Nove meses após a implantação da força-tarefa permanente na Estação Férrea, principal ponto de entretenimento noturno nos finais de semana em Caxias, pouco resta daquela impressão de segurança transmitida no início das ações, em janeiro deste ano. Apesar dos órgãos envolvidos assegurarem que o monitoramento é realizado na região nos dias de maior movimentação, para comerciantes e empresários, a preocupação com o retorno da violência é crescente.
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Um exemplo foi constatado no último final de semana, quando um homem de 38 anos foi baleado na Rua Augusto Pestana, na madrugada de sexta para sábado. De acordo com a Guarda Municipal, naquela noite não havia efetivo no local, pois o órgão apoiava a uma fiscalização de trânsito nas proximidades. Ainda assim, para quem convive na área, a situação foi apenas um episódio que indicaria a redução de atuação da força-tarefa.
— Logo no início os guardas faziam a ronda, caminhavam e não só passavam a sensação, como garantiam a segurança dos frequentadores. Havia também uma troca e um diálogo constante com eles, que inclusive nos davam dicas. Hoje, os problemas ressurgiram e, muitas vezes, tem uma viatura só e eles nem saem de dentro do carro — relata a sócio-proprietária de uma casa noturna dos arredores.
A empresária ainda comenta que houve o espancamento de um jovem na Estação Férrea, há algumas semanas, fato que sequer teria sido notado por guardas que estavam próximos da confusão.
— Espero que não deixem virar o caos como era até há algum tempo atrás — desabafa.
Outro proprietário de casa noturna da região, alega que os principais problemas acabam sendo negligenciados, como a comercialização de bebidas de forma desregrada.
— A operação aborda motoristas e faz teste do bafômetro (com eles). Mas o problema está na venda de bebidas que alguns estabelecimentos promovem sem o mínimo de consciência, o que gera grandes aglomerações de pessoas em alguns pontos. Tanto que vem sendo percebido o surgimento de bondes, que não são inibidos e estão tomando, literalmente, as ruas como território — protesta.
Para o diretor da Guarda, Ivo Rauber, as reclamações não procedem. Ele defende que as ações estariam surtindo o efeito planejado e insinua que os comerciantes e proprietários de estabelecimentos da região querem tratamento diferenciado.
— Os empresários parecem que querem segurança particular. Mas não é assim. Estamos lá (na Estação Férrea) para garantir a segurança de frequentadores e pedestres. E sempre realizamos abordagens, tanto que apreendemos todos os finais de semanas drogas. Tivemos azar de não estarmos neste dia (em que o homem foi baleado) — alega.
O secretário de segurança, José Francisco Mallmann, afirmou ao Pioneiro que empresários e comerciantes da região já foram orientados a contatá-lo diretamente, caso necessitem de atendimento da Guarda Municipal, ou verifiquem situação atípica.
Atuação será avaliada por secretário
A força-tarefa na Estação Férrea foi deliberada logo após a morte do jovem Guilherme Yuri Padilha, 19 anos, em 7 de janeiro deste ano. Na ocasião, o rapaz foi esfaqueado no abdomên após reagir a ofensas por se negar a dar um cigarro para o autor do crime. O fato foi o auge do aumento da baderna e da violência que já vinha sendo denunciado por moradores e empresários desde o ano passado.
Já a ocorrência do último final de semana, por não ter resultado em óbito, é considerada pela Secretaria de Segurança como uma situação pontual que não compromete a operação:
— Foi um fato isolado em nove meses de ações. Isso acontece eventualmente e não podemos desmerecer com isso todo o sucesso da operação — afirma o secretário Municipal de Segurança, José Francisco Mallmann.
Ele ainda ressalta que a cada fim de ação, o gerente de operações da noite fica encarregado de elaborar relatório. De acordo com Mallmann, os resumos das atuações sempre apontam que há mínimo de três servidores de plantão na Estação:
— Se a força-tarefa não está sendo cumprida com a efetividade que havíamos definido é uma situação que preciso rever pessoalmente. Até porque o governo garantiu as horas extras para as operações permanentes e elas estão sendo pagas conforme combinadpagas. Todos servidores sabem como atuar e que a orientação não é essa (de que os guardas permaneçam dentro das viaturas).
Já o diretor da Guarda defende o modelo aplicado nas ações, embora reclame da falta de apoio da Brigada Militar.
— No início do ano a Brigada havia se comprometido a colaborar nas ações. O que acontece hoje é só que a Guarda atua lá (na Estação Férrea) — comenta Ivo Rauber.
O comandante do 12º Batalhão da Polícia Militar, major Jorge Emerson Ribas, admite que a participação do órgão tem reduzido, embora, segundo ele sejam realizados patrulhamentos eventuais na região. Ele reitera que, caso houver necessidade, a Brigada Militar pode auxiliar a Guarda.
— A nossa demanda é muito alta, principalmente nesses dias. Então, como há uma viatura da Guarda permanente lá, não achamos necessário deslocar uma guarnição e assim podemos atender outras regiões da cidade, até porque não temos condições de oferecer efetivo para permanência preventiva — defende.
O baleado
A vítima de tentativa de homicídio do final de semana, André Suzin, 38 anos, relatou em depoimento à polícia que dois homens teriam lhe abordado na ocasião, na Rua Augusto Pestana, por volta da 1h, e efetuado os disparos. Um dos projéteis se alojou na tórax de Suzin, que passou por procedimento cirúrgico e foi liberado ainda no final de semana.