Dos 86 clubes de mães existentes em bairros e distritos de Caxias do Sul, estima-se que pelo menos 10 corram o risco de perder o espaço onde atualmente funcionam, segundo a vice-presidente da Associação de Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS), Marlene Capra Panazzolo. Isso porque as sedes estariam em imóveis do município que foram requisitados pela prefeitura. A administração municipal tem buscado o uso de imóveis onde funcionam centros comunitários e sedes de associações de bairros, por exemplo, para a instalação de escolas, postos de saúde ou centros de assistência social. Foi o que aconteceu no último dia 4, no bairro Desvio Rizzo, quando o clube de mães Santa Rita de Cássia foi comunicado de que deveria deixar o local para que uma escola de educação infantil fosse instalada ali.
Diante do temor de novos despejos, cerca de 50 integrantes de clubes de mães protestaram na tarde desta terça em frente à prefeitura. Insatisfeitas com a ordem de devolver imediatamente o prédio no bairro Desvio Rizzo, elas pleitearam uma reunião com o prefeito Daniel Guerra (PRB). Após cerca de uma hora de protesto, pelo menos 30 mulheres reuniram-se com Guerra e pediram que ele reconsidere a decisão.
— Não avançamos em nada, mesmo nos reunindo com ele. O que ficou decidido é que a secretária de Educação e um engenheiro irão nos visitar na próxima terça. O prefeito pediu que indicássemos lugares para ter uma creche, no lugar da nossa sede, e apresentássemos para a secretária. Mas sabemos que não irá mudar nada — lamenta Marlene.
Em diversos casos, os centros comunitários foram construídos pelos moradores dos bairros em terrenos cedidos pelo município, caso do Desvio Rizzo. O clube de mães Santa Rita de Cássia funciona na Rua Romano Zattera, no segundo andar de um prédio onde, no primeiro andar, funciona uma escola de educação infantil que atende 90 crianças entre zero a cinco anos. A intenção da prefeitura é utilizar o segundo andar para atender mais 90 crianças.
— Nós lembramos ao prefeito que nós carregávamos material na carriola para vender e trocar por dinheiro, para construir o centro. Ele está mexendo com a nossa saúde. Pedimos que repense porque o clube de mães é importante para muitas pessoas — defende.
Em nota divulgada no fim da tarde de ontem, a prefeitura afirma que o prefeito registrou as demandas das mães e explicou que todas as medidas tomadas pelo Executivo tem como objetivo sanar o déficit de vagas para crianças da região.
— Pedimos que avaliassem todos os terrenos da prefeitura no bairro. Dois terão encaminhamento para saúde e educação, com construção de uma escola, mas a longo prazo. Não temos dinheiro para comprar um terreno novo e compramos todas as vagas possíveis oferecidas pelas escolas particulares já credenciadas do bairro — salientou Guerra.
Mesmo com ampliação de creche, déficit continuaria
A vice-presidente da Associação dos Clubes de Mães manifestou repúdio à medida da prefeitura, pela forma como foi decidida e comunicada. Marlene Panazzolo relata que foi a comunidade do Desvio Rizzo que construiu o prédio onde funcionam a escola e o clube de mães, além de ter erguido um pequeno posto de saúde e a subprefeitura do bairro, como contrapartida da cessão do terreno pelo município, ainda na época do prefeito Mansueto Serafini.
Ela também argumenta que o clube de mães faz um importante trabalho voluntário, com doação de roupas a recém-nascidos, alimentos e também é um espaço importante para o convívio de pessoas idosas. Marlene questiona se a prefeitura não teria outra forma construir uma nova escola.
— Neste mesmo local o terreno é grande, e permite que seja feito um projeto semelhante na lateral do prédio — afirma.
A secretária de Educação, Marina Matiello, explica que o bairro tem uma das maiores demandas por vagas na educação infantil da cidade, ao lado do Serrano e do Esplanada. Só no Desvio Rizzo, 550 crianças estão na fila de espera. Mesmo com a ampliação da escola utilizando o espaço do clube de mães, essa demanda não seria contemplada.