Elevados à condição de atração turística, os tapetes coloridos de serragem que enfeitam a área central de Flores da Cunha atraíram milhares de pessoas nesta quinta-feira durante o feriado de Corpus Christi. Divididos em 41 quadros ao redor da Praça da Bandeira, os desenhos foram confeccionados por 200 voluntários e uma equipe de funcionários públicos utilizando cerca de 70 toneladas de serragem.
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A preparação da celebração começou ainda na segunda e foi concluída na quarta-feira. Símbolos eucarísticos, a Campanha da Fraternidade, homenagens ao frei Salvador e a Nossa Senhora Aparecida, o atual momento político do país, pedidos por mais amor, paz, união, respeito e a erradicação de doenças, como a poliomielite, estavam entre as imagens que tomaram forma e encantam os visitantes. As obras permanecem expostas até o domingo, com programação paralela na praça. A expectativa é que até lá pelo menos 20 mil pessoas visitem os trabalhos.
Os tapetes da cidade também emolduram a programação religiosa da festa, que começou pela manhã, por volta das 9h30min. Cerca de 10 mil fiéis participaram da missa e da procissão que marcam a celebração do Corpus Christi, que se originou no século 13 e é realizada 60 dias depois da Páscoa, em homenagem à Eucaristia, sacramento que representa a transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Jesus. À tarde, a partir das 13h30min, a praça foi ponto de partida da romaria a frei Salvador Pinzetta, capuchinho que exerceu apostolado na cidade e cujo processo de canonização está em análise no Vaticano. Em homenagem ao Servo de Deus, centenas de pessoas caminharam os cerca de três quilômetros que separam a Igreja Nossa Senhora de Lourdes e o Eremitério, no bairro Villaggio.
COMO É FEITO
A criação dos desenhos começa em fevereiro. Uma vez pronta esta etapa, são confeccionados moldes de madeira em lojas de móveis. A serragem usada para pintar os desenhos chega de São Francisco de Paula em abril, e a pintura com anilina, que é comprada em São Paulo, é realizada em maio. A marcação do entorno da praça começa uma semana antes do feriado e, dois dias antes, os organizadores montam a base que irá receber os moldes ou desenhos feitos à mão livre. A distribuição da serragem colorida sobre a base — a pintura, propriamente dita — é a última etapa, realizada um dia antes. Ela leva em torno de seis horas para ficar pronta.
"É uma terapia", diz dona de casa que confecciona tapetes há 30 anos
Considerada referência quando se trata de tapetes de Corpus Christi, Flores da Cunha já recebeu ligações e visitas de outros municípios interessados nas técnicas para montar e pintar os tapetes. No passado, era usada borra de café, tampinhas forradas, sabão em pó e cal para preencher os desenhos. Atualmente, 99% do material é composto por serragem. Na cidade, porém, os tapetes não são apenas parte da celebração católica. Desde 1964, a criação dos desenhos, confecção e pintura mobilizam os moradores, que se unem para deixar tudo pronto para os turistas. A dona de casa Bernardete Panizzon, 56 anos, participa da montagem há pelo menos 30 anos.
— Vamos seguindo o rascunho do desenho até que o tapete ganhe vida. É um trabalho de amor, artesanal e que une toda a comunidade. Conversamos, lanchamos, os restaurantes da região nos entregam lanches e elogiam o nosso trabalho. É uma terapia, a gente se diverte para montar os tapetes. Mantemos a tradição porque tem o envolvimento da população — diz.
A criatividade dos desenhos chamava a atenção de quem caminhava pelas ruas e se surpreendia com a beleza das peças, renovadas a cada ano. Moradores de Flores da Cunha, Luis Scortegagna, 77, e Odete Galiotto Scortegagna, 69, participam da procissão e passeiam entre os tapetes desde jovens.
— Por muito tempo, viemos a pé da localidade onde moramos, na Capela de São Paulo, para acompanhar a procissão. Hoje não conseguimos mais caminhar tanto, mas toda a família vem celebrar, rezar e e conversar com Deus para que abençoe nossa família e nosso país — destaca Scortegagna.
Os caxienses Flávia Bernardi, 35, e Mikael Dalberto, 31, visitam Flores da Cunha todos os anos para conferir os desenhos. Eles tiravam fotos da pequena Giulia, de um ano e dois meses, enquanto apreciavam os tapetes.
— A celebração aqui é diferente. A cada ano é mais bonito, criativo e com muitos detalhes. É uma atração turística e, em cada tapete, percebemos um toque de amor e de união da comunidade — afirma Dalberto.
A aposentada Maria Bertin, 81, percorria as quadras, contemplando os desenhos, sozinha. O filho seguia um pouco a frente, admirando os desenhos.
— Desde nova eu venho do interior para ver os trabalhos. São bonitos e unem a nossa comunidade. Todos os anos fico emocionada e peço a Deus que olhe por nós, nossa cidade e nosso Brasil — emociona-se ela.
PROGRAMAÇÃO
Sexta-feira: visitação aos tapetes e Feira de Vinhos e Artesanato na Praça da Bandeira
Sábado: visitação aos tapetes e Feira de Vinhos e Artesanato na Praça da Bandeira
Domingo: curso gratuito de degustação de vinhos e espumantes às 15h, na Praça da Bandeira (informações e inscrições pelo telefone 54 99983-3588). Às 16h30min, haverá show com Maicon & Pontel.
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