O incêndio que consumiu o antigo casarão localizado na divisa entre os bairros Rio Branco e São Pelegrino, não só pôs fim a um patrimônio que resguardava mais de 90 anos da história de Caxias do Sul. Diante das ruínas que amanheceram sob os olhares de moradores da região, a fisionomia de abatimento se ressaltava no rosto de Renato Rissi, empresário que locava a casa há cerca de 25 anos. Ali, ele administrava uma estofaria e alugava quartos nos andares superiores. Após o sinistro, nada restou do maquinário ou dos estofados que haviam sido deixados por clientes.
— Estava vendo futebol na minha casa (no bairro Panazzolo) quando fui avisado. Quando cheguei já era tarde demais. Não faço ideia do que pode ter causado o incêndio. Apesar de antiga, a casa estava reformada e eu havia refeito toda a parte elétrica há uns dois anos — comenta.
Recebendo apoio de moradores e comerciantes próximos, Rissi ressalta que o recomeço será, de fato, do zero.
— Um cliente até me ligou hoje (segunda-feira) e disse 'recomeça a sua vida, não importa o material que eu deixei ali, o que precisar é só me chamar'. Estou recebendo muito apoio — salienta.
Um dos vizinhos, o empresário Alexandre Paulo Fachin, foi uma das pessoas que se dispôs a ajudar o amigo. "Estamos aí para o que precisar. O que aconteceu contigo, poderia ter acontecido comigo" disse ele a Rissi após um cumprimento fraterno.
O tradicional casarão, existente desde 1927, era também conhecido como pensão. Atualmente, Rissi conta que há cerca de quatro anos alugava "oito ou nove" quartos que haviam no imóvel. O primeiro a pedir abrigo a ele foi Antônio Borges, o "Cabreira", única pessoa que não foi vista desde o incêndio entre os sete residentes que estariam no local.
Borges se tornou figura icônica na região: diariamente era visto tomando chimarrão sentado no trevo na frente do casarão. Ao seu lado, seu fiel cão Max, que também não foi mais visto desde a noite de domingo.
— Espero que não tenha acontecido nada com eles. O Cabreira era muito querido por todos. Eu nem cobrava aluguel dele. Foi ele quem pintou a casa, sempre me ajudava quando precisava fazer um servicinho. É muito triste tudo isso estar acontecendo — lamenta Rissi.
Apoio mútuo para o recomeço
Renato Valdir Hofmeister chegou apreensivo por volta das 9h desta segunda-feira para conferir os prejuízos causados em sua barbearia, no imóvel anexo ao casarão. Ao chegar ao local, o alívio: o fogo causou apenas pequenas avarias nas divisas do estabelecimento.
— Moro em Bento Gonçalves e não pude vir porque estava com pouca gasolina e tive que deixar o carro para a minha esposa que é diretora de uma escola. Pude vir só hoje (segunda-feira) de ônibus — relata.
Ao cumprimentar o vizinho, ambos se emocionaram com a situação e Renato chorou ao saber do desaparecimento de Antônio Borges.
— Ele ficou o dia inteiro com a gente (na barbearia) na sexta-feira. Sempre foi muito brincalhão e gente boa — afirma.
A barbearia de Hofmeister existe há cerca de cinco anos no espaço. Porém, a sua família trabalha nas imediações há mais de 30 anos. Sobre o futuro, ele afirma incerteza quanto à localização, mas garante que quer voltar à ativa o quanto antes:
— Vou limpar agora e ver qual foi o estrago de verdade. Enquanto isso quero tentar alugar a sala comercial ao lado para continuar a tocar os negócios.