Pai de quatro filhos, Alex Sandro Alves da Cruz, 38 anos, era motorista de segunda a sexta. Aos finais de semana, vestia o traje de garçom para atender clientes no Restaurante Di Paolo e garantir uma renda extra à família. Nas horas vagas, também vendia erva-mate.
Também pai de quatro filhos, Luiz Fernando Subtil Sant’Ana, 66, cuidava dos jardins da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e participava das atividades no Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Privado da Serra (Sintep). Os dois homens, que não se conhecem, foram obrigados a abandonar o trabalho por causa de acidentes de trânsito. Agora, carregam sequelas e precisam de ajuda para manter a família e o próprio tratamento de saúde.
Nesta quinta-feira, às 19h, amigos de Cruz organizam um bingo beneficente para arrecadar fundos. A intenção é ajudá-lo financeiramente nas despesas de casa e também na compra de uma prótese. O motorista teve a perna esquerda amputada após um acidente, no dia 27 de março, no Km 142 da RSC-453 (Rota do Sol), bairro Santa Fé, perto do viaduto sobre a Avenida Doutor Mário Lopes com a Rua Olimpio Susin. Ele dirigia um micro-ônibus da Transfreitas e envolveu-se em uma colisão frontal com um caminhão justamente num dos pontos mais perigosos da rodovia, que já registra sete mortes e 35 feridos desde janeiro de 2010.
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Desde o acidente, a vida dele e de familiares virou do avesso: Cruz parou de trabalhar e perdeu os rendimentos obtidos no restaurante e com a venda de erva-mate, o que reforça a importância do bingo beneficente que será realizado em Farroupilha. Ele ainda não está recebendo o seguro saúde. O motorista depende de uma cadeira de rodas, mas já consegue realizar pequenas atividades em casa.
– Serão sorteados vale-jantar, alimentos, roupas e outras coisas doadas pela comunidade. Cada cartela custa R$ 10 e as pessoas têm seis rodadas para tentar ganhar algo – explica o garçom Tárcio da Silva Cordova, colega de Cruz.
Apesar do drama pessoal, o motorista tentar manter a rotina com os filhos e a esposa no bairro Vila Nova, em Farroupilha:
– É um entrave, é difícil, mas tenho que tocar a vida.
"Precisamos de oração", diz filho
Pouco mais de um mês após o acidente de Cruz, o jardineiro Luiz Fernando Sant’Ana foi atropelado durante protestos contra as reformas previdenciária e trabalhista numa rua de acesso à UCS, na manhã de 28 de abril. Atingido por uma SUV conduzida por uma mulher de 55 anos, o idoso bateu a cabeça no chão e ficou alguns instantes desacordado.
Parecia estar bem e foi liberado após exames no Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão). Ainda teve forças para ir até a delegacia registrar a ocorrência. À tarde, passou mal e foi internado no Hospital da Unimed, de onde não saiu mais. Segundo o filho dele, Dion Leno Sant’Ana, 36, o diagnótisco médico apontou edema cerebral e hemorragia. O laudo será solicitado pela família nos próximos dias. Sant’Ana ficou uns dias na UTI e agora já está no quarto. Contudo, passa a maior parte do tempo sedado. Até a última terça-feira, e recebia alimento via sonda. Quando acorda, não reconhece as pessoas e tem extrema dificuldade para se movimentar e falar.
– Estamos tendo gastos com fralda, com gasolina, na locomoção para ir ao hospital. O sindicato (Sintep) tem nos ajudado, mas não está fácil. Precisamos de oração, de força em pensamento. Quando ele for para casa, talvez vamos precisar de dinheiro para medicamentos – desabafa Dion.
O diretor do Sintep, Ademar Sgarbossa, diz que a entidade está constituindo um advogado para tratar do assunto na Justiça. O atropelamento foi registrado pela BM como Termo Circunstanciado (TC), procedimento para casos de menor potencial ofensivo, e será tratado em audiência no Fórum. Para Sgarbossa, porém, o acidente não pode ser limitado a um TC.
A delegada de Trânsito, Suely Rech, explica que um inquérito só é aberto em caso de morte ou se o autor teve uma postura que provocou o acidente, como participação em rachas e dirigir embriagado. No caso de Sant’Ana, a condutora alegou que tentou transpor o bloqueio de pessoas e acabou atropelando o jardineiro, o que, em tese, não configurou um ato intencional.
Procurada pelo Pioneiro, a condutora afirma que não atropelou ninguém e só irá se manifestar por meio de um advogado.