Há mais de um ano sem poder usar, na totalidade, o laboratório de informática, os professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Comendador Kalil Sehbe, de Caxias do Sul, deram um exemplo de solidariedade e comprometimento com a educação. Desde o dia 12 deste mês, os professores driblam as dificuldades para possibilitar que os 174 alunos do 1º ao 9º ano tenham acesso a uma ferramenta pedagógica lançada pela Secretaria Estadual de Educação: o Baneville Ações na Escola e na Cidade. A resposta imediata é euforia das crianças. No dia a dia, elas aprendem lições de cidadania.
O jogo é um aplicativo disponível para download tanto em celulares como em computadores, mas precisa de internet. O game simula uma cidade e ajuda a desenvolver nas crianças bons hábitos de convivência, comportamento respeitoso, como resolver conflitos, uma conduta de não violência e cuidados com a saúde e o ambiente.
Na última terça-feira à tarde, a turma do 3º ano começava a sexta missão. Funciona assim: a cada dia, o participante recebe uma missão nova. Ela ocorrerá em um local da cidade, como a rua ou a escola. Em cada local, são apresentadas situações em diferentes ambientes. O participante recebe dicas para tomar a melhor decisão diante de um quiz dentro do game. Para cada pergunta, são apresentadas alternativas. A cada resposta certa, o participante ganha pontos e tem a chance de avançar para a próxima missão, que só será conhecida no dia seguinte.
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Como a maioria dos alunos da escola vêm de famílias de baixa renda – que não têm acesso à internet em casa – e os das séries iniciais nem celulares possuem, o jeito encontrado pelas professoras foi usar os próprios telefones para utilizar a ferramenta com os alunos. As turmas do 1º e do 2º anos trabalham mais com a interação do professor com os alunos. A partir do 3º ano, além das questões propostas, o jogo é utilizado para desenvolver a escrita, por exemplo. A rede de internet da escola oscila muito e, por isso, os docentes acabam usando a rede de dados de seus celulares também.
– É uma clientela carente de muitas coisas, que os pais não têm condição de oferecer. Não são todos que têm internet, não são todos os que têm celulares. É muito difícil. Quando acertam a alternativa, eles fazem uma festa, vibram muito – comenta a professora Joelce Piccin, do 3º ano.
A gurizada adorou a lição com cara de brincadeira. Na família de Yago e Emilly de Andrade de Oliveira, oito anos, o aprendizado é em dobro. Eles são gêmeos e colegas de aula no 3º ano.
– Temos missões para fazer, e a gente aprende a respeitar quando um está falando, levantar o dedo para falar, fazer fila direito – diz Yago.
– É feio falar quando o outro está falando porque fica uma bagunça, daí – completa Emilly.
O APLICATIVO
:: O Baneville está disponível para download tanto para Android quanto para iPhone nas lojas virtuais Google Play e Apple Store e também no site do Cipave (cipave.rs.gov.br/inicial), para quem preferir jogar no computador.
:: A ideia é criar um ranking para estimular as escolas a participar. Para isso, o usuário, na hora de se cadastrar, acrescenta o nome da escola que pretende representar. Não é preciso ser aluno da instituição, já que qualquer pessoa pode participar.
:: O game trabalha a resolução de conflitos, como bullying, indisciplina e até cuidados com a saúde e ambiente, sob os preceitos de uma cultura de paz.
:: O jogo é dividido em etapas e exige um cadastro breve dos usuários, que poderão criar ambientes e, por meio da moeda virtual Cipave, promover neles benefícios e melhorias relacionadas a práticas de cidadania.
:: A cada dia, receberão uma missão nova e ainda terão a oportunidade de fazer minicursos sobre essas tarefas, recebendo dicas para tomar a melhor decisão diante de um desafio dentro do game.
:: O jogo será disponibilizado gratuitamente para toda a rede de ensino, incluindo instituições privadas e a qualquer pessoa que queira aproveitar a ferramenta em projetos de educação.
O QUE DIZEM
A 4ª CRE:
:: A internet gratuita é fornecida pelo Ministério da Educação para o setor administrativo. Em geral, a velocidade é baixa. Mas, a escola pode solicitar mais velocidade. Quanto ao laboratório de informática, a diretoria da escola tem autonomia para contratar com verba da autonomia financeira uma boa internet.
:: Terão início em maio as vistorias nas escolas que precisam de manutenção na rede elétrica. As melhorias serão feitas por meio da parceria estabelecida entre o governo do Estado e a Universidade de Caxias do Sul (UCS). A iniciativa é para que alunos dos cursos de Engenharia Elétrica possam fazer os projetos de melhoria da rede elétrica de escolas estaduais. O trabalho dos estudantes será supervisionado pelos professores e engenheiros do Estado.
:: Ontem, houve capacitação para diretores sobre um programa que permite que pessoas físicas e jurídicas possam ajudar em melhorias nas escolas, sobre a Base Nacional Comum Curricular e um treinamento na área financeira para que as prestações de contas sejam feitas corretamente.
A DIREÇÃO DA ESCOLA
:: Sobre a manutenção dos computadores, a direção disse que quando assumiu, há um ano e três meses, havia só três computadores funcionando. No final de 2017, a direção iniciou uma manutenção no laboratório de informática e, a partir do mês que vem, os alunos poderão usar os 12 computadores do laboratório.