A marca de queimado na pista é quase imperceptível para quem passa pelo km 155 da RSC-453, a poucos metros do trevo de acesso ao distrito de Fazenda Souza e ao bairro Ana Rech, em Caxias do Sul. Ali, no entanto, duas pessoas morreram queimadas após o veículo que ocupavam colidir contra uma caminhão carregado de frutas no início da noite de quinta-feira.
O automóvel, conforme boletim de ocorrência, estava atravessando o trevo quando foi atingido. O trecho é bastante conhecido, justamente pela periculosidade, que já ocasionou dezenas de acidentes, inclusive com mortes, nos últimos anos.
Atualmente, placas próximas indicam realização de obras no local. Porém, é apenas fachada: desde o ano passado, os trabalhos de reformulação do trevo estão parados. A justificativa do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) é que um entrave no fornecimento asfáltico travou a reformulação. A autarquia informa que o serviço for paralisado em dezembro, porém, em novembro de 2018, a Gaúcha Serra divulgou que máquinas não eram vistas no local pelo menos desde outubro.
Assim, a obra iniciada em setembro de 2017, cujo prazo de conclusão era de cerca de 60 dias, já dura 16 meses. Diariamente, motoristas continuam a correr riscos ao acessar ou cruzar a rodovia. E pior: o perigo está ainda maior, pois a sinalização do local é confusa e problemática.
— Para quem conhece o trecho até se vira, mas quem não conhece se complica. Tá bem ruim esse acesso — comenta um caminhoneiro que aguardava para atravessar a rodovia e que não se identificou.
O tráfego de caminhões, inclusive, é predominante, uma vez que pelo trevo escoa parte da produção de algumas localidades da região, como São Bráz e Fazenda Souza.
— Está muito perigoso. Não tem sinalização nem antes e nem no próprio trevo — afirma o motorista Cláudio Oliveira.
A sinalização, de fato, é precária. Boa parte do trecho está sem pintura, incluindo a divisão das pistas. Com isso, veículos se aglomeram de forma desordeira e congestionam principalmente para motoristas vindos da entrada de Fazenda Souza para acessar a Rota do Sol ou pretende fazer o cruzamento.
Sobre isso, a assessoria do Daer informou em nota que a pintura não ocorrerá "porque o canteiro central será fechado assim que as obras forem retomadas". Por outro lado, a autarquia comunica não ser possível estimar quando os trabalhos serão retomados e concluídos no trecho.
A rotatória
O trecho vai ganhar uma rotatória central e canteiros para direcionar os fluxos de trânsito. A faixa da rodovia vai passar por alargamento e os veículos que trafegam entre Ana Rech e Fazenda Souza não precisarão cruzar os dois sentidos da Rota do Sol de uma só vez, como ocorre atualmente com a chamada rótula aberta. Os motoristas que seguem pela Rota do Sol terão passagem livre. Ao todo, a intervenção vai ocorrer ao longo de 200 metros da Rota do Sol.
Justificativas se repetem
A nota encaminhada pela assessoria do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) informa que apesar de não haver prazo para retomada e finalização, a obra é tratada como "prioridade" pelo Estado. A promessa, no entanto, se repete. Quando o governo de José Ivo Sartori (PMDB) anunciou o início das obras em setembro de 2017, a expectativa era alta: previa-se que os trabalhos estivessem concluídos até final de outubro. Algumas semanas antes do prazo projetado, porém, a estimativa foi estendida para cerca de quatro meses. Também essa não se cumpriu e o que hoje se vê é uma obra em condição de abandono.
"Em relação a intervenções nas rodovias, o governo do Estado está buscando os recursos disponíveis para que o fornecimento de material asfáltico seja normalizado, garantindo, assim, o ritmo desejado das obras rodoviárias", diz em nota o Daer.
A justifica também não é novidade. Em novembro de 2018, quando confirmou a paralisação das obras, a autarquia também alegou o mesmo motivo. Contudo, posteriormente, havia informado à RBS que a situação já havia sido resolvida, o que acabou não se confirmando.
"Foi pago parte do valor e, após uma nova avaliação, será necessário um novo aporte para quitar totalmente o valor pendente com a empresa fornecedora de asfalto", esclarece a nota.
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