Em 1º de janeiro de 2015, após amealhar 54,5 milhões de votos, Dilma Rousseff (PT) foi empossada para seu segundo mandato como presidente da República. Foi festejada por parlamentares e declarou representar "um projeto de nação que é detentor do mais profundo e duradouro apoio popular de nossa história democrática". Terminava ali, para Dilma, a parte boa do ano.
O resto de 2015 foi ladeira abaixo. O governo paralisou, o país entrou em recessão, a aprovação da presidente despencou a níveis ridículos. Dilma passou o ano sob a ameaça de ser destituída da Presidência, por conta da corrupção na Petrobras, das pedaladas fiscais, da rejeição popular, das maquinações de Eduardo Cunha, da reabertura, pelo TSE, da ação do PSDB que pede a impugnação da candidatura da petista nas eleições de 2014.
O impeachment de um presidente é, em larga medida, uma questão política. Depende, primordialmente, de que dois terços do Congresso decidam defenestrar o mandatário. Ironicamente, medidas contra a corrupção tomadas por Dilma podem ter colaborado para abrir portas a essa condição. Ao demitir ministros supostamente envolvidos em falcatruas, ela se indispôs com vários partidos aliados. Outro fator fundamental para o presidente cair é a rejeição popular - expressiva, a julgar pelas pesquisas de opinião. Mas falta outro elemento: um bom pretexto. O presidente precisa ter feito algo que possa ser enquadrado como crime de responsabilidade.
O pretexto acabou se materializando na forma das chamadas pedaladas fiscais, manobra financeira para fechar as contas ao final de cada ano. Diferentes antecessores recorreram à prática, mas Dilma teria levado o expediente a patamar inédito. Em outubro, o Tribunal de Contas da União resolveu recomendar a reprovação das contas da presidente.
Com todos esses ingredientes reunidos, a bomba estava armada. Faltava só a fagulha para acender o pavio: Eduardo Cunha. Cada vez mais envolvido em denúncias de corrupção, o presidente da Câmara resolveu virar líder da oposição - talvez para surfar na onda anti-Dilma e, assim, salvar a própria pele. Em dezembro, ele determinou a abertura do processo de impeachment em rito, mais tarde, derrubado pelo Supremo Tribunal Federal.
Legou, para 2016, a grande questão: Dilma cai ou não cai?
Em Caxias do Sul
O governo Alceu Barbosa Velho (PDT), naturalmente, foi alvo de adversários, porém esteve respaldado pela maioria esmagadora de sua base no Legislativo. Algumas declarações de Alceu, que em determinadas situações surgem como enfrentamento aos críticos, colocaram mais combustível em polêmicas. Uma delas ficará eternizada: "As viuvinhas da Praça Dante". A referência foi aos que contestam a mudança da Feira do Livro para a Estação.
Entre os temas administrativos que tiveram reflexos políticos estiveram as obras do SIM Caxias. O vereador petista Rodrigo Beltrão denunciou suposto beneficiamento do município a empreiteiras, levando o assunto ao Ministério Público Federal.
A utilização de uma caminhonete Mitsubishi Pajero Dakar pelo prefeito, comprada pelo Samae em 2014 ao preço de R$ 160 mil, também deu o que falar. O Ministério Público ajuizou ação na Justiça contra o diretor-presidente do Samae, Elói Frizzo (PSB). O inquérito contra o prefeito foi arquivado.
O episódio mais marcante da administração em 2014 - a recusa do vice-prefeito Antonio Feldmann (PMDB) em assumir a chefia do Executivo nas férias do prefeito para não se tornar inelegível - teve desdobramento em setembro deste ano. A Justiça condenou, em primeira instância, o vice e o município a pagarem multa de R$ 5 mil por dia, referente ao período de 2 a 16 de abril de 2014. Há recurso tramitando.
A reposição inflacionária de 5,26% para o prefeito, vice e secretariado, correspondente a 2014, foi alvo de forte discussão. Os governistas insistiram em aprovar o reajuste e acabaram jogando um abacaxi no colo do prefeito frente à repercussão negativa. Alceu vetou o reajuste. Apesar da medida acertada, ficou no ar a hipótese de jogada política.
Também foi registrado um dia de paralisação dos servidores municipais, em agosto, com tensão no Legislativo. Os manifestantes lotaram a Câmara pedindo respeito à categoria e equiparação salarial entre cargos. Houve tumulto com invasão do plenário e o fim antecipado da sessão.
Em relação às eleições municipais, Alceu passou o ano fazendo suspense sobre sua candidatura à reeleição. Ele declarou, porém, que defende a manutenção do PDT na cabeça de chapa e PMDB de vice.
Dois nomes foram declarados pré-candidatos a prefeito: o vereador Daniel Guerra, pelo PRB, e o servidor público aposentado Francisco Corrêa, pelo PSOL. O retorno do empresário Ovídio Deitos ao PP passou a alimentar a possibilidade de o partido concorrer em faixa própria.
Parcelamento
O parcelamento do salário do funcionalismo gaúcho acabou sendo o principal assunto do primeiro ano do mandato do governador José Ivo Sartori (PMDB). Os servidores públicos passaram 2015 com um olho na carteira e outro no calendário. O parcelamento transtornou a vida de quem viu seus ganhos fatiados e levou a uma série de protestos que atingiu serviços como educação, transporte, segurança e acabou por alterar o cotidiano de milhões de gaúchos.
Funcionários públicos já haviam enfrentado as agruras de um parcelamento durante o governo Yeda Crusius (PSDB), em 2007. Mas a gravidade da crise financeira do Estado em 2015 levou a convocação de paralisações, bloqueios de rodovias no interior, piquetes diante de unidades da Brigada Militar e boatos sobre arrastões e suspensão de circulação de ônibus na Capital em razão da falta de segurança.
O problema é o de sempre: o Estado gasta mais do que arrecada. O Rio Grande do Sul chega ao final de 2015 com um rombo de, pelo menos, R$ 2 bilhões.
Lava-Jato
A apuração de irregularidades realizada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal na Operação Lava-Jato teve início ainda em 2014, quando o doleiro Alberto Youssef foi detido por envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro, mas foi no ano seguinte que a força-tarefa de policiais e procuradores se aprofundou e ganhou força suficiente para estremecer pilares políticos e empresariais até então intocados no Brasil.
Em 19 de junho, a PF prendeu os presidentes das empreiteiras Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, e da Odebrecht, Marcelo Odebrecht - dono da nona maior fortuna do país, avaliada em R$ 13 bilhões pela revista Forbes, e criado desde pequeno para assumir o comando do império familiar.
A Lava-Jato alcançava, assim, um novo patamar na escala de prisões retumbantes que já havia levado para a cadeia, em 2015, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Quando a operação parecia perder fôlego, o cumprimento de novos mandados mais uma vez surpreendeu o país.
Na manhã de 25 de novembro, foram detidos o senador Delcídio Amaral (PT) e o dono do banco BTG Pactual, André Esteves. A ação foi revestida de um caráter simbólico significativo: pela primeira vez no período democrático atual, um senador da República foi preso no exercício do mandato. Esteves, por sua vez, é um dos mais influentes e conhecidos banqueiros brasileiros.
Às prisões, se somaram dezenas de outros mandados e condenações. No mais recente balanço do Ministério Público Federal, divulgado em dezembro, a Lava-Jato já contabilizava 396 buscas e apreensões, 119 mandados de prisão, 36 acusações criminais contra 179 pessoas e 80 condenações que, juntas, somam 783 anos de pena. Os crimes denunciados no âmbito da operação totalizam o pagamento de pelo menos R$ 6,4 bilhões em propinas, dos quais R$ 2,8 bilhões já foram recuperados.
Produtividade questionada
Com uma pauta geralmente fraca quanto aos projetos levados à votação na Câmara de Vereadores, o ano na política em Caxias foi marcado por extensos debates e repercussão nas redes sociais, provocados especialmente por moções de apoio ou de contrariedade a diversos temas. Ficaram claras as disputas político-eleitorais, passando pelos governos municipal, estadual e federal, mirando a eleição de 2016. O presidente Flavio Cassina (PTB) chegou a fazer um pronunciamento em tom de desabafo, falando da baixa produtividade. Também foi alvo de críticas pela falta de projetos em apreciação.
Houve um ensaio para tentar aumentar e para reduzir o número de vereadores. Henrique Silva (PCdoB) cogitava passar de 23 para 25. Já Daniel Guerra (PRB) visava à redução para 17. As ideias não evoluíram.
A intenção de reduzir o salário dos parlamentares caxienses, defendida pelos vereadores do PRB (Renato Nunes e Daniel Guerra), que não vingou na Câmara, motivou o lançamento de um abaixo-assinado. A proposta é tentar diminuir o valor em 40% por meio de projeto de lei de iniciativa popular. A coleta de assinaturas prossegue.
A bancada do PT perdeu um vereador (Kiko Girardi), fazendo surgir o PSD no Legislativo. A sigla integra o governo Alceu. O mandato de Kiko é reivindicado pelo PT no TRE.
Caxias, que elegeu apenas um deputado federal e nenhum estadual em 2014, aumentou a representação em Brasília e passou a contar com uma cadeira na Assembleia Legislativa.
O ex-prefeito Pepe Vargas (PT), reeleito deputado federal, começou o ano prestigiado pelo governo Dilma Rousseff (PT), ocupando um posto-chave na articulação política como ministro da Secretaria Especial de Relações Institucionais. Desgastado pelos confrontos com o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) na eleição para a presidência para a Câmara dos Deputados, deixou o cargo em abril. Ele permaneceu no governo com o status de ministro na pasta dos Direitos Humanos. Em outubro, com a reforma ministerial, assumiu na Câmara. Mauro Pereira (PMDB), segundo suplente de deputado federal, obteve aprovação de licença da Câmara de Vereadores e assumiu em Brasília, devido à composição do secretariado de José Ivo Sartori. No final do ano, Vinicius Ribeiro se tornou primeiro suplente e assumiu cadeira na Assembleia Legislativa.
Pérolas, acusações e desabafos
:: "As viuvinhas da Praça Dante não se preocupem que a Praça Dante continua bonita, prestigiada." (Alceu Barbosa Velho, PDT)
:: "Ame Caxias ou caia fora." (Jaison Barbosa, PDT)
:: "Às vezes, a gente fica com vergonha de ser vereador." (Kiko Girardi, PSD)
:: "Tem vereador aqui que é corrupto." (Renato Nunes, PRB)
:: "Tenho me controlado, aguentando no osso, não sei até quando." (Flavio Cassina, PTB)
:: "Isso aqui é um filme de horror, sessão pastelão, programa de humor. Tem vereadores que não são vereadores, são personagens, intérpretes." (Flavio Cassina, PTB)
:: "Achei que ouvia um discurso do nosso colega vereador (Guila Sebben, PP), mas vi um ventríloquo do deputado fascista, neonazista, Van Hattem." (Rodrigo Beltrão, PT)
:: "Prefeito marqueteiro, com aquele discurso próprio de político, que quer enganar apenas seus puxa-sacos e a sua corte." (Daniel Guerra, PRB)
:: "O PP deveria colocar os cargos à disposição do governador (José Ivo Sartori, PMDB) e sair desse governo. Porque governo que faz esse tipo de manobra para aprovar pacote de aumento de impostos, nós não deveríamos participar. Eu me envergonho de fazer parte deste governo." (Guila Sebben, PP)
Fim do ano
Retrospectiva 2015: os fatos que marcaram a política
Relembre momentos em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul e no país
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