Antônio Souza Lopes, 58 anos, aprendeu a fazer o Queijo Artesanal Serrano com o pai. A receita secular herdada de antepassados virou meio de sustento e tornou Lopes conhecido dentro e fora de São José dos Ausentes. Mas, assim como outros produtores da região, faltava um detalhe para que o agricultor pudesse comercializar o produto com tranquilidade e até mesmo expandir o negócio: a regulamentação.
Por esse motivo, a aprovação na quarta-feira do projeto de lei que legaliza o Queijo Artesanal Serrano animou Lopes e as 1,5 mil famílias que produzem o alimento em 16 municípios da região. Basta apenas a sanção do governador José Ivo Sartori para que os queijeiros tenham condições de legalizar a produção, buscar recursos para ampliar ou abrir pequenas fábricas e enfrentar a concorrência.
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Pelo projeto de autoria do deputado estadual Vinicius Ribeiro (PDT), só pode ser considerado Queijo Artesanal Serrano aquele produzido nas cidades dos Campos de Cima da Serra, cuja delimitação geográfica inclui parte do interior de Caxias do Sul (ver lista ao lado).
Produzido há mais de 200 anos na região, a iguaria é 100% artesanal, concebida a partir do leite de vacas de corte, alimentadas com pastos nativos. A venda do produto é significativa: ocorre em mercados, padarias e até mesmo na beira de estradas. O reconhecimento pela lei não apenas legaliza essas pequenas queijarias como abre caminho para a implantação de métodos mais modernos de higiene e armazenamento.
– Essa lei vai favorecer o pequeno produtor. Faz mais de 10 anos que estamos lutando para regulamentar. Agora, vai poder ser reconhecido em todo o Brasil como um queijo daqui, da nossa região – comemora Lopes, que fabrica de quatro a cinco quilos por dia na propriedade que mantém em Rincão Comprido, em Ausentes. Ele também preside uma associação de produtores de São José dos Ausentes.
A alegria de Lopes faz sentido: em 2000, um agricultor chegou a ser preso por vender queijo serrano sem licença. Agora, todos estão perto de fortalecer um negócio que não se aprende em faculdade, mas na lida campeira do dia a dia.
A projeção da Emater é legalizar 50 microqueijarias nos Campos de Cima da Serra até o final de 2017, sendo que 95% desses locais estão instalados em Caxias do Sul, Bom Jesus, Jaquirana, São Francisco de Paula e Ausentes.
O projeto de lei também dá mais embasamento para que a Emater prossiga na busca pelo selo de Indicação Geográfica, de acordo com a Lei de Propriedade Intelectual do INPI, e de um Certificado de Procedência junto ao Ministério da Agricultura (Mapa). São ações que definem padrões de qualidade na produção do Queijo Artesanal Serrano e abrem portas para negociações com outros países. Conforme a Emater, empresas de outras partes do Brasil vendem queijos como se fossem serranos, o que seria uma espécie de usurpação da tradição daqui.
– A lei foi feita para proteger essas famílias que produzem o queijo serrano. Tem falsificação de produtos. Com a indicação geográfica e a certificação, teremos um selo que não tem como ser adulterado. Quem comprar, vai saber que o queijo é realmente produzido nos Campos de Cima da Serra e com a qualidade que só é caraterística daqui – enfatiza o médico veterinário João da Luz, responsável pelo Programa Estadual do Queijo Serrano da Emater.