Sentado com amigos em um dos canteiros da Praça João Pessoa, no bairro São Pelegrino, em Caxias do Sul, o aposentado Pedro Fonseca, 81 anos, contempla o espaço que frequenta há 30 anos.
— Venho para a praça todos os dias conversar com os meus amigos e aproveitar quando o tempo está bom e nunca vi o espaço tão mal cuidado. A praça está abandonada. Precisa de reforma, ser limpa e conservada, porque a situação está muito pior agora — desabafa o morador da Rua Bento Gonçalves.
A percepção é a mesma para o aposentado José Paulo Godoy, 60. Ele morou muitos anos em frente a João Pessoa, na Avenida Júlio de Castilhos. Hoje, vive em Santa Maria e como veio visitar os filhos aproveitou para ir até um dos seus pontos preferidos na cidade.
— Sem o Monumento à Itália, a praça perdeu sua história. Foi a primeira coisa que percebi quando vim aqui. Os canteiros estão sem flores, os bancos estão sujos e está mal conservada. A cidade perde um espaço de lazer e de descanso.
A alguns metros da praça fica um dos cartões postais mais frequentados pelos turistas: a igreja de São Pelegrino. A falta de conservação é um dos assuntos dos fiéis que passam pelo local para ir à missa. Àqueles que atravessam a praça a caminho do trabalho ou da escola também consideram o local abandonado.
De acordo com o presidente da Associação de Moradores (Amob) do bairro São Pelegrino, Vanderson Alex dos Santos Lopes, a cobrança pela revitalização da praça é antiga.
— Estamos cobrando melhorias há um ano e meio. Como não somos mais recebidos pelos secretários e as demandas são via Alô Caxias ou na Coordenadoria de Relações Comunitárias, o processo demora muito mais. Procurei o município com frequência e não adianta. A praça está suja. É só observar os bancos e os canteiros para perceber o abandono. Sem falar da remoção do Monumento à Itália, que foi retirado dois dias antes da abertura da Festa da Uva. Sabemos que tem que restaurar depois do acidente que destruiu a peça, mas e essa demora? — questiona.
Ele observa que não são apenas os moradores que perdem um espaço de lazer e descontração, mas os turistas também:
— O único atrativo da praça é a banca de revistas, que corre o risco de ser retirada. O que os turistas vão fazer num espaço completamente abandonado e sujo?
Uma das frequentadoras da banca, que prefere não se identificar, destaca que, se a banca for retirada, como determinou o prefeito Daniel Guerra (PRB), a praça perde ainda mais de sua identidade.
— A banca é um referencial histórico e cultural, guarda a memória da cidade e hoje é o que há de mais belo na praça. Com certeza a banca conserva esse espaço e atrai visitantes.
O proprietário da banca Rogério de Mello lamenta a possibilidade de ter que deixar o espaço. Ele administra o quiosque há 40 anos:
— A banca é um bem cultural necessário que está inserido na história da cidade e um ponto de encontro para os moradores do bairro São Pelegrino — ressalta.
CONTRAPONTOS
O que diz a Secretaria do Meio Ambiente
O diretor de Serviços da Secretaria do Meio Ambiente, Luís César Vacchi, ressalta que devem ser plantadas flores até o final da semana .
— Estamos finalizando o plantio nos canteiros da Júlio e assim que concluirmos este trabalho, vamos plantar nos canteiros da Praça João Pessoa. Vamos limpar os bancos e já compramos tintas, mas elas devem chegar no final de julho — afirma.
O que diz a Secretaria de Cultura
O Monumento à Itália, que é o mapa do país europeu, foi parcialmente destruído depois de ser atingido por um carro em junho de 2017. Um ano e sete meses depois de o veículo partir ao meio a tradicional "bota", a peça foi retirada da praça e encaminhada para o atelier do artista André Gnatta, no bairro São Luiz, onde ocorre o restauro.
A demora para o início do restauro, informa a secretaria, ocorreu devido às negociações com outros artistas, que não se confirmaram. Inicialmente, o trabalho ficaria a cargo do escultor João Bez Batti, de Bento Gonçalves, que não pôde realizá-lo por questões pessoais. Em seguida, o município iniciou o processo de contratação de Luiz Henrique Fitarelli, mas as negociações não avançaram por questões documentais.
De acordo com o secretário da Cultura, Joelmir da Silva Neto, o prazo para restaurar e recolocar a peça de volta no espaço segue até agosto.
— Trabalhamos com uma média de seis meses entre o restauro da peça e a recolocação do Monumento à Itália. A retirada foi mais trabalhosa do que imaginávamos e o processo de restauro é delicado, então corremos o risco de problemas durante os trabalhos. A parte de perfuração com água para a implantação de haste de aço e resina para unir as duas metades e a colagem de uma das partes já estão concluída. Agora, falta parte do acabamento e a finalização— ressalta Neto.
A base da escultura vai ter 40 centímetros, em vez dos 16 atuais para destacar o mapa e proteger de eventuais acidentes. A restauração está orçada em R$ 11,5 mil e será paga pelo município, que depois pedirá reembolso ao motorista responsável pelo dano.
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