Chorão e Gorda são dois cães comunitários que vivem na Escola Estadual João Corrêa, em Canela. Os animais recepcionam diariamente os alunos há mais de dois anos. Os mascotes chegaram à escola em um dia de forte chuva e, desde então, fizeram do colégio seu lar e dos estudantes uma família.
O carinho e o cuidado são mútuos. A convivência entre a comunidade escolar e os animais foi ameaçada na última semana, depois de uma denúncia anônima, encaminhada a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), pedir providências em relação aos cachorros. A denúncia, no entanto, fortaleceu o sentimento de cuidado dos alunos, professores e funcionários com os mascotes. Os estudantes protestaram contra a possibilidade dos cães serem retirados da escola.
A diretora da escola, Nubiane Gama, conta que o Grêmio Estudantil organizou, no dia 14 de junho, um abaixo-assinado e um vídeo para mobilizar a comunidade e evitar que os mascotes precisassem ir embora. Ela conta que o protesto emocionou pela sensibilidade e engajamento dos alunos:
– Os estudantes mais novos estavam com cartazes escritos em folhas de caderno, o que nos deixou muito emocionados porque eles produziram os desenhos e pedidos para manter o Chorão e a Gorda na escola. Eles tinham bilhetes e cantavam “queremos dogs”. Estavam muito preocupados com a possibilidade de os cachorros terem que sair da escola. Os pequenos do terceiro e quarto anos estavam enlouquecidos e engajados para manter os mascotes.
A coordenadora da 4ª CRE, Janice Moraes, também se manifestou sobre o assunto. Ela explica que a Lei 15.254, de 17 de janeiro de 2019, que dispõe sobre Animais Comunitários no Estado do Rio Grande do Sul, garante que eles permaneçam no colégio:
– Um dos eixos da Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave) trabalhado nas escolas é a proteção aos animais e, então, não teria porquê a coordenadoria ficar contra esse acolhimento. A partir da lei, não é mais proibido e, por isso, eles vão seguir na escola. Claro que tem cuidados que devem ser seguidos, como manter os vermífugos e as vacinas em dia e não deixar eles entrarem no refeitório, por exemplo.
Para alinhar o assunto, diretoria e 4ª CRE se reuniram na última terça-feira.
– Conversamos sobre o assunto e analisamos juridicamente a lei, que prevê o amparo aos animais comunitários. A manifestação dos estudantes e a união deles em prol de uma causa é um exemplo a ser seguido e um incentivo a adoção. Há tantos animais que precisam de um lar e de cuidados – ressalta Janice.
A diretora reitera que a manifestação realmente é um exemplo de solidariedade dos estudantes:
– Ter o animal é terapêutico e pedagógico, porque trabalhamos a solidariedade, o cuidado e a responsabilidade de cuidar da vida deles. Nós fazemos vaquinha para comprar ração, fazer as vacinas e comprar as medicações necessárias e assim eles aprendem os cuidados. Eles, geralmente, não dormem na escola, mas é porque chega no horário da saída e eles saem. Por nós, eles podem continuar aqui. Em dias de muita chuva e frio, eles ficam aqui nas caminhas, e agora ganharam cobertinhas também. Os dois são um doce e o final da história foi positivo porque nossos alunos se engajaram para manter os cães aqui.