercado como determina a lei e os invasores têm acesso ao pavilhão pulando o muro. Portanto, não haveria como exigir adequações. A Vigilância Ambiental, da Secretaria da Saúde, confirmou que recebeu denúncias em fevereiro deste ano e houve notificações e multa para os donos da área devido ao risco da proliferação de vetores de doenças. Como a multa não foi paga, é provável que seja inscrita em dívida ativa. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, por sua vez, também já emitiu notificações pelo lixo acumulado.
A advogada Aghata Tonieto, representante jurídica de um dos proprietários, diz que houve tentativas de impedir o acesso de invasores.
— Já foram realizadas medidas como fechamento de janelas e portas com concreto e tapumes por mais de uma vez, mas a região é conhecidamente perigosa e com pouca iluminação e segurança pública, o que permite que ações contra o patrimônio ocorram. Caso a situação persista, a solução é buscar uma medida para que o poder judiciário interfira e, se necessário, se utilize da força policial para que se evite ocupação irregular dos terrenos — diz a advogada.