A repercussão gerada pela visita ao complexo da Maesa na última segunda-feira motivou o diretor do Grupo Voges, Osvaldo Voges - junto a integrantes da diretoria - a prestar esclarecimentos aos apontamentos feitos por membros do poder público. Na manhã de sexta, em coletiva de imprensa, ele manifestou indignação com a postura da prefeitura em relação ao andamento do processo de desocupação da estrutura e com as alegações quanto ao suposto descaso com que a empresa estaria tratando o tema.
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Confira abaixo trechos da entrevista concedida pelo empresários aos repórteres Mateus Frazão, do Pioneiro; Diego Mandarino, da Gaúcha Serra; e Cláudia Alessi da RBS TV Caxias:
Qual é a atual situação da desocupação?
Osvaldo Voges: Estamos saindo. A velocidade é que não está adequada. Tem aluguel atrasado, mas queremos negociar, mas, de novo, não há diálogo. Desde que esse governo assumiu a gente é tratado só no âmbito da justiça. Cadê o diálogo? Dialogamos com quatro governos (de Pepe Vargas, do PT, José Ivo Sartori, do MDB, e Alceu Barbosa Velho, do PDT), todos sempre disseram que era importante permanecer para cuidarmos e não ter invasões. Troca de prefeito e no sexto dia de governo recebo carta de despejo. Uma empresa que está gerando emprego, gerando renda. Sem fundição (setor que sairá do complexo) não há fábricas de motores (outra unidade da empresa). A prefeitura quer ser responsável por isso?
O primeiro prazo para saída era até final de 2017. Depois recalcularam até 31 de julho deste ano e agora vocês estão propondo nova data. É possível garantir que esse novo prazo vai ser cumprido?
Nós não estamos brincando. Estamos trabalhando muito sério. A recuperação dessa empresa é uma luta contínua. Lutamos pela nossa sobrevivência. Esse prazo é pensado e trabalhamos com alguns itens de antecipar. Acreditamos nisso e queremos que seja antecipado. O que eu não entendo é para que essa pressa de nos tirar? São mais de R$ 3 milhões de custos (que geraria a realocação), fora os outros R$ 3 milhões que já gastamos. Por que a pressa se não estão usando nem a área deles? Em maio procuramos (a prefeitura) alertando da dificuldade, pedimos uma prorrogação. Em três dias recebemos um não como resposta.
O que tanto lhe desagradou na postura da prefeitura?
Quando vejo secretário dizer "Ah, o Voges não paga aluguel e não paga os funcionários". Tem algum funcionário meu sem receber? Tem gente que saiu, teve gente que tiramos e temos problemas para pagar, mas estamos discutindo no tribunal adequado, na recuperação. Mas misturar assuntos? Qual é a ideia? Atacar a empresa? Atacar a pessoa? Uma coisa é nossa recuperação. Só trabalhando mais para nós podermos pagar e é o que estamos fazendo. Então vem uma força negativa para nos travar, nos parar. Não podemos aceitar ataques repentinos, repetidos. Nunca negamos dívida com ninguém. Somos uma empresa em recuperação judicial. E vir aqui e dizer que estamos poluindo e temos ambiente nocivo é um absurdo. Ele não tem ideia do que ele falou. Criou uma inverdade absoluta. Por que uma acusação tão séria com total desconhecimento da questão fabril? A gente está avaliando uma possível responsabilização do secretário (da Cultura). É um absurdo o que ele falou. Talvez tenha colocado em risco 230 empregos (total de trabalhadores da fundição) . Talvez tenha colocado em risco uma empresa inteira, que vive uma recuperação, na qual se recupera. Esta empresa contratou 63 pessoas nos últimos dois meses.
Qual acusação exatamente o senhor está falando?
Ele disse claramente que é uma "área tóxica e faz mal à saúde". Pergunto a ele: o que faz mal à saúde? Onde está a toxicidade? Onde estamos trazendo alguma doença? Trabalhamos com EPI, dentro da lei, com respeito ao ser humano. Ele conhece uma fundição de ferro? É uma posição muito séria. Éramos 800 fundições no Brasil nos anos 2000, hoje somos 250. Nossa areia não tem nenhum contaminante. Não fazemos nada para ninguém, nunca fizemos nada para ninguém. A nossa areia é usada para asfalto, blocos, tijolos. E quando você diz que algo é contaminado, ninguém compra de local contaminado.
Caso a prefeitura solicite entrar no lado da Voges para fazer o levantamento que alegam ser necessário para a continuidade do projeto, haveria essa viabilidade?
Há uma celeuma com relação à entrada, só não permitimos se aproximarem dos fornos porque é uma área fabril. Fora isso, nós nunca fechamos a porta para ninguém. A prefeitura sempre teve acesso, mesmo quando era área privada. Nós voltamos a colocar cerca porque tínhamos receio de pessoas que viessem da prefeitura e adentrassem a fábrica como encontramos duas ou três vezes. Temos uma fábrica que trabalha com metal a 1,5 mil graus.
A prefeitura também estava preocupada com supostas intervenções / descaracterização...
Por 65 anos o complexo funcionou como uma indústria, só nos últimos quatro foi tombados. Tem pavilhões que foram construídos há oito anos, que nós colocamos e não têm nada de histórico. Há uma visão distorcida do que é o patrimônio aqui dentro. Parece que tem um lindo museu montado aqui e tem uma empresa destruindo ele. Entramos aqui há 15 anos e limpamos um local contaminado, o que tratamos antes mesmo de comprar e controlamos até hoje. Há anualmente consulta de solo. Sempre mantivemos limpo o local. A Maesa é nossa e eu me incluo. Quero meus filhos aqui. O nosso lado é bem cuidado. Aquela praça (está entre as áreas já entregues) era linda quando estávamos lá, agora não é mais. Nos responsabilizar de algo que não é mais nosso não é de bom tom.
A empresa, então, não estaria atrapalhando o projeto do município?
Toda a parte (do complexo) que fica na Rua Treze de Maio foi devolvida há dois anos e meio. Está disponível para a prefeitura. Prédios inteiros liberados. Também na Dom José Baréa, da metade para a frente, está liberado o complexo. 70% está de posse da prefeitura há mais de dois anos. Áreas que sequer usávamos. Eles têm de assumir o que é deles. Eles têm dois terços de área para trabalhar à vontade. Não iam vir secretarias? Por que não estão aqui? Por que depois de dois anos vêm nos responsabilizar por uma área que não usamos?