Como manter o otimismo e a perseverança quando o cenário não colabora para isso? Os números que a crise econômica desenha no país vão além de índices de desemprego: transformam ambientes de trabalho mais difíceis de convívio, despertam sentimentos de insatisfação que já estavam ali, esperando para serem explorados, e vem à tona em momentos de dificuldades.
As percepções são do filósofo, teológo e psicólogo Jorge Trevisol, que palestrará na noite da quarta-feira no Colégio São José, em Caxias, convidado pelo projeto Mão Amiga. Natural de Boa Vista do Sul, ele trabalha com correntes terapêuticas em grupos, além de palestrar em todo Estado, falando da necessidade do desapego ao materialismo e de conhecer-se melhor. O tema do encontro é Motivações para superar os desafios diários, e acontece a partir das 19h30min. Ingressos estarão disponíveis a R$ 25. A renda será toda revertida ao projeto Mão Amiga.
A reflexão que você fará hoje, em Caxias, é relacionada diretamente com as sensações provocadas pela crise?
Não somente, mas sobre esta época que a humanidade vive, em geral. Sobre a importância de perceber o quanto as pessoas, nessa época, vivem em qualquer lugar, mas menos em si mesmas. Isto gera falta de motivação, raiva, depressão, bipolaridade. É um câncer generalizado. As pessoas seguem os ensinamentos da sociedade em apostar no ego. Em ter um nome, uma profissão, dinheiro. Mas o ego não existe, só existe o eu. A tristeza das pessoas, a raiva, a imoralidade e a falta de ética são resultados de um tempo em que corremos tanto para colher tão pouco. A crise é um símbolo para que todos os desconfortos internos aflorem. Porque o que nos dava suporte, o dinheiro, agora é difícil de conseguir.
O quanto manter o pensamento positivo se faz necessário?
Esta coisa motivacional do pensamento positivo não funciona muito. Pensa-se positivo, mas sente-se o negativo. E entre o pensamento e o sentimento, prevalece o sentimento. Se eu estou passando por uma situação triste, preciso chorar, ficar perto da minha tristeza. O que é preciso é evitar recordar lembranças negativas dentro de si, e passar a se conectar com pessoas boas, lugares com vida, fazer escolhas atentas. Se estou atenta, sei o que quero ou não. Por que eu quero comer tanto e não me sacio? Por que eu preciso me divertir tanto e nunca estou contente? É porque na verdade não é isso, tenho que buscar outra fome, outra sede, que é muito anterior a isso tudo.
O que sacia essa fome?
O nosso espírito precisa se alimentar de significados, dar sentido às coisas que acontecem. Se não, passo dias com incógnitas, porque estou longe de mim. Tenha tempo para se retirar das coisas tradicionais. Tem que ter coragem para ser esquisito: evitar fazer coisas que as pessoas fazem para serem normais. Se hoje é domingo e eu quero ficar em casa, qual é o problema? E escolher não ir à praia? Ah, mas todos vão dizer que eu não tenho dinheiro, que sou fechado. As pessoas têm medo de romper com padrões coletivos. Em outras palavras, não escutam a própria alma, só a sociedade.
Falta reflexão, então?
No fundo, as pessoas não precisam pensar muito. Vá caminhar na beira da praia, na beira do rio, brincar com os bichos, visitar uma pessoa querida que você tem saudade. Os mais jovens vão para balada e os mais velhos querem dormir no fim de semana. A maioria encontra um jeito para fugir de si, dos problemas. Desta náusea social. Fazer terapia não é luxo, é recomendado. Observe você mesmo, caminhe sem fone de ouvido, olhe para os outros.