Mesmo com a retomada das cirurgias eletivas (consideradas não urgentes) no Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul na última terça-feira, o cenário para quem precisa passar por este tipo de procedimento não é nada animador. Dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) apontam que 5.046 pessoas aguardam por algum tipo de procedimento no município. No topo da lista das cirurgias eletivas autorizadas e não realizadas, está a traumatologia, com 1.216 pacientes na espera. Em segundo lugar, o procedimento mais aguardado é a cirurgia geral com 1.155 pessoas, seguida pela ginecologia com 390 mulheres aguardando (veja o levantamento completo abaixo).
O tempo de espera varia para cada especialidade, mas geralmente os pacientes permanecem na fila durante um ano. O prazo pode ser maior ou menor por conta da capacidade física do hospital que realiza o procedimento.
— A espera é grande porque falta estrutura de atendimento. Teve um crescimento exponencial da população, sem aumento no número de leitos em hospitais de alta e média complexidade — avalia o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Trindade.
Quem se encaixa no tempo de espera informado pela Secretaria da Saúde é o pequeno Bryan Paim Rodrigues, 4 anos. Ele necessita de uma cirurgia de adenoide, aguardada desde fevereiro do ano passado. O procedimento é realizado pela Clínica Clélia Manfro, mas ainda não tem previsão de ocorrer. Enquanto isso, o menino sofre com a dificuldade para respirar e as constantes infecções.
— A cada dois meses, pelo menos, infecciona o ouvido e a garganta. Tem momentos, principalmente à noite, que parece que ele não vai mais respirar. Ele se tornou uma criança agressiva, mal-humorada. Isso tudo em função da saúde dele. A gente fica revoltado pela demora — diz a avó materna de Bryan, Eva Borges Paim.
Segundo a SMS, a cirurgia de Bryan depende da demanda de atendimento da clínica. Atualmente, são ofertadas cinco cirurgias mensais. A intenção da secretaria e da instituição é passar este número para 21, para agilizar o atendimento da demanda reprimida. Mesmo assim, a operação do menino segue sem data para ocorrer.
Espera de Flávio está perto de acabar
Há dois anos, as muletas são companheiras inseparáveis do motoboy Flávio Vanderlei Dalanholi Correa, 51 anos. Elas fazem parte da rotina desde que ele se acidentou com uma motocicleta em fevereiro de 2017. Por conta disso, o trabalhador teve que passar por uma cirurgia de colocação de pinos em um dos joelhos e na tíbia (osso da perna).
No entanto, conta que o corpo recusou o material e há necessidade de retirá-lo, procedimento que é aguardado pelo motoboy desde fevereiro do ano passado.
— Eu não consigo pisar no chão. Os primeiros 60 dias depois do acidente, eu ficava só sentado ou deitado, emagreci 35 quilos. Agora, isso aqui (apontando para as muletas) me estressa. Eu tenho dificuldade para fazer tudo. Dependo dos outros — diz.
Um ano e quatro meses depois da autorização, Correa finalmente deve ser operado no próximo dia 27, no Hospital Pompéia. Mas a luta está longe de acabar, após a retirada dos pinos, o motoboy deve passar por fisioterapias para se preparar para um novo procedimento, a colocação de uma prótese no joelho.
— Se essa cirurgia que era simples, já demorou mais de um ano. Imagina a próxima — lamenta o profissional.
AUTORIZADAS E NÃO REALIZADAS *
Traumatologia: 1.216
Cirurgia geral: 1.155
Ginecologia: 390
Vascular: 327
Urologia: 294
Mastologia: 257
Cabeça/pescoço: 257
Cirurgia pediátrica: 208
Cardiologia: 191
Cirurgia plástica:161
Bucomaxilo: 120
Cirurgia torácica: 133
Proctologia: 107
Oftalmologia: 101
Neurologia: 86
Otorrinolaringologista: 43
Total: 5.046 na fila
* Até dia 6 de junho de 2019
O QUE DIZ A SMS
Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que realizou 11.534 cirurgias eletivas em 2018 nos hospitais Pompéia, HG e Virvi Ramos. A pasta diz que está revendo os contratos com os prestadores de serviço para aumentar a oferta de procedimentos.
A intenção também é investir em mutirões para cirurgias. No entanto, a SMS reconhece que a realização destes procedimentos "é mais complexa, porque depende da adesão dos hospitais parceiros, que operam no limite de sua capacidade no que se refere à disponibilidade de leitos, especialmente durante o inverno".
A última ação deste tipo ocorreu entre outubro e dezembro do ano passado, quando foram ofertados 255 procedimentos extras nas áreas de ginecologia, urologia, otorrinolaringologia, ortopedia, cirurgia geral e vascular.
A secretaria também apontou que outra ação para reduzir as filas de cirurgias eletivas foi a abertura do Ambulatório de Ortopedia de Média Complexidade, junto ao Hospital Virvi Ramos. No local, além de consultas, os pacientes podem passar por cirurgias de pé, mão, joelho e ombro. Antes, apenas o Pompéia realizava cirurgias ortopédicas.
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