Um avião 737 da Gol que saiu de Caxias do Sul rumo a São Paulo, mas que foi obrigado a pousar em Porto Alegre, mostra que o Aeroporto Regional Hugo Cantergiani não está livre da colisão entre pássaros e aeronaves, o chamado bird strike, a exemplo do que ocorre nos grandes aeródromos do Brasil.
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O incidente ocorreu na noite de sexta-feira. Embora a Gol ainda não tenha emitido relatório confirmando as causas do pouso de precaução, passageiros relataram em redes sociais que uma ave entrou numa turbina ainda na decolagem. Logo em seguida, o comandante do 737 pediu autorização para descer no Aeroporto Salgado Filho. Quinze minutos depois, o avião aterrissou na Capital sem maiores consequências. Os cerca de 100 passageiros foram transferidos para outra aeronave e seguiram para São Paulo. O 737 deveria ter saído de Caxias às 19h10min de sexta, mas chegou atrasado na cidade e só decolou por volta das 21h.
Incidentes envolvendo aves não são incomuns em Caxias do Sul. Relatórios de pilotos ao Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontam 19 ocorrências desde abril de 2011 durante o pouso, a decolagem ou a aproximação com a pista de Caxias. Desse total, sete foram colisões contra aviões de grande porte operados pela Azul e pela Gol, e outras seis envolveram aeronaves menores como jatinhos e monomotores. As demais ocorrências se referem a quase colisões ou avistamentos de aves na pista ou no trajeto do voo. A maioria provocou danos na fuselagem ou em outras partes do avião, sem alterar o voo. Conforme o Cenipa, em janeiro de 2012, um bird strike forçou uma manobra de precaução da Azul em Porto Alegre.
Para o administrador do aeroporto, Marcos Arguelles, o procedimento de pouso em Porto Alegre na última sexta-feira não seria algo extraordinário.
– O piloto percebeu a uma vibração num motor, que pode ter ocorrido por várias causas. Ele sentiu esse problema ainda na subida e realizou o pouso técnico para checagem. Não houve pânico. Não posso afirmar que foram pássaros, não recebemos o relatório, mas isso ocorre com frequência em vários aeroportos pelo país – diz Arguelles.
De acordo com o Cenipa, Porto Alegre registrou 120 incidentes neste ano. Caxias, por sua vez, teve quatro ocorrências, sem contar o caso do voo da Gol de sexta-feira.Segundo relatórios do Cenipa, os incidentes no Hugo Cantergiani desde 2011 foram causados por urubus, andorinhas e quero-queros.]
– Dependendo do horário e em dias quentes, há muitos pássaros no caminho, mas isso é variável – conta Evandro Miotte, instrutor de voo do Aeroclube de Caxias do Sul.
Marcos Arguelles explica que a primavera é um período instável para a proliferação de pássaros na pista, nas cabeceiras ou na área verde do entorno. Por esse motivo, três vezes ao dia, os funcionários fazem uma contagem de aves na área. A quantidade varia no decorrer do dia.
– Estamos intensificando esse trabalho, mas está sob controle, dentro do que se espera na primavera. Mas ressalto que não se compara com outras pistas do país – argumenta o administrador.
A reportagem não conseguiu contatar representantes da Gol para falar sobre o incidente em Caxias.
NÚMEROS
Confira os incidentes envolvendo aviões e pássaros no Aeroporto Hugo Cantergiani, segundo o Cenipa:
2011:
1 colisão com avião de pequeno porte
2012:
2 colisões com aviões da Azul
3 avistamentos de aves
2013:
3 colisões com aviões da Azul
1 avistamento de aves
1 quase colisão
2014:
1 colisão com avião da Azul
2 colisões com um jatinho e um avião de pequeno
2015:
1 colisão com avião de pequeno porte
2016*:
1 colisão com avião da Gol
2 colisões com aviões de pequeno porte
1 quase colisão
*até março