Com a promessa de oferecer um espetáculo mais simples — porém artístico e coreografado, que incorporaria elementos da própria cidade, como o chafariz da Praça Dante Alighieri — o primeiro desfile da Festa da Uva entrou na Rua Sinimbu por volta das 20h40min de ontem. O corso é o mesmo que seria apresentado no último domingo e que precisou ser transferido devido à chuva. Conforme a Brigada Militar, entre 10 mil e 15 mil pessoas acompanharam o espetáculo, cerca de metade do esperado pela organização.
O formato desta edição, conforme a organização, usou a linguagem teatral como forma de resgatar as raízes da cidade. Com direção artística do coreógrafo Matheus Brusa e roteiro original de Ranulfo e Rafael Homem, integrantes do grupo teatral Molhados na Chuva, a ideia central foi transformar a Sinimbu em uma estrada férrea, por onde os vagões — os carros alegóricos — transportassem a cultura da Itália até o Rio Grande do Sul. Os tratores voltaram a puxar as alegorias neste ano, situação que não acontecia desde 2004. A justificativa, conforme a organização, foi fazer um resgate histórico e homenagear os colonos, que usam o veículo nas lavouras.
O primeiro carro a desfilar foi o do solo gaúcho, acompanhado de quatro alas, que apresentaram coreografias, percussionistas com bombos legueros e figurantes pilchados. Com a participação de integrantes de CTG de Caxias do Sul, a ideia era resgatar as tradições gaúchas, prestando uma homenagem à terra que acolheu os primeiros imigrantes.
Logo de início, porém, parte do público sentiu falta de algo mais grandioso para representar a festa na rua.
— Que saudade dos desfiles antigos. Esse está muito moderno. Perde o simbolismo da festa— lamentou o vendedor Fernando Oliveira, 36 anos.
Até quem já participou do desfile do outro lado não estava satisfeito. O eletricista Luis Gustavo Pereira da Costa, 60 anos, que já atuou como figurante, reclamou que o corso deste ano não trouxe nada de novo:
— Este é o pior dos últimos 10 desfiles que vi. Nem os turistas vieram. Muito mal organizado. Os figurantes de hoje não têm nem vontade de interpretar.
Logo depois, surgiu na Sinimbu um navio, com figurantes representando a chegada dos primeiros imigrantes. Figurantes traziam trouxas, representando a chegada dos italianos. O turista de Porto Alegre Carlos Fagundes, 60, gostou do que viu:
— Foi muito bom ver a tradição do italiano sendo valorizada, a história sendo contada desta forma.
Na sequência, as duas alas seguintes destacaram a vindima e o trem. As pessoas puderam acompanhar a colheita da uva, também distribuída ao público para degustação dentro de pequenas cestas.
A gastronomia foi apresentada na ala seguinte e representou o período de 1920 com pratos típicos da Itália. Logo após, a fé e a devoção foram os destaques da ala da religiosidade.
Logo atrás, foi apresentado o carro da Indústria. Os artistas interpretaram estilos de danças urbanas ao som de uma orquestra percussiva. Foram utilizados instrumentos de metal e os artistas no carro alegórico dançavam com botas de borracha.
— Trouxemos até a pipoca, mas esperávamos um pouco mais de ousadia e inovação. Achei os figurinos modestos e os carros são ridículos — pontuou o comerciante José de Mello, 56, de Torres.
Como Caxias do Sul reúne diversas culturas e raízes, a Miscigenação lembrou ao espectador do desfile que os imigrantes de diversos países, como Senegal e Haiti, fazem de Caxias o que ela é.
O carro mais esperado da noite — o que traria a rainha e as princesas — foi o último a passar. Neste ano, porém, Maiara Perottoni, Viviane Gaelzer e Milena Caregnato vieram em uma alegoria bem pequena e não exclusiva. Na parte de trás, quase que escondidas dentro do carro — batizado de Vagão Imperial — desfilaram também as embaixatrizes.
O término do desfile lembrou um desembarque do trem, com as soberanas, figurantes e artistas se dirigindo para a Praça Dante Alighieri, por volta das 22h30min.
- Uma Festa que celebra a nossa gente e encanta a todos que aqui chegam e que nos trilhos de Caxias do Sul embarcam e desembarcam todos os dias. Gente que não conhece o cansaço e acordam todos os dias com empenho e dedicação e com a herança que receberam, o trabalho - destacou a rainha.
A Praça recebeu no seu entorno um espetáculo musical que não teve hora para terminar.