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O interesse em manter funcionando o Hospital São Carlos, em Farroupilha, não é exclusivo de líderes políticos e gestores da instituição. Por ser a maior prejudicada com o possível fim do serviço, a comunidade está tão engajada que dá o maior exemplo de iniciativa e organização dentre os envolvidos. Não fosse a atuação do grupo Voluntárias da Saúde de Farroupilha, o hospital não estaria em reformas e, mesmo com 83 anos, com aspecto de novo. Após recusar o convite da prefeitura para atuar na administração do hospital, ainda em 2015, a bancária aposentada Lourdes Refosco decidiu reunir algumas amigas e criar o Voluntárias da Saúde de Farroupilha. Ela não esperava que as 15 amigas levassem a ideia tão a sério: são mulheres da sociedade que, dentre os compromissos diários, passaram a incluir o São Carlos como prioridade.
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– Quando fui procurar ajuda das mulheres, ninguém me disse não. Em ouvi de minha filha: mãe, o hospital não tem lençol, toalha de banho, rouparia. O campo cirúrgico está detonado. Então, o padre nos deu uma salinha na paróquia e passamos a nos encontrar todas as terças-feiras para resolver isto – afirma Lourdes.
O primeiro encontro ocorreu em agosto de 2015 e, dois meses depois, o primeiro evento já resultava em mais de R$ 30 mil de lucro. O hospital encaminhou uma lista com as principais necessidades (que totalizavam pouco mais de R$ 50 mil), e as voluntárias fizeram as compras. A diferença foi bancada pelas próprias mulheres. Mais de 500 pijamas, rouparia para três meses, materiais para cirurgia, rolos de algodão, carrinhos de supermercado, conteiner industrial e até lixeiras foram adquiridas. A sensação de ver o hospital ganhando cara nova animou a todos:
– Com o dinheiro que entra, eles mal conseguem pagar os funcionários. O hospital foi criado com a ajuda de 143 famílias e eu penso assim: meu Deus, estamos com 70 mil habitantes. Será que ninguém pode fazer alguma coisa para salvar nosso hospital? E então nunca mais paramos de ajudar – revela a bancária.
Lourdes recebeu da Câmara de Vereadores o certificado Mulher Destaque 2017. Pudera: capitaneado por ela, o grupo é responsável por uma verdadeira revolução no hospital. A arrecadação de dinheiro ocorre com eventos, rifas, pedágios solidários e doações de empresas. Mais de uma vez, voluntárias decidiram bancar compras mais expressivas – a mais recente foi um guincho humano, que economizará o trabalho de seis enfermeiros para erguer algum doente obeso ou enfermo.
A saída encontrada pelas voluntárias não é encaminhar os recursos dos eventos ao hospital, mas gerir este dinheiro e comprar os itens mais urgentes e fazer reparos: alimentos para pacientes e familiares nos lanches, cortinas e TVs nos quartos, poltronas reformadas, pintura interna e revestimento, filtros para água e reforma completa no pronto-atendimento, que estava interditado pela Vigilância Sanitária. O último ganho é a reforma no telhado de todo hospital. Em dias de chuva, havia alagamentos, o que comprometia as internações.
– Nós ganhamos um carro do Grupo Feltrin e fizemos uma rifa com ele. Com este dinheiro, pagamos a reforma do telhado, que o hospital jamais teria verba para pagar. Até o trabalho do guincho, que seria caríssimo, conseguimos como doação. Tem gente que critica, mas nós pedimos: chega de reclamar e falar mal do hospital. Vamos trabalhar, fazer algo por ele – incentiva Lourdes.