Por que o povo foi para as ruas nos últimos anos? Não existe uma única resposta para essa pergunta. As manifestações tinham, claramente, um caráter político — o que não as descredencia. Mas é preciso extrair delas uma motivação mais profunda, que explique o que foi capaz de levar tantos brasileiros de bem a dedicar seus domingos a um protesto em favor do país.
O ato tem consigo uma demonstração de fé no Brasil, de patriotismo. Se as pessoas pedem mudanças, é porque não querem desistir da nação. Mais do que nomes e partidos, mais do que a simples troca de comando do país, mais do que ideologias, está na alma do brasileiro uma profunda vontade de transformação. Note-se: uma prática de conformismo e comodismo foi rompida como claro sinal à classe política. E esse clamor é ordeiro e democrático, vindo de todos os setores. Há os tresloucados e histriônicos, mas a grande maioria quer viver e deixar como legado um país melhor aos seus filhos.
Chamo isso de espírito de reforma. Há abertura para mudanças em todas as áreas, mesmo com as doses de sacrifício que se fizeram necessárias. O pais já sofreu demais nos últimos anos, especialmente com o desemprego e a criminalidade. Nossa Constituição como um todo, datada de 1988, e nosso modelo político, especificamente, ainda mais arcaico, já não respondem mais aos parâmetros da sociedade moderna. O sistema tributário, dos mais complexos e caros do planeta, trava a economia — ao invés de promover o desenvolvimento. As instituições se distanciaram da sociedade, que não se sente mais representada.
A crise é geral e irrestrita, mas os brasileiros não querem rompimento; querem construção, e pela via da democracia e das reformas. A terra das consciências está mexida para uma nova lavoura. Apesar dos muitos pesares, sou otimista — pelo menos em relação ao sentimento do povo. Que o temor, a angústia e a desesperança se transforem em atitude. Sem medo e com esperança, é tempo de reformar o país.
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