Mais uma vez o Pronto-atendimento 24 horas (Postão) é alvo de reclamações por conta da demora no atendimento. No início da noite desta sexta-feira, as alas pediátrica e adulta estavam lotadas. Débora Ceccagno, 30, chegou do bairro Pioneiro com a filha Eduarda, 10, por volta das 15h30min. Por volta das 18h30min, ela ainda aguardava ser recebida pelo médico plantonista. Na sala de espera da pediatria, mais de 15 crianças esperavam por atendimento no colo dos pais.
– Minha filha está com febre e dor de garganta. Tem um posto médico no bairro onde moro, mas não adiantaria ir, pois não tem médico nesse horário – diz Débora.
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A situação não era diferente entre os pacientes adultos. Isabel Lima Barbosa, 57, tentava mostrar o resultado da ecografia do filho Lindomar, 34, ferido na barriga. O rapaz estava sem comer desde o início da manhã, pois precisava do jejum para realizar o exame. A mulher e o filho já haviam procurado o Postão na quinta-feira e teriam esperado cerca de quatro horas por uma consulta.
– Fomos de manhã no posto do Pioneiro e o médico de lá mandou fazer o exame. Daí, nos orientou pra gente ir ao Postão mostrar o resultado. Só não sei quando vamos conseguir fazer isso – reclama Isabel.
Roselina Bagé Marques, 48, veio do Desvio Rizzo e diz ter entrado no Postão por volta das 14h30min. Ela estava desesperada para que um médico avaliasse a filha Emilly, 15, que sentia fortes dores nas costas e enjoo.
– Não fomos no posto do Rizzo porque para conseguir consulta tem que madrugar na fila. Minha passou mal no final da manhã ainda na escola. Não tive outra opção – conta Roselina.
Funcionários do Postão afirmaram que a lotação desta sexta-feira é normal e vem se repetindo com frequência nos últimos meses. A procura aumentou com a crise econômica e as demissões na indústria, o que forçou a migração de pacientes de planos privados para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Outra causa dessa lotação pode ter relação com a crise entre os médicos do município e a prefeitura, que exige o batimento do cartão-ponto e cumprimento da jornada integral prevista em contrato dos profissionais das unidades básicas de saúde (UBSs) e do Centro Especializado de Saúde (CES). Os médicos só aceitam cumprir a exigência se houver redução da carga horária e incorporação da parcela autônoma de R$ 2.059 ao vencimento básico, o que totalizaria um salário mensal de R$ 5.550.
Como não houve acordo, no início desta semana pelo menos três médicos pediram exoneração dos cargos e outros 10 solicitaram a redução da jornada de trabalho, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. A saída desses três profissionais, de um total de 342, traz impacto. Quando os médicos das UBSs paralisaram os serviços por três dias, entre 1º e 3 de março, em protesto contra o cumprimento da carga horária, cerca de 2.250 consultas deixaram de ser realizadas. Com a saída deles, seriam 36 consultas a menos por dia. Sem esse atendimento e com médicos em férias, muitas pessoas estão recorrendo ao Postão.
A reportagem contatou a assessoria de comunicação da prefeitura para obter respostas sobre o que estaria provocando a demora nas consultas no Postão, mas não obteve retorno até as 19h45min de sexta-feira.