Quem passou pela recepção da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Hospital Geral (HG), na tarde desta segunda, talvez não reconhecesse que ali tratava-se de ambiente hospitalar. A festa de fim de ano da ala, organizada por voluntários e equipe da pediatria oncológica, atendeu aos pedidos feitos pela turminha ao Papai Noel. Por isso, na Unacon, não sobrou espaço para timidez ou tristeza - as agulhas e comprimidos os remédios deram espaço a pacotes de presentes grandes, entregues pelas mãos do próprio noel. Um detalhe emocionou a equipe que organizou a atração, já que as singelas cartinhas dos pacientes mirins da Unacon pediam um item que não está à venda em lojas de brinquedos: a maioria não deixou de citar que queria, mesmo, saúde.
Leia mais
Último final de semana antes do Natal movimenta comércio de Caxias
"Estou cautelosamente otimista", diz CEO da Marcopolo sobre 2017
– É muito interessante porque cada criança retrata de uma forma diferente o seu desejo, o mundo que ela vive. É uma outra dimensão das coisas que estamos habituados a vivenciar, como a doença, por exemplo – afirma a médica oncologista Janaina Brollo.
E o que estava ao alcance dos voluntários que adotaram as cartinhas foi feito. A festa só não foi maior porque duas crianças acabaram não resistindo ao tratamento e falecendo nesta semana, o que rendeu homenagens. Uma única pessoa adotou sete pedidos. Médicos, enfermeiros e outros profissionais também quiserem presentear crianças. Uma delas é Ketlyn Escobar, de quatro anos. A cartinha da pequena se resume em quatro linhas - escritas pela mãe, Daniela, 23, mas que traduz a verdadeira vontade dela:
– Eu me trato de leucemia no Hospital Geral. Eu gostaria de ganhar nesse Natal uma boneca doutora, que daí eu posso cuidar dela como ela cuida de mim.
Agarrada à boneca, Ketlyn, natural de São Sebastião do Caí , já está fazendo o acompanhamento para a doença. A sensação da família é de alívio. Mesmo sentimento dos pais do invencível Pedro Henrique Sott Tecchio, 6 anos. Pedrinho já estampou a capa de jornais da região pedindo, desesperadamente, um doador de medula óssea compatível. Ele driblou a previsão de 60 dias de vida e, por isso, a mensagem de renascimento reforçada no Natal é ainda mais repleta de significado na família Tecchio. Ao Papai Noel, Pedrinho foi modesto:
– Quero agradecer pelo maior presente que é a minha saúde. Se o senhor tiver dinheiro, eu gostaria de ganhar um legocity. Um beijo do Pedrinho.
Mais de 40 crianças passam por atendimento
São cerca de 40 crianças que passam por atendimento da Unacon. Muitas chegam de outras cidades, em deslocamentos que chegam a ser muitas vezes diários. Por lá, além do tratamento médico, passam por atividades recreacionais como oficinas de biscuit, maquiagem, jogos e muito bate-papo. Elas também participaram, neste ano, de um calendário lançado neste ano para angariar fundos para melhorias na área de oncologia do hospital. Uma delas é a guerreira Luiza Cerezzoli, de 10 anos.
A bento-gonçalvense precisou até interromper os estudos neste ano, após o diagnóstico de um tumor na coluna no começo deste ano. A força de vontade de melhorar, somada ao carinho dos pais, fez com que as projeções sejam muito otimistas quanto à recuperação da pequena. Por enquanto, ela comemora ter sido atendida pelo Papai Noel, que presenteou com um kit maquiagem e uma miniatura de casinha.
– Meu sonho é ser cabeleireira. E eu faço maquiagem sempre na minha mãe – conta, envergonhada.