Um levantamento elaborado pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS) revela que 549 pessoas morreram em decorrência de 487 acidentes de trânsito nos últimos 10 anos em Caxias do Sul _ de 2007 a 2016. Onze vias concentram cerca de 70% destas ocorrências, sendo que as rodovias lideram com folga as tragédias.
Para se ter ideia, a BR-116, a ERS-122 e a RSC-453 condensam pouco mais da metade dessa fatia de acidentes. E é fácil compreender porque estradas representam um perigo tão grande a motoristas e pedestres da cidade, já que cruzam Caxias de Sul em diversos pontos e centralizam um tráfego diário de milhares de carros. Apenas pela BR-116, por exemplo, cruzam cerca de 50 mil motoristas por dia, segundo estimativa da Polícia Rodoviária Federal. A fórmula que resulta em tantas vidas perdidas inclui pressa ao volante, desatenção de quem cruza a via e estradas em más condições de conservação.
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– É um reflexo da era do individualismo que vivemos. A cultura de que não preciso respeitar o sinal, que tenho de atravessar a rua com pressa e a certeza da impunidade tem impacto direto sobre isso. A fiscalização é fundamental, mas o município e o Estado não podem estar em todo lugar o tempo todo. O maior índice de mortes ainda é causado pela falta de respeito ao semáforo, que é uma questão direta de comportamento – acredita Juarez Ribeiro, perito de trânsito e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Fundamentais para ligar a cidade de ponto a ponto, as vias mais mortais não são exclusividade de uma única região. A Avenida Ruben Bento Alves, conhecida como Perimetral Norte/Oeste, é o cenário de 22 mortes, divididas em 20 acidentes. Um cruzamento, em especial, teve pelo menos três mortes nos últimos 10 anos: é o entrocamento com a Moreira César, próximo de uma revenda de carros, no acesso ao bairro São José. A Moreira, aliás, é a segunda rua com maior acidentabilidade, quando excluem-se as rodovias do ranking. Mas vias menores, como a Júlio Calegari, na região do Esplanada, também fazem parte do ranking, chegando a oito mortes.
– A maior parte dos acidentes é por colisão, mas Caxias do Sul tem dados atípicos na comparação com o Estado: 16% das mortes são por choque contra objeto físico, como poste, muro ou veículo parado. O índice de tombamento também é muito expressivo: 8%. Isso também remete principalmente à questão dos desníveis, aclives e declives da região – pondera Rosane Crivella, coordenadora da assessoria técnica do Detran/RS.
Pedestres
Em Caxias, os pedestres se mostram alvo ainda mais frágil na comparação com o restante do Estado. Se a média estadual de atropelamentos é de 16%, o índice se aproxima do dobro em território caxiense: por aqui, 28% do total de mortes envolvem pedestres atropelados.
– Há muito o que trabalhar nessa questão, seja por conscientização ou prevenção. O pedestre e o motorista, ambos não respeitam a faixa de segurança, e o semáforo de pedestres é ignorado. E sabemos que Caxias do Sul é uma cidade bem semaforizada e sinalizada – avalia Rosane.
– O que nós temos de discutir é a causa destes acidentes. A arrecadação e a emissão de infrações de trânsito não diminuíram, mas a PRF reduziu o efetivo, por exemplo. Precisamos tratar da fiscalização à penalização, o regramento do pedestre do trânsito. Até acho que o problema não é na pista, mas nas pessoas, que estão cada vez mais agitadas – analisa o advogado e especialista em trânsito Joelci de Almeida.
OUTRAS ESTATÍSTICAS
Por sexo
:: 79% das vítimas são homens e 21% são mulheres
Idade
:: Em Caxias do Sul, as vítimas fatais com idades entre 18 e 29 anos chegam a 30% dos casos. No RS, o índice é de 27,7%. Em Caxias, sobressai-se a taxa de mortalidade na faixa dos 35 aos 39 _ 10,5% _ contra 7% da média do Estado.
Dia da semana
:: Outro dado que difere do Rio Grande do Sul é o dia da semana com maior índice de acidentes fatais. Enquanto no RS o sábado é o que concentra mais ocorrências, em Caxias é a segunda-feira.
Período
:: O período do dia com mais ocorrências é a noite e a madrugada. Nos fins de semana, estes turnos concentram mais de 66% dos óbitos por acidente (sábado) e outros 59% no domingo. No Estado, o turno que se destaca é a tarde.