A taxa de abandono de alunos no Ensino Médio foi de 8,1% no ano de 2015 em Caxias do Sul. É acima da média nacional, de 6,8%, e da taxa estadual, de 7,1%. Chama a atenção também a comparação desse índice em relação a 1996, quando a evasão escolar foi de 2,1% no maior município da Serra. Isso significa a média de abandono aumentou praticamente quatro vezes em 20 anos. O movimento é inverso ao que ocorre no país. No Rio Grande do Sul, o número é estável. Os dados de 2015 são os mais recentes disponíveis no site do Projeto Todos Pela Educação, com base em números do Ministério da Educação. As informações são da Gaúcha Serra.
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A pesquisadora Nilda Stecanela liga esse aumento da evasão escolar a uma série de fatores. Um deles é a própria estatística que pode sofrer defasagem já que em 1996 o acesso ao Ensino Médio era menor por insuficiência de vagas. Mas a professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) explica que o desinteresse dos jovens pela escolarização também está associada a características internas da escola e a fatores externos.
Na avaliação dela, ainda falta trabalhar para que o aluno associe as experiências escolares às juvenis, já que a chegada a esse nível de ensino coincide com transformações psicológicas, biológicas, sociológicas e culturais próprias da adolescência. Ela destaca que essa é uma época da vida em que os jovens passam a ser consumidores e, por isso, encontram no mercado de trabalho uma forma de ter dinheiro para exercer esse papel. A situação leva os estudantes a serem também trabalhadores.
Nilda avalia como uma possibilidade para superar essa situação uma política em que o estudante não pudesse estudar à noite para trabalhar durante o dia e aponta ainda mudanças no Ensino Médio.
– Que seja um ensino propedêutico (das disciplinas comuns) e também uma formação profissional, o que está articulado com o Ensino Médio integrado, talvez nós tivéssemos fazendo um investimento para que, daqui a não muito tempo, nós tenhamos uma geração com uma escolarização mais consolidada, mais qualificada, para que nós também tenhamos pessoas atuando nas instituições, nas organizações e na sociedade como um todo de uma forma muito mais consciente, mais cidadã, mais crítica.
A professora avalia que o interesse dos alunos também pode ser despertado por metodologias de ensino que considerem a expressão própria da cultura juvenil. Pesquisas, inclusive desenvolvidas na UCS, apontam para a vontade dos jovens em assumir um papel de maior protagonismo em sala de aula. Nilda propõe um espaço em que a autoridade do professor seja reconhecida e respeitada, mas com uma relação mais horizontal com os estudantes.
O desenvolvimento desses processos mais condizentes com a sociedade contemporânea, que tem jovens com acesso à informação mais amplo, depende de aspectos como a própria formação de professores. A pesquisadora salienta que eles precisam dominar a área de atuação, ter conhecimento pedagógico e compreender o cenário em que os alunos estão inseridos. Segundo o Ministério da Educação, 88% dos professores atuantes no Ensino Médio tinham Ensino Superior completo em 2014. No país, esse índice gira em torno de 93%.
A estrutura oferecida aos alunos é outro desafio. Em Caxias do Sul, um exemplo sintomático é o do Instituto Cristóvão de Mendoza. Uma das principais instituições de ensino da cidade está com o auditório está interditado desde julho de 2013 por não se enquadrar nas exigências do Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI). Segundo a Coordenadoria Regional de Educação, reformas no complexo da escola devem ser licitadas neste semestre. A previsão é de início de obras ainda neste ano, justamente pelo auditório. O investimento total previsto é de aproximadamente R$ 30 milhões. A dificuldade em viabilizar recursos é o motivo para a demora na obra.
A situação exemplifica a demanda por investimentos na educação. Relatório da Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado no ano passado com base em dados de 2013, mostra que o gasto anual por estudante do ensino médio no país é de US$ 3.824. No Ensino Superior, o investimento por aluno é de US$ 13.540.