São os lançamentos irregulares de esgoto residencial e industrial os que mais preocupam as autoridades ambientais. É que, em Caxias, como em diversos municípios, a maioria da rede de esgoto é mista, ou seja, além de coletar a água da chuva, recebe também os dejetos residenciais. Apenas uma parte do esgoto cloacal do município escoa por tubulação específica (separador total). Em geral, nos loteamentos construídos a partir de 2002. E ainda há loteamentos irregulares onde o esgoto sanitário é jogado diretamente na natureza, no caso, no arroio.
– Quando foi feita a ETE do sistema Tega, fizemos uma tubulação de grande porte que interceptou os lançamentos (esgoto sanitário residencial e pluvial) que, em vez de irem direto para o arroio, vão para essa tubulação que leva para a ETE – explica Gerson Panarotto, do Samae.
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Ocorre que essa interceptação consegue ser abrangente em época de seca, quando circulam pelas tubulações apenas os esgotos sanitários. Contudo, é parcial nos períodos de chuva, quando a vazão aumenta muito e parte acaba transbordando e indo parar no arroio.
– Temos vários problemas de lançamentos irregulares, em função das invasões que, normalmente, lançam (no arroio) o esgoto sem nenhum tratamento. E têm sistemas regulares que teriam que ter a fossa séptica para, depois, lançar na microdrenagem e que ou não fazem a fossa séptica ou não fazem a limpeza periódica e acabam lançando para o arroio. O que estamos fazendo é acelerar o processo de implantação de redes do tipo separador (exclusivas para cloacal), assim teremos uma maior garantia de que aquele esgoto está sendo coletado e levado para a estação de tratamento – disse Panarotto.
Na cota de responsabilidade que o Samae admite ser sua está o mau cheiro sentido frequentemente pelos caxienses no arroio e motivo de tantas reclamações. Segundo Panarotto, entre as causas estão as lavagens de decantadores da Estação de Tratamento de Água (ETA) Celeste Gobbato, da barragem Maestra. É que, o lodo que sai da lavagem é descartado no Tega. Esses lançamentos ocorrem, em média, uma vez por mês. Para dar fim a este problema, o Samae tem um projeto que deve ser finalizado em julho e enviado para licitação. Os rejeitos serão recolhidos, secos e destinados para o aterro sanitário. O investimento previsto é de R$ 20 milhões com verbas do Samae.
A imagem dos canos jorrando efluentes de empresas e indústrias no Tega é assustadora. Mas, conforme a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), o impacto pode ser mais visual do que ambiental. É que, segundo a pasta, o lançamento no curso d'água é permitido desde que os efluentes sejam tratados conforme as determinações previstas na licença ambiental expedida pela secretaria. Claro que existem locais onde não é permitido nenhum tipo de lançamento, como na área preservada do Tega, no complexo de barragens Dal Bó.
– Há mais de 100 anos existem indústrias metalúrgicas em Caxias, lançando efluentes, e o controle ambiental é uma questão nova, dos anos 2000 para cá. Então, é um processo lento. Mas, com certeza, está muito melhor do que há décadas, quando se lançavam efluentes brutos sem fiscalização – garante o geólogo Caio Torques, da Semma.
Para o Samae, falta consciência de preservação tanto por parte dos empreendedores quanto pela população.
– Como Caxias é uma cidade muito industrializada, existem emissores pequenos, médios e grandes que acabam lançando esgoto. Alguns, aproveitam a madrugada ou o feriado... – comenta Panarotto.
De acordo com a diretora da Divisão de Esgotos do Samae, Josiane Nunes, sempre que é detectada uma situação de possível contaminação por efluente industrial, é feita a coleta de material para a análise. Se identificada a fonte, a empresa ou indústria é notificada e multada. Neste ano, não houve constatações desse tipo neste ano, segundo a autarquia.
Para além disso, ainda existe outra fonte de poluição, os resíduos sólidos dispensados pela população, que, mesmo com sistema de coleta seletiva na cidade, insiste em jogar lixo seco na rua ou no próprio arroio.
– Tem muita gente que não tem a consciência de preservação. O cidadão que quer que aquele arroio esteja limpo tem de fazer a sua parte – diz Panarotto.