A comunidade que viu Caxias do Sul crescer e se desenvolver ao redor de si está em festa. São 140 anos da chegada dos primeiros imigrantes à localidade de São Romédio, primeiro núcleo social da cidade e berço de famílias que não perdem o vínculo com o pedaço de solo italiano que resiste à modernização da área central, em pleno bairro Panazzolo.
Para conhecer a história de São Romédio, basta um dedo de prosa com qualquer um de seus septua, octa ou nonagenários moradores. São a memória viva de antepassados que com as próprias mãos ergueram moinhos, fábricas, cantinas e centros religiosos.
São Romédio, talian e as origens de Caxias do Sul
Vasco Fedrizzi, 88 anos, é fonte inesgotável das muitas histórias da formação de São Romédio. É dos poucos a saber, por exemplo, que a pedra fundamental da igreja, inaugurada em 1933 patrimônio histórico do Estado desde 2006, tem em seu interior uma garrafa com uma mensagem enrolada, onde constam os nomes da diretoria da Sociedade Igreja de São Romédio da época e do padre Orestes Valletta, que rezou a primeira missa. Vasco, ainda menino, espiou a garrafa ser depositada e depois concretada.
Na época, a sociedade era presidida por seu pai, Antonio Fedrizzi. O próprio Vasco também esteve à frente nos anos 50, e lembra com orgulho do esforço que liderou para a comunidade adquirir o terreno que hoje é a parte verde da Praça do Imigrante, área que compreende a igreja e seu entorno.
- Quando soubemos que o terreno iria à venda, na mesma noite eu e meu irmão saímos de Fusca para negociar com a dona. O preço era 140 mil contos de réis, e a comunidade se uniu para comprar, fazendo rifas, almoços, festas - conta.
Mais antigas ainda são as memórias que Vasco guarda da segunda das três igrejas que São Romédio já teve, e que deu lugar a atual. Não apenas foi onde ele e a criançada aprenderam valores religiosos, mas também onde costumavam brincar. Era um tempo em que a infância se dava toda no seio da comunidade:
- Eu e meus amigos gostávamos de correr entre os bancos da igreja, se esconder atrás do altar. Porque não tinha isso de ir para a praça ou qualquer outro lugar. A nossa vida era brincar, estudar e ajudar os pais no trabalho, tudo em São Romédio.
Lembranças de São Romédio da Quinta Légua
Uma casa rodeada por memórias
Em uma das diversas ruas que levam o nome de personagens históricos de São Romédio, a aposentada Mafalda Tessari, 81 anos, mora em meio à lembranças da infância vivida entre algumas das primeiras famílias de Caxias. Caminhando pelo pátio, aponta para onde ficavam os parreiras da família, os moinhos e a escola onde veio ao mundo.
Ela nasceu na própria escola da comunidade, à época que a mãe era professora e a família morava na casa de madeira, que tinha uma única sala de aula.
Quando Mafalda tinha poucos anos de vida, a família mudou para outro bairro, mas a mãe continuou a dar aula em São Romédio, muito graças à solidariedade dos agricultores que se revezavam para cuidar da menina.
- Às vezes passava um mês na casa dos Pedron, um mês na casa dos Fedrizzi...lembro de andar muito de carreta pelas colônias e de ir até uma fonte que tinha bem pertinho da igreja - recorda.
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Imigração
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