Depois de novos relatos de moradores sobre forte estrondo e tremor de terra pelo segundo dia seguido em Caxias do Sul, o geólogo Nério Susin reforçou que a possibilidade de se tratar do efeito de uma detonação é praticamente nula. Susin foi professor da Universidade Federal de Santa Catarina e da Unisinos e, atualmente, presta assessoria na área da Geologia.
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– É extremamente improvável, para não dizer impossível, que alguém faça detonações durante a noite. É um serviço muito perigoso, que exige conhecimento. E apesar de ser um evento que causa uma força muito grande, a detonação não abala dessa forma uma extensão tão ampla – ponderou o geólogo.
Sobre os eventos terem ocorrido na última segunda e quarta-feira mais ou menos no mesmo horário, por volta das 21h, Suzin disse que não saberia dizer se há uma explicação, mas garante que não existe relação com fenômenos da superfície.
– Esses eventos ocorrem a uma profundidade relativamente grande, mais de um quilômetro abaixo do solo. Acredito que esteja relacionado a movimentos naturais da crosta terrestre – explica.
Moradores temem evento mais forte
Rosilene Ecker Mazzuco, 50 anos, mora no bairro Cruzeiro, e conta que se assustou com o barulho no momento do tremor.
– Estávamos sentados na sala quando sentimos o chão tremer. Foram duas noites quase no mesmo horário. Isso que é estranho – relatou.
O professor Ronei Teodoro da Silva estava ministrando aula de Direção de Arte para o curso de Publicidade e Propaganda no bloco T, da Universidade de Caxias do Sul (UCS) quando ocorreu o tremor.
– Foi um estrondo, como se algo muito pesado tivesse caído dentro do prédio. Sentimos o chão tremer. A tremida foi leve, mas o que mais assustou foi o barulho. Quando houve o barulho todos se assustaram. Depois, começaram uma risada meio nervosa, por ser a segunda vez seguida – relatou o docente.
O geólogo Nério Susin descarta totalmente a hipótese de a região registrar um tremor de grandes proporções. Ele explica que um tremor que chegue a magnitude 4 na Escala Richter, apesar de bem mais forte, ainda não seria capaz de causar grandes danos estruturais e teria que ser 100 vezes mais forte do que o de magnitude 2, registrado em Caxias na noite de segunda-feira.
– Não se tem notícia de que uma costa pacífica como a do Atlântico tenha esse tipo de fenômeno tectônico – explanou Susin.
Sobre a possibilidade de se antecipar a ocorrência de novos eventos, o geólogo disse que não há uma previsibilidade porque além da distância em que ocorrem, quilômetros abaixo do solo, não há como medir a intensidade da energia acumulada nas rochas. A energia se acumula devido a compressão enorme de dois blocos rochosos. Quando a resistência da rocha é menor do que a força dessa compressão, ocorre a ruptura causando o terremoto e a liberação dessa energia que gera o barulho e o movimento do solo.
O Observatório de Sismologia da Universidade de Brasília (UnB) está analisando se houve algum registro do tremor desta quarta em Caxias. É possível que o evento tenha sido muito leve e que, por isso, não tenha sido registrado.