Além da batalha contra um câncer linfático, a dona de casa Dilsa Demetrio Ribeiro, 30 anos, enfrenta luta desesperada contra o tempo em busca do medicamento Brentuximab Vedotin, que pode amenizar a dor e permitir que ela viva melhor. Como o custo do produto é alto e ele não é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — cada ampola custa cerca de R$ 18 mil e, para cada ciclo, são necessárias duas ampolas — ela entrou na Justiça e conseguiu que o governo federal pague o tratamento, que custa R$ 575.520,00. Ela recebeu seis aplicações do medicamento, sendo que a última dose foi feita no dia 30 de abril. A aplicação marcada para o dia 21 de maio, no entanto, foi cancelada porque a União não forneceu o restante do remédio.
Até o momento, não foi fornecido o medicamento nem o valor para a compra dos outros 10 ciclos da medicação. A defesa de Dilsa solicitou o sequestro do valor nas contas do Tesouro Nacional. A União recorreu e, desde que foi intimada, nos autos do processo consta a informação de que o medicamento está em processo de compra pelo Fundo Nacional de Saúde. Contudo, a defesa da paciente foi informada de que não existe saldo na conta do fundo. Enquanto isso, o tratamento prescrito pelo médico foi interrompido e o estado de saúde de Dilsa tem piorado. O Brentuximab Vedotin é importado e apresenta resultados positivos em pacientes com câncer recidivo, ou seja, quando a doença retorna após um primeiro tratamento.
Dilsa foi diagnosticada com linfoma Hodgkin estágio IV em 2014. O Hodgkin é uma forma de câncer que se origina nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático. Ela enfrentou sessões de quimioterapia e um transplante de medula óssea autólogo. Exames, porém, indicaram que a doença voltou um ano e dois meses depois e o médico indicou o tratamento com o Brentuximab.
Sem saber o que fazer, Dilsa desabafa e teme pela vida na luta para vencer o câncer:
— Tenho diagnóstico de morte iminente, e estou perdendo a batalha. O laudo indica que a suspensão do tratamento é um risco imediato à minha vida e nem assim tive o meu direito de viver garantido. Sem o remédio, já sinto que os linfonodos estão palpáveis, coisa que não ocorria enquanto estava aplicando as doses. As dores aumentaram e minhas chances estão diminuindo. Eu perdi minha mãe para o câncer de mama. Cuidei dela e ela foi liberada do hospital para morrer em casa, e agora eu me encontro na mesma situação. Preciso de ajuda para vencer o câncer e completar o tratamento — desabafa Dilsa.
Ela pretende ingressar com um novo processo, por meio da Defensoria Pública, em busca do prosseguimento do tratamento.
Pacientes também precisam de suplemento alimentar
Conseguir remédios não é a única dificuldade enfrentada por pacientes com câncer em Caxias do Sul. De acordo com Centro de Apoio ao Paciente com Câncer de Caxias do Sul (CAPC), onde Dilsa conseguiu assistência jurídica gratuita, seis pacientes que procuraram ajuda na instituição necessitam de suplemento alimentar. A indicação dos nutricionistas que atendem tanto na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Hospital Geral quanto no Instituto do Câncer do Hospital Pompéia (Incan) é que os doentes usem Nutren ou Sustagen. A finalidade é repor cálcio, proteína e vitamina D. Segundo o CAPC, esses pacientes estão em estágio avançado da doença e não têm condições de comprar o suplemento. Cada lata custa cerca de R$ 102 e dura, em média, 10 dias.
O Centro fornece as primeiras latas quando tem recursos em caixa. Contudo, como hoje seis pacientes necessitam do suplemento, o CAPC precisa de ajuda da comunidade para fornecer o produto. O SUS não fornece o suplemento, que é considerado essencial, aos pacientes.
Para buscar o complemento via judicial, o paciente tem de ir até o Centro Especializado de Saúde (CES) e solicitar uma negativa para comprovar que a rede pública não fornece o suplemento. Depois, é necessário buscar três orçamentos e entrar via judicial por meio da Defensoria Pública. Conforme a assistente social Viviane dos Santos Leal, a maior parte dos pacientes não têm condições físicas de buscar o suplemento, e para que um familiar tente obter as latas é preciso uma procuração.
— A maioria das pessoas que nos procuram estão bem debilitadas, e por vezes, sem forças para peregrinar em busca do auxílio. As nutricionistas nos garantiram que faz uma diferença enorme no dia a dia deles, e pudemos constatar aqui, no caso de um senhor de 72 anos que estava com 42 quilos antes de tomar o suplemento, e depois foi para 48 quando começou a tomar. Para quem está doente e luta pela vida, é fundamental.
COMO AJUDAR
Para ajudar a Dilsa e outros pacientes que estão em tratamento é só entrar em contato com o Centro de Apoio ao Paciente com Câncer de Caxias do Sul (CAPC) no telefone (54) 3223-2114.
Saúde é direito constitucional, diz Cremers
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Fernando Weber Matos, afirma que os casos de pacientes que entram na Justiça em busca de medicação são comuns. Para ele, o médico tem autonomia para prescrever o remédio poderá melhorar o estado de saúde do paciente, assim como o doente tem o direito de requerer a medicação na Justiça, em busca da cura da doença ou de melhoria no quadro clínico.
— Esse é um problema antigo, a chamada judicialização da medicina. O paciente recorre à Justiça, e geralmente , consegue uma liminar para ter acesso ao medicamento. O gestor reclama que a medicação é indicada por médicos que não atuam no SUS, e também do alto custo. Contudo, o paciente busca alternativas para vencer a doença e tem todo o direito de lutar. A saúde é um direto constitucional e dever do Estado — ressalta ele.